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12/05/2007 - 10:11

Yukio Suzuki em exposição


Mostra de pinturas, desenhos, gravuras e colagens do artista japonês na comemoração dos 75 Anos da Corneta Ferramentas

A exposição vai até 5 de julho, de segunda a sexta-feira, entre 9h e 22h. noClub Transatlântico, Rua José Guerra, 130, Chácara Santo Antônio, São Paulo (SP). Telefone.: (11) 2133-8603). Gratuita

Admirado por críticos e colecionadores importantes, o pintor Yukio Suzuki foi um mestre das cores e das formas puras e precisas. Autor de uma obra vasta, eclética, esse artista raro deixou um trabalho que, como observou o crítico Casimiro Xavier de Mendonça, “harmoniza, num jogo sutil, inteligência e emoção”.

A exposição de cerca de 50 obras - entre pinturas, desenhos, gravuras e colagens - de Yukio Suzuki (1929-2004) recoloca em cena um artista cujo trabalho foi a projeção total de sua existência, “um exercício de aprimoramento do ser”, como disse outro estudioso, o crítico Jacob Klintowitz.

Outra obra de Suzuki ganha uma colocação especial: a enorme Maçã, uma escultura com 2,5 de altura criada para a 14ª. Bienal Internacional de São Paulo, em 1977, será colocada na entrada do clube. Yukio foi artista convidado dessa mostra e construiu a Maçã em resina e fibra de vidro servindo um dos temas da Bienal, Recuperação de Paisagem, como uma sugestão para embelezar alguns pontos da cidade.

A curadoria está a cargo das artistas Lila Papenburg e Sonia Bogaz, com a coordenação de Shoko Suzuki, viúva de Yukio, a grande ceramista em atividade no país.

Esse evento cultural é realizado pela Corneta S.A., na comemoração de seus 75 anos de existência no Brasil. Empresa cujo nome está ligado a qualidade e inovação desde sua origem na Alemanha, em 1786, a Corneta sempre esteve fortemente associada a grandes empresas alemãs instaladas em nosso país. No início dos anos 70, Fritz Berg, Presidente do Conselho, conheceu e se tornou amigo de Shoko e Yukio Suzuki, passando a admirar com mais profundidade a cultura japonesa que o fascinava desde a infância. Coincidentemente, na mesma década, a Corneta passou a atender importantes montadoras japonesas que chegavam ao Brasil e, por razões profissionais, visitou o Japão, onde percebeu uma série de conceitos que implantou na Corneta para fazer dela uma empresa melhor.

Apreciações : “...Suzuki usa os recursos adotados pelos realistas dos anos 70, com o vocabulário e a Maneira de pintar que desde a objetividade dos anos 60, reabilitaram a figura e os objetos do mundo do real. Em seu trabalho, os mesmos elementos servem para uma pintura que procura ir mais longe, com uma outra preocupação. É na exploração das sutilezas de objeto real e objeto virtual, das percepções de espaço e de tempo, que Suzuki realmente aprofunda a sua proposição. Afinal, é indagando do espaço e do tempo que o homem pode situar-se no Universo.” Casimiro Xavier de Mendonça.

“Teremos agora, a partir de 6 de outubro, a primeira mostra de Yukio Suzuki no Rio de Janeiro, na Galeria de Copacabana Palace, ampliando dessa maneira a divulgação de sua marcante presença, e submetendo parte de sua recente produção à atenção crìtica. Suzuki não deve ser visto como mais um japonês na praça, apesar de sua integração ao grupo Seibi, mas em sua grave experiência vanguardista, interprete do abstracionismo formal, do construtivismo e agora dedicado à problemática da pintura poliédrica, multidimensional. Traz, iniludivelmente, origens de sua cultura oriental, não como traços pitorescos apropriados para o gosto do consumidor ocidental, mas como essencialidade da abstração, da busca da forma mínima e pura, do jogo cromático harmônico, ambiental, que são atributos atávicos da estética de sua genuinidade.” Clarival do Prado Valladares

Yukio Suzuki - Nascido em Sendai, cidade do nordeste japonês, nunca aceitou ser outra coisa senão pintor. Aos 22 anos de idade teve seus trabalhos admitidos na Exposição de Arte Moderna do Jornal Kahoku, conhecida sede do vanguardismo nipônico, onde retornou dois anos depois, em 1950.

