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24/05/2007 - 09:28

A deterioração das classes populares


A Fundação Cultural do Japão proporcionou-nos o conhecimento mais íntimo do que hoje ocorre na educação do país de 127 milhões de habitantes, dos quais cerca de três milhões freqüentam as suas 726 universidades. Um número surpreendente, mas que tem a sua lógica, pois não há mega-instituições e a qualidade é a marca predominante. Daí ser fácil explicar a explosão do crescimento do que hoje é a segunda economia do mundo.

A comprovação prática do que afirmamos pôde ser vista na ida a Kyoto e a participação na solenidade de formatura das turmas de línguas estrangeiras da sua universidade. Antes, numa ida à biblioteca de obras raras, tivemos a surpresa de conhecer livros impressos em papiro, coloridos, nos anos 1800, com o texto em português de diversos contos japoneses. Influência ainda da presença de jesuítas naquelas paragens.

Há uma grande integração com empresas do porte da Toyota Motors (que ultrapassou a GM), JR Tokai (estradas de ferro), Chubu (companhia de energia elétrica), e outras, ligando o ensino obrigatório e de tempo integral, no Japão, às futuras oportunidades de emprego. Hoje, tornou-se possível criar escolas administradas por empresas, num entrosamento há muito recomendado por grandes especialistas, como foi o caso de J.K. Galbraith. São sete milhões de alunos no ensino elementar e mais sete milhões nas escolas de ensino médio, divididas entre o nosso antigo ginasial e o colegial. A tendência vigente dos alunos é seguir o ensino superior. O que é natural, pois o índice de obtenção de emprego dos novos graduados alcançou o percentual de 95,3%. Os números falam por si.

Registra-se um grande cuidado no trato da questão do magistério. O valor dos salários é apreciável, com 1/3 dos professores de escolas públicas sendo subsidiados pelo Governo. O valor médio dos salários, na educação básica, é de 3.800 dólares, enquanto nas universidades fica em torno de 4.650 dólares. É ligeiramente superior à remuneração dos funcionários públicos em geral, o que vem ocorrendo desde a década de 70. Hoje há dificuldades, em virtude da situação financeira negativa. Isso levará o sistema a privilegiar não mais a subida periódica de posição em virtude da antiguidade. Valerá mais quem tiver melhor formação profissional. No Brasil, existe desde a Lei no 5692/71 um artigo que manda pagar aos professores de acordo com o nível de formação. Nunca entrou em vigor.

No império do sol nascente, discute-se como reconstruir o sistema de ensino público, que estaria piorando em virtude do que eles chamam de “deterioração das classes populares”. A Lei Básica Pedagógica recebeu uma emenda esclarecedora: 1) deve-se ensinar a ordem pública e ter consciência das normas sociais, para evitar que se pense somente no próprio direito, com o perigo de se perder o espírito de benefício público; 2) Estipula-se também uma nova idéia, tendo como ponto importante o respeito às tradições, à cultura e às pessoas de outros países. Uma guinada digna de registro, criando-se uma sociedade onde os jovens possam ter sonhos e refazer seus desafios. A leitura é valorizada nas escolas e no lar, a TV Educativa (NHK) presta relevantes serviços à educação, reproduzindo experiências vitoriosas de professores em suas classes, e procura-se reduzir as diferenças sociais com o aumento do grau de liberdade e de escolha. Assim se prepara o Japão do futuro, para novas conquistas.

. Por: Arnaldo Niskier, professor emérito da Eceme e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL).

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