Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

12/03/2010 - 10:37

Arne Sucksdorff : o sueco do Cinema Novo no CCBB/Brasília


Centro Cultural Banco do Brasil em Brasília realiza a primeira grande retrospectiva do cineasta sueco que contribuiu para a consolidação do Cinema Novo. A mostra inclui filmes inéditos no Brasil como os longas Mr. Forbush e os Pinguins, O Menino na Árvore e A Fera e a Flecha, com exibição de Ritmos da Cidade, que deu à Suécia o primeiro Oscar de sua história, e conta com participação de José Wilker, ex-aluno de Arne, no debate do dia 23 de março.

Um Oscar, duas Palmas de Ouro em Cannes e o prêmio especial do Festival de Veneza. Estas credenciais deveriam ser suficientes para garantir ao cineasta Arne Sucksdorff um lugar de honra no Olimpo dos grandes diretores de cinema do mundo. Especialmente no Brasil, país cuja cinematografia ele ajudou a forjar, formando grande parte dos realizadores da geração do Cinema Novo. Entretanto, este realizador, considerado um dos mais importantes cineastas suecos, ao lado de Ingmar Bergman e Alf Sjoberg, tem sido injustamente esquecido. Agora, uma mostra vai realizar o que pode ser considerada a primeira grande retrospectiva do cinema do criador que levou para a Suécia do primeiro Oscar da história do país. É Arne Sucksdorff – o sueco do Cinema Novo, que acontecerá no Centro Cultural Banco do Brasil em Brasília, de 16 a 24 de março de 2010.

Ao longo de oito dias, serão exibidos seis longas, um média e sete curtas-metragens que promovem uma incursão do cinema de Sucksdorff. Com curadoria do cineasta e professor Sérgio Moriconi, a mostra Arne Sucksdorff – o sueco do Cinema Novo começa com a exibição do documentário Arne Sucksdorff: Uma Vida Documentando a Vida, da pesquisadora mato-grossense Bárbara Fontes. O filme tem 32 minutos de duração e foi finalizado em 2002. As filmagens percorreram cinco locações: Suécia, Rio de Janeiro, Cuiabá, Poconé e Pantanal. No dia 23, haverá um bate-papo com José Wilker, ex-aluno do histórico curso que Sucksdorff ministrou no Brasil, o cineasta Vladimir Carvalho e o curador Sérgio Moriconi. A mostra tem o apoio da Embaixada da Suécia no Brasil e do CTAV – Centro Técnico Audiovisual do Ministério da Cultura.

Serão exibidos os longas-metragens A Grande Aventura (1953), uma das obras mais consagradas de Arne; A Fera e a Flecha (1957); O Menino na Árvore (1969);Fábula/ Meu Lar é Copacabana (1964); Mr. Foubusch e os Pinguins (1971); e Mundo à parte (de 1975, feito em quatro episódios). A programação também incluirá os curtas Ritmos da Cidade (1948), Vila Indiana (1951), Uma História de Verão (1941), Vento do Oeste (1943), Semeadura (1943), Aurora (1945), Gaivota (1944), Sombras na Neve (1945), A Partida (1948), Jornada Escandinava (1950) e O vento e o Rio (1951).

O sueco e o Brasil- Arne Sucksdorff foi fundamental na consolidação do Cinema Novo no Brasil. Ao desembarcar no Rio de Janeiro, em 1962, a convite da Unesco, para ministrar curso de formação em técnica cinematográfica, Sucksdorff mudou a história do cinema nacional. Com ele, chegaram câmeras de 35mm (a famosa Arriflex) e 16mm, a revolucionária Éclair, a mesa de montagem Steenbeck (na qual Nelson Pereira dos Santos montaria Vidas Secas), os dois primeiros gravadores Nagra que chegaram ao Brasil (possibilitando o som direto), refletores, tripés e toda uma lista de equipamentos fundamentais. O Brasil, finalmente, tomava contato com os segredos das novas técnicas cinematográficas.

Com este pequeno parque de equipamentos, muitos filmes brasileiros fundamentais foram produzidos. Películas hoje clássicas do Cinema Novo foram montadas na moviola Steenbeck, como Maioria Absoluta, de Leon Hirszman, Os Fuzis, de Rui Guerra, e Terra em Transe, de Glauber Rocha. Arne Sucksdorff tornou-se uma referência fundamental para alguns dos nossos mais importantes cineastas. Durante o curso que veio ministrar no Brasil, teve como intérprete Arnaldo Jabor – que ainda não havia se apaixonado pelo cinema. Na lista dos alunos estavam José Wilker, Eduardo Escorel, David Neves, o grande fotógrafo Dib Lutfi, o jornalista Vladimir Herzog, entre outros.

Quando desembarcou em terras brasileiras, Sucksdorff já era um cineasta reconhecido internacionalmente – seu filme sobre a arquitetura de Estocolmo – Ritmos da Cidade (Människor is Stad) – havia ganhado o Oscar de melhor documentário estrangeiro em 1947. Mas a ligação de Sucksdorff com o Brasil não terminou ali. Em 1966, ele retornou ao País e desembarcou no Pantanal em busca de locação para um documentário. Conheceu ali a paixão da sua vida e decidiu não voltar mais para a Suécia. Arne Suckdorff casou-se com a matogrossense Maria Graça, teve dois filhos, e adotou o Brasil como sua segunda pátria. No início dos anos 90, retornou à Suécia, onde escreveu seu livro de memórias, inédito em português. Morreu em sua Estocolmo natal, de pneumonia, aos 84 anos. Como um de seus últimos desejos, teve suas cinzas lançadas no santuário ecológico em que escolheu para viver, no Pantanal matogrossense, às margens do rio Paraguaizinho. Recuperar um pouco desta trajetória, apresentando para a geração atual de espectadores o cinema de Arne Sucksdorff pode ser solucionar uma dívida histórica do País para com esta figura tão essencial para o cinema brasileiro (e ainda tão pouco conhecida).

Arne Sucksdorff foi um grande realizador, tanto no campo do documentário como também na ficção. Tem uma obra extensa feita tanto para o cinema quanto para a televisão. Um dos seus principais longas ficcionais foi rodado nos morros cariocas – Meu Lar é Copacabana foi produzido pela Svensk Filmindustri e tem roteiro assinado pelo ator Flávio Migliaccio. O filme é comparado a Os Esquecidos, de Luis Buñuel. Além de sua cinematografia, a mostra pretende exibir o raríssimo Marimbás, que tem argumento e roteiro de Vladimir Herzog e foi o projeto escolhido para ser realizado pelos alunos de Sucksdorff. O filme é pioneiro no Brasil na utilização do som direito.

. [ Arne Sucksdorff : o sueco do Cinema Novo, de 16 a 24 de março de 2010, das 18h30 e 20h (de sexta a domingo, também às 16h30), no Cinema do Centro Cultural Banco do Brasil em Brasília. Ingressos: R$ 4,00 e R$ 2,00. Informações: (61) 3310-7087].

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira