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24/03/2010 - 09:16

Guerras e riscos de tragédias naturais devem ser considerados antes de investir

Além da estabilidade econômica, a decisão de investimentos deveria levar em conta o risco de terremotos, guerras e suas consequências para a economia de uma nação.

Todo ano o Fórum Econômico Mundial, em Davos, divulga um interessante relatório sobre competitividade. O documento classifica os países e sugere o que os governos devem fazer para aumentar a sua competitividade. O estudo do Fórum acredita que seu trabalho visa aumentar a produtividade, mas é difícil escapar da sensação de o que os países podem estar competindo é pela atração de investimento estrangeiro direto, pois este é tanto mais produtivo quanto seguro nos países mais bem classificados.

No relatório do Fórum, a Suíça lidera o ranking este ano. Mas a questão não é tanto em qual banco colocar o seu dinheiro, mas se o país oferece uma boa oportunidade de investimento. Para classificar os países, o Fórum de Davos se concentra corretamente na comparação de questões como estabilidade macroeconômica, ambiente empresarial, capacidade institucional e orientação para a inovação.

No entanto, eu diria que os investimentos produtivos em geral exigem pelo menos uma quantidade modesta de tijolos para fazer paredes e também algum telhado. Isso seria usualmente sem sentido se você não tivesse estradas, pontes, portos e aeroportos para entrar e sair do país e comunicações confiáveis para a ligação com o resto do mundo. Portanto, eu esperaria que o FEM atribuísse algum peso não apenas ao nível de ameaça de guerra a esses investimentos, mas também à sua estabilidade física.

Contudo, o fato de a Índia ter cerca de um terço de seus distritos controlados pela guerrilha não tem qualquer peso na análise. Também não importa que os estrategistas da Índia se preocupem que tanto o Paquistão quanto a China estão no pescoço da Índia desde a independência dela, nem que todos os três são potências nucleares.

É preciso admitir a dificuldade em descobrir quando uma guerra pode estourar, mas um pouco de peso deveria ser acrescentado ao ranking de competitividade entre os países se duas guerras ocorreram em menos de um século. Talvez isso devesse ser incorporado à competitividade de alguns países europeus ou até mesmo ao Japão e dos Estados Unidos para essa questão.

Terremotos podem ser ainda mais difíceis de prever do que guerras, mas, como esta última, quando eles acontecem, as consequências podem ser devastadoras, tanto para os investimentos quanto para os mercados que esses investimentos visaram, ou seja, as populações.

Pode haver alguma folga se você escolher criteriosamente onde alocar seus investimentos: longe na costa oeste dos EUA, por exemplo. Um terremoto na Califórnia – que gera quase 15% do produto bruto americano - desarticularia a produtividade em todo o país. Ainda por cima, há países como a China, onde não há quase nenhum lugar para evitar as consequências imediatas de um terremoto: ela é densamente povoada e as falhas sísmicas estão em praticamente todos os lugares que importam.

Percorremos um longo caminho em termos de análise e estratégia dos negócios. Mas focar apenas no fácil de calcular não nos impede de sofrer as conseqüências daquilo que nos negócios não podemos controlar, como catástrofes naturais, sejam elas tsunamis, terremotos, furacões, ou catástrofes provocadas pelo homem, como conflitos, sejam eles de alta ou baixa intensidade.

Se formos levar em conta os terremotos para orientar os investimentos, além dos dados contemplados no Fórum Econômico Mundial, precisaríamos ter uma idéia da probabilidade de ocorrência e das conseqüências deles. A ocorrência pode ser estimada pela freqüência e a magnitude deles no passado. Pela forma que os dados sobre terremotos são reunidos, países com grande área física tendem a ter mais terremotos, como a Rússia e os EUA. Mas alguns, como a China, têm ambos, um grande número de terremotos e são densamente povoados; o Brasil, no entanto, tem uma grande área e é praticamente livre de terremotos.

Se eu fosse colocar meu dinheiro em algum lugar e quisesse dormir em paz, eu consideraria seriamente colocar boa parte no Canadá, relativamente livre de terremotos e dos riscos de origem humana salientados no Fórum Econômico Mundial. Em segundo lugar, ou em menor proporção na minha carteira, pode ser colocado o Brasil ou a Índia, apesar de ambos mostrarem classificações relativamente baixas no índice de competitividade do Fórum. Não obstante, o Brasil parece uma aposta melhor a longo prazo do que a Índia, em razão dos fatos já mencionados, como constante ameaça de guerra, conflitos religiosos, ameaça de balcanização, além de outros derivados da alta densidade populacional da Índia, como escassez de água e poluição, apenas a serem agravados conforme o país se urbaniza.

Eu teria dúvidas mais sérias se fossem oferecidas oportunidades de negócios de longa maturação no México ou na Turquia, por exemplo, pois estes países se caracterizam por ambos os perigos, os criados pelo homem (baixo ranking do Fórum) e por acidentes naturais (como muitos terremotos graves em um século).

Tudo isso pode soar um pouco amador agora, mas acredito que a analise aponta na direção que deveríamos seguir, tanto em pesquisa quanto consultoria de investimentos, quando se está considerando a competitividade de um país em longo prazo. Nesta perspectiva o Brasil sairia bem melhor na foto. Talvez seja questão de começar a argumentar neste sentido e não focarmos apenas em como somos vistos através das lentes dos outros.

. Por: Alfredo Behrens (58), economista com Ph.D. pela Universidade de Cambridge. Leciona Gestão Intercultural para FIA onde também coordena a área de Gestão de Competitividade do MBA Executivo Internacional. Integra o corpo editorial doThunderbird International Business Review. Em 2007 publicou pela Editora Saraiva o livro “Cultura e Administração nas Américas”, finalista no Jabuti e único livro brasileiro de negócios no ano com leitura recomendada pela Época Negócios. Uma versão atualizada desse livro foi publicada pela Stanford University Press em 2009. É co-autor do livro “The Software Industry in Emerging Markets” Edward Elgar, 2005. Atualmente finaliza o manuscrito do livro sobre liderança organizacional: Shooting Heroes and Rewarding Cowards, a sure path towards organizational disaster, com publicação prevista pela Elsevier (Campus) no Brasil. É consultor de negócios internacionais e sua mais recente atividade nesta função esta relacionada à formação de quadros em empresas de mineração

A FIA: eleita por três vezes, desde 2005, como a melhor Escola de Negócios do Brasil, a FIA, um dos mais conceituados e respeitados centros educacionais do País, possui 30 anos de atuação no setor. A entidade, credenciada junto ao MEC (Ministério da Educação), atua em três frentes: consultoria, pesquisa e educação, capacitando-a para desenvolver estudos e prestar serviços nos mais variados campos de especialização da Administração.

Todos os MBAs oferecidos pela instituição alcançaram credenciamento junto à The Association of MBAs (AMBA), sediada em Londres, que referencia importantes escolas de negócios pelo mundo. Outro reconhecimento relevante foi concedido pelo jornal britânico Financial Times. O MBA Executivo, oferecido pela FIA, ocupa a posição de número 25 no ranking dos melhores MBAs Executivos das Américas, sendo o único MBA brasileiro na classificação elaborada pelo jornal, que destaca, ainda, a qualidade do grupo de alunos: o 6° mais experiente do mundo.

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