Esta distinção de validade crítica credenciou-o para a sua primeira exposição individual na Galeria Saegusa, de Tokyo, em 1952. Durante quatro anos, no período de 1958 a 1962, integrou as exposições do grupo de Sanki, caracterizando-o definitivamente na ponta de lança da modernidade de seu país de origem. No Brasil, chegou em 1962, ao lado da mulher, Shoko.v

Instalados em São Paulo, passaram a se dedicar às mesmas atividades que exerciam na terra natal: a pintura e o desenho de Yukio, as cerâmicas de Shoko. Yukio apareceu pela primeira vez na coletiva anual do grupo SEIBI de São Paulo, em 1965. Em 1967, participou da Bienal Internacional de São Paulo, o que repetiria em 1973 e 1977, nesta como convidado.

Desde o início de sua carreira no Brasil foram dezenas de individuais e coletivas em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Brasília, entre outras cidades, com presença constante nas principais galerias, salões e espaços culturais. Enquanto teve saúde, Yukio Suzuki manteve-se ativo, trabalhando muito, recebendo prêmios e distinções, sempre mantendo o silêncio e a discrição que o caracterizaram.

“Suzuki sempre gostou de trabalhar isolado e produzia muito, sem se interessar em vender os quadros”, diz Shoko. Em 1989, Yukio foi diagnosticado portador de Mal de Parkinson. Ele conviveria com a doença por muitos anos, vindo a falecer em 2004.

A crônica de um encontro, por Jacob Klintowitz - O velho pintor Yukio Suzuki está imóvel, sentado numa cadeira, de frente para a janela de seu atelier. Talvez haja um som delicado, mas ninguém o escuta. A luz do sol, filtrada pela janela, pousa assimetricamente no assoalho. É possível que a música, o raio solar e o pintor, como bons amigos, se encontrem todos os dias, mas é também provável que não existam diferenças entre a música, a luz e Yukio Suzuki e eles sejam um só ser.

Yukio Suzuki está diante de si mesmo, envolto em ritmos e reflexos dourados. É um pintor que não observa com os olhos, mas com um sentido interior que percebe nuanças de oculto significado. É a imagem aproximada, a memória destes símbolos, que o seu trabalho nos mostra.

Suzuki elabora no silêncio, no vazio, na unidade de sua relação com o mundo. O alvorecer da consciência.

O assunto, entendido como descrição, não é importante, mas sim o tema, a face de uma realidade intuída. Yukio Suzuki é um artista que registra o ser. O ser da árvore, da paisagem, da percepção. As imagens, conjuntos de objetos e atmosferas, verificam a unicidade. É o que o artista apresentou na história de sua vida. A crônica de um encontro.

Claude Monet e Yukio Suzuki fizeram obras com o mesmo intuito, mostrar que o objeto é um objeto de luz e se modifica a cada momento do dia. No caso de Yukio, além desta visão do mundo fluídico, existe a ambivalência de vários pontos de vista e, principalmente, de realidades superpostas, uma constante no seu trabalho. Igualmente foi constante o esboço de si mesmo, o contorno de um homem.

Eu me lembro de uma tarde, clara luz, e de 948 desenhos de Yukio Suzuki. O artista havia desenhado os mesmos objetos, do mesmo ângulo, em pequenos cartões. Havia começado no dia 2 de outubro de 1981 e o último desenho era de 1º de outubro de 1982. As diferenças entre eles eram alterações cromáticas, pois haviam sido realizados em horas diferentes do dia. Os matizes da incidência. Eu observava o percurso da luz na sensibilidade do artista e a sua total entrega à sensação cotidiana, a sua integração às variações da natureza. As alterações da vida.

A exata colocação dos elementos plásticos sempre conferiu à obra de Suzuki uma extraordinária clareza. Nada é vago ou tópico. Ao contrário, todas as coisas são únicas, idênticas a si mesmo e afirmam que não poderiam ser de outra maneira.

Yukio Suzuki foi unicamente pintor e o seu trabalho resultava na criação de uma pintura. A sua arte foi a projeção da sua existência e o exercício da pintura e do desenho uma maneira de aprimorar o seu ser. Perceber a si mesmo a cada vez, e expressar este sentir através do gesto. O registro de um momento da existência. A arte fez aflorar o espírito, a disciplina essencial do ser.

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