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09/12/2009 - 11:39

Surdez provocada por ruído no trabalho pode ser irreversível


Ruídos e surdez não são preocupações recentes na história humana – Júlio César já havia proibido, um século antes de Cristo, a passagem de veículos à noite pelas ruas de Roma, para que não perturbassem o sono dos seus cidadãos. Nesse fim de século, o assunto volta a ordem do dia. Mas não por causa da poluição sonora das grandes cidades, apenas a ponta aparente de um iceberg muito mais prejudicial: o ruído industrial.

Na Europa e Estados Unidos, as leis são claras. Nenhuma fábrica pode ter decibéis (db) acima de 85. Quando esses níveis forem superados, os trabalhadores deverão ser informados e ter protetores auriculares a disposição. Se o ruído chegar aos 90 db, devem ser tomadas medidas técnicas para diminuí-lo e o uso dos protetores de ouvido será obrigatório. Os protetores são especialmente disseminados nos Estados Unidos, onde existem centenas de tipos.

Lesão irreversível – No Rio, o especialista Cláudio Coelho, membro da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia e professor Universitário, estudou vários operários ao longo dos anos e constatou um problema da perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR), sendo a lesão dos elementos nervosos do ouvido interno permanente e irreversível, que ocorre ao longo dos anos e meses de exposição. A perda de audição também pode ocorrer subitamente, chamada de trauma acústico. Mas o pior acrescenta o médico, é que o ruído causa uma série de distúrbios físicos e psíquicos que extrapolam a surdez.

Segundo INSS, entre os operários que apresentaram problemas auditivos nos últimos dois anos em exposição ao ruído, 15 apresentaram – na freqüência de 4 mil hertz – perda auditiva de 30db. Sete tiveram perda de 40db, seis de 45 db, outros seis de 50 db, três de 65 db e três de 75 db.

Algumas profissões são mais gritantes com problemas de traumas acústicos como acontece em pista dos Aeroportos, onde a exposição vai até 117 decibéis “ a sensação é como se a cabeça fosse explodir”, afirma Coelho.

A proteção auricular não basta nessa situação extrema, pois a transmissão da onda sonora se dá também através da caixa craniana e todo o corpo. À medida que aumentam os decibéis, diminui a capacidade do ouvido humano de suportá-los. Se o ruído de 85 db pode ser aceito durante oito horas, sem lesão, o tempo diminui para 4h com 90 db; para uma hora com 100 db; e para apenas sete minutos com 115 db (nível de barulho encontrado, por exemplo, em serralherias). É por isso que um cruzamento cheio de buzinas é muito menos prejudicial que uma fábrica ruidosa, exceto que ali fiquem o dia inteiro.

Prejuízos sociais – De acordo com o especialista, a legislação brasileira sobre o assunto, de 1976, é falha quanto ao diagnóstico da lesão e superficial no pedido dos exames capazes de avaliar a perda auditiva. A lei prevê a audiometria (medição da audição através de um aparelho) nas freqüências de 500, 1000 e 2 mil hertz. O problema, diz o médico, é que a freqüência afetada primeiro é a de 4 mil.

É difícil estimar quantas pessoas são diretamente atingidas no Brasil pelo ruído industrial. “As reclamações costumam ser poucas, porque a surdez não traz prejuízos imediatos”, afirma o especialista. Para ele, as pessoas só percebem quando o estágio está avançado.

Efeito não é apenas surdez – Assim como reage ao frio ou ao calor, o organismo reage ao ruído. O aparelho auditivo atua a partir da captação de estímulos sonoros, conduzidos até o tímpano, que vibra. Uma cadeira de três pequenos ossos transmite as vibrações, amplificadas, à membrana de um orifício chamadas janela oval, que comunica o ouvido médio com o interno. Este tem uma forma complexa, iniciada com o vestíbulo, que se prolonga para baixo com a cóclea, em forma de caracol. É aí que se transformam em impulsos nervosos os estímulos sonoros transmitidos ao cérebro: nos casos de trauma acústico, é essa à parte do ouvido atingida. Quanto mais brusco o aumento da intensidade do som, menos funciona o dispositivo protetor que atenua a eficácia da transmissão.

As reações aos ruídos variam, mas os homens são mais suscetíveis, provavelmente por fatores endócrinos, segundo o médico Cláudio Coelho. A convicção generalizada é de que os idosos vão perdendo progressivamente a audição, porém um operário jovem submetido a ruído intenso, pode acabar mais prejudicado. Podem ainda haver fatores que se superpõem – é o caso de pessoas que moram e trabalham nas proximidades do aeroporto.

As mudanças fisiológicas podem ser variadas, atingindo as diversas áreas como: cardiovasculares, respiratórias, neurológicas e psicológicas. A vaso-constrição periférica aumenta o fluxo sangüíneo cerebral e pode levar à diminuição da atividade masculina, por falta de irrigação sangüínea na região do pênis.

A estimulação glandular endócrina provoca modificações químicas no sangue e na urina, como alteração do ácido úrico e uréia. O colesterol se eleva e o sangue fica menos fluido, o que pode levar à formação de trombos. Também acontecem pequenas alterações da musculatura esquelética. A mudança na motilidade gastrointestinal é outra conseqüência possível do ruído: acontecem úlceras gastrointestinal, prisão de ventre e distúrbios digestivos.

Também há interferência do ruído no perfil do trabalhador como os de indústria navais, têxtil e de maquinaria pesada: Alguns dos sintomas são inquietude, fadiga, mal-estar, irritação, intolerância configurando aquela personalidade que parece prestes a explodir diante de qualquer contrariedade. Isso adverte Cláudio, pode ter efeito até na produção de acidentes.

. Por: Dr. Cláudio Coelho (Otorrinolaringologista, membro da Sociedade Brasileira de otorrinolaringologia e professor).

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