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22/12/2009 - 10:38

As perspectivas dos preços agrícolas em 2010

Após o plantio da safra de grãos 2009/2010, praticamente concluída, as atenções (e preocupações) voltamse para os preços no período de colheita e comercialização no primeiro semestre do próximo ano. Até agora as condições climáticas estão entre razoáveis/ favoráveis e, portanto, fica mantida a última previsão da CONAB de uma produção (em tonelagem) em 2010 maior que a de 2009, a despeito de uma área plantada praticamente constante. O arroz no Rio Grande do Sul parece ter sido prejudicado pelo excesso de chuvas.

Ainda que o setor de grãos seja importante no valor total da produção agrícola vegetal, pouco mais de 50% em 2009, é preciso analisar as perspectivas de preços para a outra metade da agricultura. Esta nota analisará as perspectivas para uma parte dessa outra metade, incluindo os produtos cotados em bolsas internacionais, a saber, café, suco de laranja, açúcar e cacau. Esses produtos e mais algodão, soja, trigo e milho constam de nosso acompanhamento diário desde 1989. Esses quatro produtos (não grãos) representaram quase 30% do valor da produção agrícola vegetal de 20 produtos em 2009, levantamento feito mensalmente por José Garcia Gasquez do Ministério da Agricultura.

Portanto, nossa análise compreenderá cerca de 80% do valor da produção agrícola brasileira em 2009. O principal grão não considerado é o arroz, produto menos transacionado internacionalmente. Entretanto, alguns comentários serão feitos ao final.

A Tabela 1 mostra os dados (preços) para nossa análise. Lembramos que o ano de 2008 foi inteiramente atípico em termos de preços de grãos no mercado internacional. A euforia do primeiro semestre, com preços extremamente elevados em comparação aos anos anteriores, foi interrompida com a crise financeira/econômica de setembro de 2008. Por essa razão, mostramos as médias do quarto trimestre de 2008, aparentemente o fundo do poço, com preços (em dólares) substancialmente menores para os oito produtos mostrados. É interessante notar que, mesmo nesse quarto trimestre de 2008, que chamamos de fundo do poço, os preços internacionais de soja, milho e trigo, os principais grãos utilizados nos vários programas de biocombustíveis, principalmente nos Estados Unidos e Europa, ainda ficaram bem acima das médias de 2003/2006. Em nosso entendimento, isso é explicado pela nova demanda por grãos para a produção de etanol e biodiesel. O açúcar (pelo álcool) também teve, nessa mesma comparação, preços maiores no quarto trimestre de 2008.

As estimativas são baseadas nos preços de 04 de dezembro nas referidas bolsas. No quarto trimestre de 2008, o Índice Total foi praticamente igual à média de 2007 e bem superior à média de 2003/2006 (valores nominais). Passada essa fase (quarto trimestre de 2008), os preços começaram a melhorar no primeiro semestre de 2009. Nesse período, os preços médios de todos os oito produtos foram maiores que os do crítico quarto trimestre de 2008.

A recuperação no segundo semestre de 2009 foi mais irregular. Ela continuou para algodão, café, suco de laranja, açúcar e cacau. De outro lado, não ocorreu nos casos de soja, trigo e milho. Apenas em novembro último os preços desses grãos, em bolsa, aproximaram-se das respectivas médias do primeiro semestre deste ano. Certamente, são muitas as variáveis, micro e macroeconômicas, que afetam os preços internacionais, a começar pela safra norte-americana de grãos, as condições climáticas, as demandas para consumo humano e para biocombustíveis, juros e câmbio. Disso resulta a importância da formação de preços futuros nas bolsas de Chicago e Nova York com suas imensas quantidades de operações diárias e fluxo de informações.

A última linha da Tabela 1 mostra, para cada um dos oito produtos, dois valores. O primeiro, sem parênteses, é a média prevista nas bolsas para os respectivos preços em dólares em 04 de dezembro último para o primeiro semestre de 2010. O segundo, entre parênteses, resulta da multiplicação desse primeiro preço pelo fator cambial de 0,80. Esse fator cambial representa a apreciação do real (valores abaixo de 1) ou a depreciação de nossa moeda (valores acima de 1) entre dois períodos. Em nosso caso, estamos trabalhando com uma apreciação do real de 20% entre o primeiro semestre de 2010 e o mesmo período de 2009 (fator cambial de 0,80). Em 04 de dezembro último o pregão da BMF/Bovespa previa uma taxa média de R$ 1,752/US$ para o primeiro semestre de 2010. Vale dizer que esse fator cambial é menor no primeiro trimestre de 2010 (significando maior apreciação) do que no segundo trimestre do próximo ano. Vamos, agora, às conclusões para 2010. Com uma apreciação média cambial prevista de 20%, os preços internacionais dos diversos produtos precisariam ser, em 2010, pelo menos 25% maiores que os do primeiro semestre de 2009. O preço FOB estimado em reais (Px. E) resulta da multiplicação do preço internacional Px, em US$/t da Tabela 1, pela taxa de câmbio, E,R$/US$ (apreciada em 20%). Subtraindo os custos de comercialização, chega-se aos preços aos produtores nas diversas regiões.

Desse modo, pode-se afirmar, de início, que os preços em reais (FOB) seriam, pela apreciação cambial, 20% menores na média do primeiro semestre de 2010.

Vejamos, agora, com os dados da Tabela 1, as variações dos preços internacionais (Px) previstas entre o primeiro semestre de 2010 e o mesmo de 2009, assim como as variações do preço FOB em reais (Px.E):
….......................................... Px (%) Δ Px. E (%)
√ Algodão..................................... 50,4 | 20,3
√ Soja …........................................1,6 | - 18,6
√ Trigo.......................................... 2,0 | - 18,5
√ Milho......................................... 1,9 | - 18,2
√ Café........................................... 21,7 | - 2,7
√ Suco de Laranja........................ 63,6 | 30,9
√ Açúcar....................................... 58,7 | 27,1
√ Cacau.........................................38,7 | 11,0
√ Índice Total................................14,2 | - 8,7

Apesar de todos os oito produtos terem estimativas de maiores preços internacionais no primeiro semestre de 2010, apenas algodão, suco de laranja, açúcar e cacau superam o limite de 25% para terem maiores preços FOB em nossa moeda, um ótimo resultado. O café quase chega lá. Esses dados indicam, ainda que de forma preliminar, que os maiores problemas de preços aos produtores no primeiro semestre de 2010 ficarão com soja, trigo (colhido ao final de 2009) e milho, com preços cerca de 18% menores relativamente ao primeiro semestre de 2009. O Índice Total deverá ter uma redução pouco abaixo de 10% (em reais). O arroz sem cotações em bolsa, teve uma relação de 17,5% no preço de importação da Argentina nos últimos 12 meses. Isso não é uma boa indicação para 2010.

É essa uma situação grave? Certamente não para a totalidade da agricultura e do agronegócio. Poderia ser para a parte principal do setor de grãos (soja, arroz, milho e trigo). A resposta definitiva depende das variações de custos de produção. Recente estudo da CONAB, por Estados, revela o seguinte para custos variáveis: a) algodão: 0,8% a 13,5%; b) soja: - 14,1% a – 26,7% e c) milho: - 21,1% a 22,7% (excluindo Mato Grosso, pouco importante). As reduções de custos variáveis desses dois grãos atenuarão, em muito, as previstas reduções em preços aos produtores. Em resumo, não deverá ser um ano esplendoroso em termos de rentabilidade para todas as culturas, mas, por enquanto, não se justifica uma argumentação de crise e de ajuda governamental.

. Por: Fernando Homem de Melo, professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP e Pesquisador da FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas. | (E-mail:- [email protected]).| FIPE

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