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16/01/2010 - 09:31

O empreendedorismo de baixa renda por políticas públicas mais focadas e eficientes

No campo dos estudos sobre empreendedorismo, uma definição é considerada um dos mais importantes divisores: é o conceito do empreendedorismo por necessidade versus o empreendedorismo por oportunidades. De modo geral, "por necessidade" é aquele empreendedor que não tinha outra escolha, ou seja, estava desempregado e sem alternativas, e assim iniciou seu empreendimento; por outro lado, o "por oportunidade" tinha outras escolhas, por exemplo, tinha um bom emprego, e lançou-se no mundo do empreendedorismo por escolha própria.

Esta definição é extremamente importante para que possamos conhecer melhor o tipo de empreendedores de cada país e região, e assim o GEM (Global Entrepreneurship Monitor) a utiliza de forma intensa. Por exemplo, um país com grande quantidade de empreendedores por necessidade tende a ter empresas que duram menos, fecham as portas com mais freqüência; países com maior quantidade de empreendedores por oportunidade apresentam empresas mais duradouras, mais voltadas à inovação tecnológica. Portanto, o GEM tenta medir se e como países estão conseguindo transformar empreendedores por necessidade em empreendedores por oportunidade, e este é um trabalho sério e importantíssimo.

Existe uma outra forma de se conceituar e medir o empreendedorismo, porém, que pode ser muito mais útil ao se compreender e criar políticas públicas em países como o Brasil. É a definição que proponho entre empreendedorismo de baixa renda versus empreendedorismo de alta renda. Ao contrário da primeira, que exige uma autodefinição do entrevistado (você se considera empreendedor por necessidade ou oportunidade?), o empreendedor de baixa renda pode ser encontrado por condições (medições) extrínsecas, como o capital disponível, o tipo de empresa a ser iniciado, etc. Um alto executivo, que quando demitido abre seu próprio negócio porque não encontra recolocação a altura, pode ser considerado um empreendedor por necessidade, mas não será jamais um empreendedor de baixa renda; apenas o seu conhecimento, acesso ao crédito e experiência já o classificam como empreendedor de alta renda.

Não se trata aqui de repetir o conceito de micro-empresa e empresa pequena, média e grande. O momento em que se define e encontra um empreendedor de baixa renda é, muitas vezes, anterior ao da criação do negócio. Podemos dizer que o empreendedor de baixa renda, quando bem sucedido, é o criador de uma micro-empresa. Antes disso, porém, ele passará por vários outros estágios, como o do negócio informal ou o do negócio cooperado, por exemplo.

O empreendedor de baixa renda muitas vezes é também um empreendedor por necessidade, mas em importantes casos esta relação não se verifica. Podemos ver, por exemplo, as dezenas de empreendedores de baixa renda que operam carrinhos de venda de refrigerantes, isotônicos e similares no Parque do Ibirapuera em São Paulo. Muitas vezes não são microempresários, nem têm firma aberta, mas operam há anos (às vezes décadas) em seus negócios, e se você lhes oferecer um emprego, irão recusar prontamente. São, certamente, empreendedores de baixa renda, mas agora por oportunidade. São pessoas que, mesmo sem formação, sem acesso a crédito, sem quase nada, em verdade, vislumbraram uma oportunidade e trabalham duro para explorar (no bom sentido) esta oportunidade, criando famílias e educando filhos, mostrando na prática a viabilidade do empreender.

Pergunte a estes empreendedores como as políticas públicas os apoiaram nestes anos todos e você terá uma resposta dura. "As políticas públicas sempre foram um estorvo para nós", eles dirão, citando as várias vezes em que tentaram tirar-lhes o direito de operar no Parque, ou criaram esta ou aquela dificuldade. Eles se organizaram em uma cooperativa, e o motivo principal não foi aproveitar uma oportunidade legal ou realizar compras em conjunto e assim conseguir melhores preços. O motivo principal foi lutarem contra as investidas das "políticas públicas".

Apenas conseguindo entender e encontrar quem é este tipo de brasileiro e brasileira, exemplificados no caso acima, é que poderemos desenhar políticas públicas que superem o simples assistencialismo e incentivem o mérito e o esforço pessoal, em um nível nunca antes alcançado pelas estratégias convencionais no Brasil.

Pequenas mudanças conceituais podem nos ajudar grandemente quando precisamos montar políticas públicas focadas no público correto e efetivas em suas realizações. A mudança na definição e as formas de se encontrar e estimular o empreendedor de baixa renda pode trazer, a São Paulo e ao Brasil, uma nova forma de se montar e gerenciar políticas públicas de apoio ao empreendedor de baixa renda, agora livre da pecha de "coitado" e "necessitado"; e trazer a estes empreendedores as condições para crescerem e se consolidarem. Muito diferente de fazer com que se unam somente para lutar contra as injustiças do Estado, do Governo e das políticas públicas equivocadas.

. Por: Henrique Flory, consultor em empreendedorismo e autor do livro "Transformando necessidades em oportunidades".

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