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27/03/2010 - 08:56

À porta do desenvolvimento

A indústria é um dos principais agentes fomentadores da inclusão social, considerando sua elevada participação no PIB, valor que agrega à massa salarial, divisas que internaliza com suas exportações e atuação de numerosas empresas empregadoras de mão-de-obra intensiva. Por isso, foram particularmente gratificantes para o setor as recentes informações sobre o crescimento da classe média, bem como as conclusões do estudo “Desigualdade e Pobreza no Brasil Metropolitano Durante a Crise Internacional: Primeiros Resultados”, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Felizmente, o grave crash globalizado não provocou o aumento da miséria no País. Mantivemos os ganhos verificados entre 2003 e 2009, período no qual quatro milhões de brasileiros ascenderam ao mercado de consumo, significando redução de 26,8% na taxa de pobreza.

Os números atestam os avanços do Brasil nas últimas duas décadas, em especial a partir da estabilidade econômica alcançada nos quase 16 anos desde o advento do Plano Real. Também são inegáveis os resultados de algumas políticas sociais na presente década, incluindo a melhoria de renda nas faixas salariais menores, inclusive para quem ganha o mínimo. As estatísticas positivas, porém, não mascaram o fato de persistem no País, em especial nas áreas metropolitanas, como em São Paulo e no Rio de Janeiro, e alguns bolsões do Norte e do Nordeste, cerca de 15 milhões de indivíduos ainda totalmente excluídos.

Como se não bastasse, parte expressiva da população brasileira situa-se numa faixa de renda muito próxima da pobreza e alijada de assistência médica e ensino de qualidade, além de pouco acesso a outros itens fundamentais, como cultura e segurança jurídica. Essa rápida análise mostra que o Brasil, a despeito de todo o progresso dos últimos vinte anos, está comprimido entre dois mundos: o universo dos emergentes, cada vez mais importante no contexto da economia mundial, e os antigos grotões do subdesenvolvimento. São duas dimensões absolutamente antagônicas, em cuja interação não há equilíbrio possível. Não há dúvida de que, ao emergir com grande mérito da crise mundial, o País precisa de um projeto de curto e médio prazos para solucionar o seu problema de identidade como nação.

É impossível continuar convivendo durante muito tempo com esses contrastes socioeconômicos, considerando que o imenso déficit social é um grande obstáculo ao desenvolvimento. Ante esse desafio, é interessante observar análise feita pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) sobre os BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). O trabalho, que também inclui a África do Sul, aponta esse grupo de emergentes como “prováveis locomotivas do crescimento mundial nas próximas décadas”.

O estudo evidencia o fato de o Brasil ser o grande representante latino-americano nesse conjunto de nações e salienta que, dentre estas, é a que apresenta o menor grau de dependência do comércio exterior. Ressalta, ainda, que a economia brasileira tem aumentado, desde a década de 90, a diversificação de sua pauta de exportações e importações. Entretanto, no âmbito dos BRIC, continua sendo a mais fechada.

Essa análise da Cepal permite aludir, cruzando-se suas conclusões com o estudo do Ipea sobre a pobreza, que a menor dependência externa favoreceu o enfrentamento da presente crise mundial pelo Brasil e estabeleceu melhores condições para se evitar o recrudescimento da miséria. Por outro lado, num cenário de médio e longo prazos, a menor abertura constitui-se em fator que mitiga nosso progresso e inserção na economia globalizada. De fato, no período focado, entre 1990 e 2006, o avanço da participação do País no PIB mundial foi pífio, passando de 2,11% para 2,19%. A China deu um salto de 2,63% para 5,44%.

Obviamente, o grau de abertura da economia brasileira também é limitado pelo comprometimento de nossa competitividade devido aos conhecidos fatores dos juros altos, impostos estratosféricos, câmbio inadequado e custos exagerados atrelados às relações trabalhistas, transportes, energia e infraestrutura. É preciso resolver esses problemas crônicos. Devemos aproveitar o bom momento do País, o crescente reconhecimento internacional, nossa capacidade de fornecer, em grande escala, energia limpa e gêneros alimentícios e os fundamentos econômicos positivos conquistados nas duas últimas décadas. Estamos à porta do efetivo desenvolvimento. É hora de ingressar no primeiro mundo!

. Por: Dimas de Melo Pimenta II, economista, é presidente da Dimep e diretor do Departamento Sindical (Desin) da Fiesp.

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