Sistema interno de sugestões da Brasilata completa 20 anos e se torna referência em inovação no mercado brasileiro

Projeto Simplificação atingiu recorde de 105 mil idéias em 2006

Situada entre os maiores fabricantes de latas de aço do país, com três plantas industriais — em São Paulo, Goiás e Rio Grande do Sul — e 900 funcionários, a Brasilata comprova que uma empresa brasileira de um setor maduro pode ser uma organização inovadora que atrai a atenção de profissionais e estudantes. Classificada por três anos (2000, 2001 e 2004) pela revista Exame como uma das 100 melhores empresas para se trabalhar no Brasil, a Brasilata é um caso empresarial estudado pelo Fórum Inovação da FGV – SP, cuja análise consta do livro Organizações Inovadoras – estudos e casos brasileiros, da FGV Editora, organizado por José Carlos Barbieri.

Com base na adoção das técnicas gerenciais japonesas em 1985, a Brasilata deu início a um processo de gestão participativa e criou, em 1987, o programa interno de sugestões Projeto Simplificação, inspirado nas práticas da Toyota, companhia japonesa líder mundial em inovação. Ao final de 2006, o Simplificação totalizou 105 mil idéias, que significam a média de 121 idéias por funcionário/ano, resultado muito superior à média atual das empresas líderes nesse processo no Japão. Para implantar, em 1985, o sistema Kanban (just in time), conceito em que a produção deveria fluir com estoques mínimos, era fundamental gerar o envolvimento e a participação dos operadores, integrando todas as áreas. Assim todos os funcionários, da base à cúpula, foram treinados em curto espaço de tempo.

Nesse contexto, nasceu em 1987 o programa interno de sugestões, o Projeto Simplificação, que surgiu da necessidade de se criar mais um canal de comunicação entre os funcionários, a administração e as chefias. O novo estilo de administração da Brasilata estabeleceu políticas como a de relacionamento a longo prazo com stakeholders (acionistas, funcionários, clientes e fornecedores) e o compromisso de não-demissão. Dessa forma, os funcionários passaram a contar com uma rede de apoio para apresentar idéias, aumentar níveis de produtividade e melhorar as condições de segurança no trabalho. Além disso, a Brasilata implantou em 1991, quatro anos antes de ser obrigatório por lei, o programa de PLR – Participação nos Lucros e Resultados.

Os desafios lançados pelo Projeto Simplificação resultaram em soluções notáveis como ocorreu em meados de 2001, diante da crise do “apagão” na energia elétrica. Centenas de idéias foram apresentadas e daí surgiram soluções permanentes, como a substituição dos chuveiros elétricos por sistema de aquecimento a gás natural. Em poucas semanas, a empresa conseguiu a redução de 35% do consumo de energia, permitindo que ela vendesse no mercado as sobras da quota de energia elétrica. No âmbito da inovação em produtos, o Projeto Simplificação trouxe idéias que resultaram na criação de fechamentos exclusivos nas latas e baldes para produtos químicos e também na linha para produtos alimentícios. Os fechamentos Plus e Biplus, patenteados no exterior e hoje exportados para México e Itália, são resultados do meio inovador onde as idéias são incentivadas e reconhecidas.

Gestão do conhecimento - Os 900 funcionários das três unidades fabris – São Paulo (SP), Estrela (RS) e Rio Verde (GO), contratados como inventores, dispõem de um sistema on line para apresentar idéias e conferir o andamento das sugestões. Para auxiliar as atividades da equipe de coordenação do Projeto e dar transparência às suas decisões, foi desenvolvido, em 2001, o software PSimp, orçado em US$ 200 mil, que hoje opera em sua 6a. versão. O acesso ao sistema é livre para qualquer funcionário, que pode navegar por suas telas para verificar o status das suas idéias; para enviar idéias à equipe e para obter totalizações das idéias por área ou por unidade.

Estão disponíveis 300 computadores para os 900 funcionários da Brasilata. Para facilitar o uso do programa e promover a inclusão digital do pessoal, foram criados os cibercafés, espaços anexos aos refeitórios, dotados de computadores para uso coletivo dos funcionários, que podem utilizá-los fora do horário de trabalho para qualquer assunto como navegar na internet ou fazer trabalhos escolares.

Assim que uma idéia chega à equipe do Projeto Simplificação pelo sistema on line ou pela coleta nas caixas espalhadas em cada uma das três unidades fabris da Brasilata, ela passa por um exame formal de validação para verificar se a sugestão está completa. Validada a sugestão, a equipe distribui ao avaliador no prazo de dois dias. Quem avalia é coordenador da área onde a idéia se aplica, com prazo máximo de sete dias para concluir a avaliação. Os critérios para a aprovação das idéias são: aplicabilidade e relação custo-benefício.

“A rapidez na resposta ao inventor e a agilidade na execução das idéias aprovadas são fatores essenciais para estimular o surgimento de novas idéias, somada à celebração, quando as equipes de inventores são premiadas em festas abertas a participação de todos os funcionários, em cada unidade”, afirma Antonio Carlos Teixeira Álvares, Diretor-Superintendente da Brasilata, e também professor do Departamento de Produção da EAESP-FGV.

Referência em inovação - Os ganhos do Projeto Simplificação têm despertado a atenção de universidades e de empresas de diferentes setores. A Brasilata participa e tem sido um dos cases analisados pelo Fórum Inovação da FGV-SP, atraindo visitas técnicas por parte de diferentes organizações. Os visitantes vêm conferir como se dá a integração entre as áreas da empresa e o envolvimento dos funcionários com foco na melhoria dos processos e produtos. Esse sistema pode ser aplicado em empresas comerciais e de serviços como ferramenta indutora da inovação.

A partir do êxito do Projeto Simplificação que, ao completar 20 anos de existência, registra resultados similares aos melhores verificados no Japão e no mundo, surge agora uma nova unidade de negócios, a Brasilata Consulting que desenvolve e implementa programas internos de sugestões, voltados a ganhos de produtividade e à melhoria do clima organizacional.