Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

21/01/2010 - 08:05

Transgênicos e Agricultura Familiar: resultados iniciais do projeto de retomada do algodão no norte de Minas Gerais

A cultura do algodão é de grande importância socioeconômica na região norte de Minas Gerais. Trata-se da principal atividade econômica da cidade de Catuti é a maior fonte de renda agrícola da região. A estrutura da produção é baseada em pequenas propriedades, com forte presença de agricultores familiares. A viabilidade econômica da lavoura do algodão é, portanto, fundamental para a comunidade e para evitar o êxodo rural.

Nas décadas de 1980 e 1990, o algodão era a principal fonte de renda de vários municípios do norte de Minas Gerais, chegando a ocupar 130 mil hectares e gerando milhares de empregos. A escassez de chuvas e a entrada do bicudo-do-algodoeiro fizeram com que a cultura entrasse em decadência.

Na tentativa de reverter essa situação, teve início em 2007 o Projeto de Retomada do Algodão no Norte de Minas Gerais, coordenado pela Associação Mineira dos Produtores de Algodão (Amipa). O projeto está baseado em testes com a semente geneticamente modificada com a tecnologia Bt, desenvolvida pela Monsanto e conhecida como algodão Bollgard.

O projeto envolveu inicialmente um grupo de 30 agricultores familiares, que juntos plantaram 130 hectares em Catuti, Janaúba, Mato Verde, Pai Pedro, Monte Azul, Francisco Sá e São Francisco. Além das sementes, os produtores receberam assistência técnica gratuita, com visitas de um técnico a cada três dias. As lavouras (com a média de quatro hectares cada uma) foram plantadas no fim de dezembro de 2008 e colhidas a partir do início de abril de 2009. O plantio das sementes transgênicas foi realizado de acordo com a legislação, em cada lavoura foram reservados 20% do cultivo do algodão convencional.

Resultados iniciais do projeto - A produtividade média do algodão Bollgard foi de 127 arrobas por hectare, inferior às expectativas dos produtores, mas bem acima da produtividade de algodão convencional na região, cuja média era de apenas 30 arrobas por hectare.

A produtividade do algodão Bollgard abaixo da esperada aconteceu porque a lavoura foi plantada tardiamente, devido à demora da disponibilidade de recursos, e por causa da falta de chuva. Segundo o técnico responsável pelo projeto, José Tibúrcio, a produtividade potencial do algodão transgênico é de 200 arrobas se plantado na época certa, aproveitando-se as chuvas que geralmente ocorrem em novembro na região. Ele afirma que a variedade alterada geneticamente se adaptou muito bem às condições do semiárido.

Além dos ganhos de produtividade, outro benefício econômico e ambiental do algodão Bt é a redução da aplicação de inseticidas. Na cultura convencional, o produtor faz em média de 18 a 20 aplicações de inseticida entre o plantio e a colheita. No algodão transgênico, a própria planta produz o bioinseticida, reduzindo a necessidade de aplicações de defensivos para, no máximo, sete vezes. A diminuição do número de aplicações de inseticidas melhora a qualidade de vida do produtor familiar, que tem mais tempo para passar com a família e fica menos exposto a agrotóxicos, que podem causar riscos à saúde.

Outro benefício do algodão Bt foi o aumento da qualidade da pluma do algodão. A melhor qualidade do produto final facilita a inserção comercial do agricultor familiar de forma competitiva no mercado.

Os resultados iniciais do projeto sugerem que a utilização do algodão Bt permite, portanto, o aumento da produtividade, a redução de custos e incrementos na renda do produtor. Ou seja, o projeto é promissor e tem potencial para fazer ressurgir a cotonicultura na região. A receptividade dos produtores familiares à introdução da nova tecnologia também foi boa. Com o apoio de crédito do Banco do Nordeste, o projeto terá recursos suficientes para expandir em até 100% a lavoura do algodão no norte de Minas. Para a safra 09/10, espera-se plantar mais cedo para aproveitar as chuvas de novembro. O sucesso inicial do projeto do algodão também estimulou a Amipa a testar o milho Bt no próximo ano.

Apesar de resistências políticas e ideológicas à adoção de transgênicos por agricultores familiares, os resultados preliminares desse projeto indicam que os transgênicos podem reanimar a agricultura familiar em regiões empobrecidas e com problemas climáticos e de pragas. Isso porque a tecnologia Bt é uma solução para um problema agronômico sério – a destruição de lavouras de algodão (e de toda a economia que surge ao redor) por insetos praga. A resistência aos insetos é um atributo valioso que diminui a dependência na aplicação de inseticidas.

. Por: Fabio Chaddad, professor-assistente de economia agrícola na Divisão de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade de Missouri e do Insper em São Paulo. Atualmente leciona cursos de graduação e pós-graduação em gestão de agronegócios, estratégia corporativa e economia organizacional. Desenvolve atividades de pesquisa sobre economia e gestão de negócios agroindustriais e arranjos colaborativos entre empresas em sistemas agroindustriais. Fabio é engenheiro agrônomo pela ESALQ/USP e tem PhD em Economia Agrícola pela Universidade de Missouri e Mestrado em Administração pela Universidade de São Paulo.| Monsanto Brasil.

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira