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12/05/2007 - 10:07

Veículo de Tração Humana é tema de projeto de formatura da POLI/USP

Projeto POLI Cidadã incentiva alunos de graduação a desenvolver projetos de formatura com ênfase social. Na safra de 2006, soluções tecnológicas para melhorar a qualidade das carroças que transportam materiais recicláveis.

Agora os carroceiros que trafegam pelas ruas de São Paulo já podem contar com um projeto de carroça mais seguro, ágil e dimensionado para o trânsito paulistano. A iniciativa do aluno Rafael Antonio Bruno, que acaba de concluir o curso de Engenharia Mecânica pela POLI/USP, integra os mais de 20 projetos desenvolvidos em 2006 pelos alunos para o Poli Cidadã, programa que incentiva o aluno a realizar seu trabalho de conclusão de curso – ou projetos em disciplinas específicas – com o objetivo de colaborar com instituições que atendem portadores de deficiência física, população de baixa renda, setores da saúde, etc. Desde que foi implantado, em 2004, o Poli Cidadã já viabilizou a realização de mais de 80 projetos.

Veículo de Tração Humana - A paisagem urbana da cidade de São Paulo convive com personagens dos mais diferentes. Um deles chama-nos a atenção ora pela freqüência e carência, ora pela destreza de arrastar montanhas de papéis, metais e plásticos em carroças de aparência frágil e improvisadas: é o catador de sucatas. Segundo Rafael Antonio Bruno, a sugestão de trabalhar esse tema partiu do programa POLI Cidadã e a decisão mostrou-se acertada quando um colega da POLI relatou que havia socorrido um senhor de idade, carroceiro, que sofreu um acidente com a carroça em virtude de não ter conseguido controlá-la em uma rua íngreme e molhada. A fragilidade do veículo, a ausência de equipamentos de controle e segurança, entre outros fatores, motivaram Rafael a desenvolver o projeto VEículo de tração humana para coleta de resíduos recicláveiS, como trabalho de formatura do curso de Engenharia Mecânica.

“Nos grandes centros urbanos, mais do que a importância ambiental, esse tipo de atividade acabou desempenhando outras funções, como social e econômica, uma vez que muitas pessoas e famílias acabam encontrando nessa atividade uma forma de ocupação e fonte de renda”, contextualiza Rafael. “Meu objetivo foi desenvolver um veículo que facilitasse o trabalho dessas pessoas, reduzindo esforços físicos e proporcionando maior segurança durante sua utilização.”

Um mundo a transportar - Atualmente, cada brasileiro produz, em média, 800g de lixo por dia. De acordo com o projeto, no recenseamento do ano 2000, a população do município de São Paulo atingia o número de 10.434.252 habitantes. “Isso indica que, utilizando a taxa média de produção de lixo dos brasileiros, somente o município de São Paulo produziria cerca de 8 mil toneladas de lixo por dia! Sem dúvida, um grande problema ambiental e social”, avalia Rafael.

Ainda que apenas uma pequena fração dos resíduos seja reciclada, quando se trata de números absolutos esses valores ganham expressividade, principalmente quando se faz a relação do que isso significa em termos econômicos e sociais. Em seu projeto de pesquisa, Rafael Bruno apurou que, na Colômbia, cerca de 300 mil pessoas – isto é, 1% da população – vivam da recuperação de materiais recicláveis nas cidades. No México e no Egito, a população recicladora é ainda mais elevada em termos percentuais (2% do total nacional). Em Manila, Filipinas, cerca de 12 mil pessoas dependem diretamente da reciclagem. Em Beijing, aproximadamente 82 mil camponeses imigrantes trabalham como recicladores. Já no Brasil, o número aproximado de catadores gira em torno de 200 mil! “Essa é apenas uma estimativa, pois se trata de um segmento pouco organizado e muito informal”, acrescenta o autor do projeto.

Profissão: Catador - O mercado de sucatas brasileiro estrutura-se em torno de quatro níveis de negócios: catadores, pequenos e médios sucateiros e cooperativas, grandes sucateiros e os recicladores. Com relação aos catadores, identificou-se uma jornada de trabalho média de dez horas, o que gera uma remuneração de até R$ 450,00/mês. Para garantir esse provento, o catador marca presença em portas de escolas, redes de supermercados, escritórios, comércios, etc. São muitas as dificuldades desse tipo de atividade, como o sol intenso e a chuva forte, o trânsito nas ruas e avenidas, ou também, o roubo de carroças. “Muitos catadores, devido aos roubos, dormem nas carroças pelas ruas da cidade”, comenta Rafael.

Os dados para o projeto basearam-se em pesquisa com os recicladores, e levantamento de dados feito junto a Cooperativa de Catadores Autônomos de Papel, Aparas e Materiais Reaproveitáveis (COPAMARE), ao Comércio de Aparas de Papéis Alameda e a Cooperativa dos Catadores de Papel e Papelão (Corpel). Nessa pesquisa, Rafael identificou dois tipos de catadores: aqueles que atuam com veículo motorizado e os que se utilizam de veículos de tração humana (carroças), também conhecidos como carroceiros. De acordo com Rafael, existem os seguintes modelos de carroças: Modelo Carcaça de Geladeira; Modelos em Madeira; Modelos em Metal; Modelos Mistos. Outro dado relevante foi o peso, que varia bastante (entre 30 e 150kgf), com capacidade de carga entre 100 e 500kgf.

Para elaborar o projeto, Rafael se baseou em uma ampla pesquisa de rua e entrevistas. A partir delas, definiu seu desafio: desenvolver um veículo com dimensões adequadas, preparado para percorrer distâncias não muito longas (média de 10km/dia); minimizar ao máximo os esforços físicos realizados pelo condutor e prezar por sua integridade física. Para isso, seria necessário aprofundar os sistemas de rolagem, frenagem, compartimento de carga, amortecimento, interação condutor/veículo e dispositivos de segurança. A solução ainda deveria prever custo acessível, menor peso, maior praticidade no manuseio e dirigibilidade, facilidade de construção e de reparo, robustez no conjunto e cuidados de segurança e ergonomia.

Uma carroça mais “tecnológica” - O modelo de carroça elaborado por Rafael Bruno reúne: 3 Rodas (sendo um rodízio comercial na frente e 2 rodas de motocicleta coaxiais atrás); Freios de motocicleta; Compartimento de carga de estrutura tubular; Amortecimento com coxins; Tração através de barra horizontal e compartimento de carga posterior; Espelhos retrovisores, adesivos reflexivos e pisca-alerta. O protótipo passou por testes de carga (resistência), de estabilidade, eficiência do sistema de freio, esforço de tração e, claro, não faltou o test drive dos carroceiros.

Segundo Rafael, embora o protótipo tenha excedido em 45% o custo e em 10% o peso previstos, os demais parâmetros se mantiveram dentro dos limites propostos. “O objetivo do trabalho de conclusão de curso é fazer com que o aluno desenvolva uma metodologia de projeto e depois percorra cada uma das etapas propostas, identificando falhas e sugerindo soluções. O trabalho do Rafael buscou soluções tecnológicas e criativas para este segmento”, comenta o prof. Dr. Marcelo Massarani, orientador do trabalho.

Agora, Rafael espera encontrar empresas ou ONGs interessadas em colaborar na fabricação em série do veículo projetado.

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