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19/05/2007 - 09:30

Novas "Itaipus" acirram debate sobre matriz energética

Rio de Janeiro - Megaprojetos hidrelétricos, que lembram a grandiosidade da usina binacional de Itaipu, prometem suprir a crescente demanda energética brasileira a partir do início da próxima década. Isso se forem transpostos os obstáculos ambientais que se tornaram bandeiras de ativistas e acadêmicos.

Nesse confronto, o governo usa como alternativa a diversificação da matriz energética, recorrendo a planos que contemplam fontes polêmicas como a energia nuclear e a térmica a carvão, óleo e gás. Fontes renováveis não estão descartadas, mas a energia eólica, por exemplo, não tem o espaço defendido pelos ambientalistas.

Na expectativa de aprovação por órgãos ambientais, nas próximas semanas, do primeiro grande projeto hidrelétrico do governo Lula --as usinas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, em Rondônia--, o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, disse à Reuters estar confiante na realização da obra.

"É a história de Itaipu que se repete", comentou Zimmermann. "Tenho um CD com todas as manchetes da época da construção de Itaipu: diziam que ia ter terremoto, que o eixo de rotação da Terra ia ser alterado pelo peso da água, e nada aconteceu", ressaltou.

"Quando o Ministério considerou que rio Madeira estava apto a entrar em operação em 2012 foi porque, tecnicamente, atendia a todos os requisitos necessários. É um projeto bom, com preço compatível", defendeu o secretário.

Rio Madeira prevê a geração de 6,4 mil megawatts (MW) nas duas usinas, avaliadas em cerca de 9 bilhões de dólares. Itaipu, construída a partir de 1974, passa a ter capacidade instalada de 14 mil MW com a inauguração da última turbina na próxima semana.

"O maior potencial hidrelétrico brasileiro está na Amazônia, cabe à sociedade decidir se quer aproveitar isso ou não", alertou Zimmermann.

A voz da sociedade é a esperança do coordenador de campanha do Greenpeace Marcelo Furtado, que vê forte impacto ambiental decorrente das grandes obras hidrelétricas.

"Se Itaipu não tivesse sido construída na época da ditadura, não sairia do papel", afirmou Furtado sobre a usina frequentemente comparada ao projeto de rio Madeira pelas soluções ambientais que serão copiadas, como a escada de peixes para preservar espécies, como o bagre.

"Não precisamos desses projetos, podemos fazer hidrelétricas de maneira responsável no país", disse o ativista, que aposta na divisão dentro do próprio governo para evitar a construção do complexo do rio Madeira e de Belo Monte, no rio Xingu, Estado do Pará.

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Maurício Tolmasquim, qualificou de "irracionalidade ambiental" a não aprovação de rio Madeira. Segundo ele, os problemas ambientais já foram resolvidos e existe no governo "uma boa expectativa pela aprovação das licenças".

Menos água - Se as licenças de rio Madeira não forem concedidas até julho, o governo terá que buscar outras fontes para oferecer nos leilões de energia programados para este ano visando atender o mercado em 2010 e 2012.

"Se não entrar (Madeira), tenho que fazer leilão para contratar outra fonte disponível. Aí a disputa vai ser no preço e vai ficar entre (térmicas a) carvão, óleo e gás", alertou o secretário do Ministério.

O projeto do rio Madeira não sairia, porém, da pauta do governo, que tentaria levá-lo a leilão em 2008, desde que conseguisse licença ambiental, um ano antes da previsão de venda de outro projeto polêmico, a usina de Belo Monte.

"Belo Monte está entrando (em atividade) a partir de 2014. Até o final deste ano teremos os estudos concluídos, para ter no ano que vem o licenciamento e licitar no início de 2009", afirmou Zimmermann. A obra geraria 5,5 mil MW numa primeira fase e custaria cerca de 3,5 bilhões de dólares.

Grandes obras, grandes impactos, avalia o ex-presidente da Eletrobrás Luiz Pinguelli Rosa, defensor da construção de hidrelétricas menores e busca de eficiência energética.

"A gente tem que retomar os inventários de hidrelétricas... existe algo como 80 mil megawatts de hidrelétricas que não são grandes como Belo Monte e Madeira, são menores, e poderiam ser feitas", argumentou.

Apesar de preferir projetos menores, Pinguelli afirmou que não descarta os megaprojetos, mas lembrou que não podem ser realizados ignorando a avaliação dos órgãos ambientais.

"O Brasil não deve abandonar a energia hidrelétrica, por isso, Madeira é um projeto que precisa ser visto com carinho, mas sem que as questões ambientais sejam abandonadas", avaliou.

A redução da participação da hidroeletricidade na matriz energética brasileira, hoje de 84 por cento, é uma das indicações do Plano Nacional de Energia 2030, que deve ser aprovado na próxima reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), prevista para junho, informou Zimmermann.

Segundo o documento, as hídricas serão reduzidas para 76 por cento da matriz em 2030 com a entrada de outras fontes, como biomassa, térmicas a carvão e nuclear.

Assim como Pinguelli, o coordenador do Greenpeace defende a construção de hidrelétricas menores e a economia da energia hoje desperdiçada no país, segundo ele, na casa dos 40 por cento do total consumido. Outra fonte viável para o Brasil, avaliou o ambientalista, seria a energia eólica, considerada cara pelo governo brasileiro.

"É balela dizer que eólica é mais cara, os investimentos iniciais podem ser, mas entra em operação em um ano e meio e tem 30 anos de geração", defendeu. Outras fontes defendidas pelo Greenpeace no relatório "Revolução Energética" --no site da entidade (www.greenpeace.org.br)- são a solar e a biomassa.

"Depois do desmatamento, a matriz energética é a segunda maior fonte de emissão (de carbono) do Brasil. Pelo planejamento do governo, nós estamos caminhando para uma matriz suja, que vai custar muito mais no futuro", afirmou Furtado.

Ele disse que apesar de ser considerada energia renovável, as hidrelétricas, quando feitas em grandes áreas, causam fortes danos ambientais com o enchimento dos reservatórios, que mudam o microclima local, além da instalação de linhas de transmissão e o deslocamento de moradores.| Por Denise Luna/Reuters.

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