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02/04/2010 - 09:22

O BBB e a era digital

Meio jogo, meio documentário e meio dramaturgia, o reality show padrão implodiu as fronteiras entre os diversos gêneros televisivos e criou uma forma inovadora de representar a sociedade.

O reality show é o mais digital dos gêneros televisivos. A décima edição do Big Brother Brasil, que se encerrou no dia 30 de março, é a prova disso. Meio jogo, meio documentário e meio dramaturgia, o reality show padrão implodiu as fronteiras entre os diversos gêneros televisivos. Uma implosão que é característica do mundo contemporâneo e dialoga com a cultura digital. Além disso, o reality já nasceu como gênero multiplataforma, catalisando ações em internet, celular e outros meios. Por fim, na opinião de Newton Cannito, roteirista e diretor de televisão e autor do livro A televisão na era digital, o Big Brother é um exemplo de programa que "colou". "E ‘colou’ por ter abordado os mesmos temas da novela brasileira, mas criando uma forma inovadora de representar a sociedade, uma forma muito adequada à experiência contemporânea e à cultura digital", afirma.

No livro A televisão na era digital - Interatividade, convergência e novos modelos de negócio (264 p., R$ 63,90), lançamento da Summus Editorial, Cannito analisa o programa como um dos formatos de sucesso nesse período que não é apenas tecnológico, mas sobretudo social. "O pensamento na era digital é convergente e multiplataforma, ao contrário do analógico, que é divergente. Pensando em comportamento, pode-se arriscar que isso gera uma nova consciência, e no caso do BBB, uma nova consciência da ideia de jogo", afirma Cannito.

Nas primeiras edições do programa havia uma negação do jogo: os participantes se dividiam entre sinceros e falsos. "Todos, no entanto, abriram mão do que eram para assumir uma nova personalidade e tentar vencer. Isso foi mudando nas edições posteriores e culminou com a décima edição. A vitória de Dourado mostrou que o jogo foi plenamente aceito pelo público, que gosta da ideia do jogador, que faz o programa acontecer, cria os dramas e polêmicas e torna a proposta narrativa mais interessante", explica.

Quanto ao formato, a atual edição do BBB dialogou também com gêneros narrativos como a novela mexicana. Cannito cita no livro que em entrevista ao portal G1, Boninho, um dos produtores do formato no Brasil, revelou que embora interfira em um reality show, a edição do programa "tem elementos de humor e brinca com o tom dramatúrgico brasileiro". A aceitação pelo público de histórias montadas e dubladas revela maior compreensão de que o audiovisual é uma linguagem que enriquece o conteúdo quando utilizada dessa forma.

Além disso, Cannito aponta como uma das chaves de sucesso do programa a tentativa do público em desvendar se está assistindo a um reality ou a um show (contrariedade determinada já pelo nome do programa). "O BBB10 também arriscou mais nesse sentido, quando o gay Serginho e Fernanda aproximaram-se um do outro. No twitter, muitos usuários fizeram comentários sobre a dúvida de se aquilo era possível ou não, aceitando bem esse ‘mistério’", diz.

Outra característica digital do Big Brother é seu modelo de negócio. Mesmo com uma queda de audiência apontada pelo Ibope, o programa tem faturado cada vez mais em merchandisings, interatividade e outras fontes de receita. Isso prova que no mundo digital é necessário pensar novos modelos de negócio, que vão além da audiência do Ibope.

Perfil- No livro A televisão na era digital, Cannito vai na contramão dos que acreditam que a televisão vai virar internet e mostra como o digital potencializa a expressão televisiva. O autor fala sobre os desafios da televisão na era digital e apresenta propostas inovadoras para o desenvolvimento da TV nessa nova cultura.

Pioneira na abordagem do tema, a obra é referência para outros estudos sobre a TV digital no Brasil. Traz informações sobre o conteúdo dos programas e mostra como fazer televisão nesse novo momento. Já na introdução, o autor desconstrói vários mitos, entre eles: o de que a televisão vai desaparecer devido à internet; o de que a narrativa está com os dias contados; o de que o espectador do futuro será totalmente interativo; o de que a TV vai ser personalizada; e o de que todos vão querer ser realizadores de televisão. "Esses mitos surgiram nos últimos anos e vêm confundindo empresas e profissionais", afirma o autor.

Muito além de uma obra técnica, o livro é imprescindível para quem quer entender a cultura contemporânea e fazer televisão nesse novo contexto. A intenção do autor não é encontrar respostas definitivas para as inúmeras possibilidades que poderão delinear a televisão na era da convergência. "Não podemos errar na estratégia", afirma Cannito. Para ele, não dá mais para pensar na TV de forma segmentada. O objetivo, revela, é discutir qual programa poderá despertar o interesse do espectador, conquistar a audiência e se propagar socialmente.

Newton Cannito concilia a prática com a reflexão televisiva. É cocriador e roteirista-chefe da série 9mm: São Paulo (premiada pela APCA - Associação Paulista de Críticos de Arte, em 2008), transmitida pela FOX. Foi roteirista da série Cidade dos Homens e da novela Poder Paralelo, de Lauro César Muniz, transmitida pela Record. Atua ainda como supervisor artístico do Edital FICTV, programa público para a produção de seriados. Dirigiu documentários premiados como Jesus no mundo maravilha, exibido em televisões de 21 países e considerado pelo crítico Jean-Claude Bernardet uma "referência inevitável no documentário brasileiro contemporâneo". Doutorou-se em televisão pela Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP), é diretor do Instituto de Estudos de Televisão (IETV) e da Fábrica de Ideias Cinemáticas (FICs).

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