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18/02/2010 - 09:10

A metamorfose estética de Eder Santos em “Roteiro Amarrado”, no CCBB


Vídeoartista realiza primeira retrospectiva no Brasil, exibindo sua inconfundível linguagem visual em obras realizadas entre 2001 e 2010.

Experiências radicais, ruídos, interferências, cenas da realidade, modificação de imagens convencionais geradas pela televisão, manipulações transgressivas. Com forte sentido existencialista. Assim é a obra do mineiro Eder Santos, um dos mais reconhecidos artistas de arte eletrônica do país e da América Latina, que fará sua primeira retrospectiva no Brasil (e a primeira mostra no Rio de Janeiro), a partir de 22 de fevereiro no CCBB, ocupando todo o primeiro andar da instituição. A curadoria é de Solange Farkas; a produção, de Daiana Castilho Dias.

“Roteiro Amarrado”, que compreende uma série de sete conjuntos de trabalhos do artista, tem como objetivo apresentar ao público brasileiro toda a dimensão de originalidade, particularidade e invenção de Eder Santos. Profundamente ligado à mineiridade, que é uma das fontes inequívocas de sua obra, nessa exposição ele estabelece um link entre seu trabalho, sua origem cultural e o local de sua apresentação.

Eder Santos é uma espécie de Pollock da era eletrônica, fazendo uma arte em que a imagem é mais um gesto iconizado do que o índice de alguma coisa reconhecível em termos de verossimilhança. Ele criou uma estética própria ao transformar defeitos das imagens em efeito e linguagem de vídeos, filmes e projetos artísticos. Seus trabalhos integram os acervos permanentes do MoMA, Nova York, e do Centre Georges Pompidou, Paris.

Para a curadora Solange Farkas, “as criações de Eder Santos – trabalho de edição e manipulação de imagens por excelência – mostram, além de suas profundas inspirações, como ele opera as imagens de forma original, criando uma cinematografia eletrônica na qual as cenas da realidade, os efeitos e as cores são usados como notas musicais em uma estrutura expositiva, claramente não-linear”.

A produção de Eder Santos inclui tanto vídeos single channel como videoinstalações, videoesculturas e performances, todos carregados de um forte sentido existencialista e sofisticados recursos estilísticos. “Paradoxalmente, sua obra não é das mais fáceis”, diz Farkas. “Identificada por experiências radicais e isenta de concessões de toda a produção videográfica brasileira, é formada de ruídos, interferências, defeitos, distúrbios do equipamento utilizado e, em alguns de seus trabalhos, como em Mentiras e Humilhações, beirando o limite da visualização. Eder constrói uma linguagem visual com tecnologias bastante variadas, híbridas, que vão até os meios digitais e fílmicos, onde exerce toda a sua capacidade de desnudar os módulos cognitivos da imagem”, explica a curadora.

As obras -composta por três caixas de acrílico com telas de projeção embutidas, este trabalho relaciona a arquitetura com reprodução de imagens. O artista captura nas caixas prédios significativos da arquitetura universal e funde a esses outras imagens em movimento transformando a textura e a fachada dos edifícios inertes;

Distorções Contidas: trata-se de instalação que remete ao quadro “Nu descendo a escada” de Duchamps. Numa remontagem em três dimensões, Eder Santos reproduz as cenas do trabalho original num simulacro entre real e imaginário. O trabalho é composto por uma caixa de 5mx3m entremeado com laminas de vidro de 1,20m por 2m. Nesta caixa são projetadas imagens de um casal descendo uma escada que se torna fragmentada devido à interferência do vidro partido instalado na caixa.

Coc au Vin: com imagens do filme Cidade Baixa de Sérgio Machado, o artista reproduz cenas de uma rinha de galos onde as projeções se misturam com objetos e penas reais.

Call Waiting: instalação onde serão montadas 50 gaiolas com imagens. Criada por Eder em 2005, traz gaiolas recebendo a projeção de um vídeo de vôo de pássaros.

Low Pressure: instalação onde uma pessoa nada dentro de três aquários sincronizados;

Enciclopédia da Ignorância: ao som de uma trilha composta por Paulo Santos, do grupo Uakti, o artista nos propõe um passeio por Imagens diferenciadas, que utilizam distintos formatos de projeção e materiais: a)Inveja - Numa projeção realizada na água e em espelho, o artista leva o visitante a contemplar a beleza das nuvens em um céu azul profundo. Outras imagens são projetadas sobre a água.

b)Humilhação - Coloca o espectador de joelhos num genuflexório, a contemplar uma cena muda que se move quase imperceptivelmente, num quadro projetado em que um casal e uma criança nos olham de cima, sem se incomodar com nossa presença, soberanos no vermelho que os envolve e nos redime.

c)Ciúme - Contemple, pense e reflita. São duas cadeiras e uma mesa emolduradas por imagens de fumaça de cigarro que sobem se espiralando no vazio. “Silêncio dos aflitos e dos amantes, dor sem alegoria e sem fundamentação” segundo o artista.

d)Preguiça - Uma pia cheia de água e uma torneira que pinga. Tudo sob o facho de uma lâmpada perpendicularmente posicionada acima, brincando de tecer imagens na tela líquida que não registra nada, só treme, se move, faz uma bolha aqui, desfaz logo mais.

e)Remorso - Nesta instalação, imagens velozes de folhas e flores crescendo em profusão logo secam, logo são castigadas pela chuva, logo são carregadas pelo vento e logo se misturam com imagens e fotos de uma vida passada, num tempo sem volta e para sempre perdido.

f)Vício - É apresentado sobre um pedaço de mármore muito branco. Uma piscina de pó branco é projetada. Aos poucos, revela corpos que se movem. A sensualidade dos gestos vai cedendo espaço a deslocamentos frenéticos, sincopados. Eder usa um recurso denominado lag (intervalo entre os frames), onde as imagens se sucedem pela conservação do movimento, impondo uma certa permanência do que antecedeu no quadro seguinte, ao mesmo tempo em que roubam fragmentos daquilo que é a cena presente.

Maneiras de se Playtear a Eternidade: a)Doublé de corpo - a instalação é composta por um beliche sem escadas. Uma imagem projeta um corpo deitado na cama superior do beliche, a impressão e o peso do corpo sobre o colchão, seus movimentos. O visitante pode deitar no beliche e ter a sensação/interação entre a imagem e seu próprio corpo. E o melhor, ao assumir o papel de “doublé”, temos o poder de acabar com a sensação ao levantarmos do colchão.

b)Memória - Instalação composta por uma cristaleira de três andares. No primeiro, cristais (taças, copos, etc); no segundo, um jogo de chá em porcelana; e no terceiro uma espécie de “sopeira” iluminada por uma luz de tom amarelo “envelhecido”. Sobre o vidro de trás do móvel, são refletidas imagens diversas, como a de copos que se quebram em mil pedaços.

c)Máquina de reflexão - Consta de um fone de ouvido, uma cadeira com um apoio para a cabeça, e outros dois para as mãos. Também compõe o trabalho uma tela semelhante a um monitor plano de computador. Do fone de ouvido nada se escuta, da tela saem frases intercaladas por imagens de rostos desconhecidos. Rostos sérios, sorridentes, cansados, chateados, tristes.

. [ “Roteiro Amarrado”, de 23 de fevereiro a 11 de abril de 2010, de terça a domingo, das 10h às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro, Rua Primeiro de Março, 66, Centro do Rio de Janeiro.Entrada franca | Tel: (21) 3808-2020. | http://twitter.com/CCBB_RJ].

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