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16/04/2010 - 12:19

Bastidores da gestão educacional

Uma instituição de ensino tem como objetivo principal formar, desenvolver e qualificar pessoas. Afora essa peculiaridade, ela é uma organização como outra qualquer, que precisa de recursos financeiros para honrar suas obrigações e gerar ainda um saldo positivo para se manter. Por isso, é dever dos gestores de uma entidade educacional cuidar de sua sustentabilidade econômica.

No entanto, o setor — de ensino fundamental ao superior — passa hoje por um momento de consolidação e fusões, depois de enfrentar aumento da competição, queda de receita e concorrência predatória. Esse forte movimento das instituições de ensino impactou na sua gestão financeira. Com isso, elas tiveram que rever sua estrutura de custos, seu modelo de precificação, sua equipe de profissionais gestores e se adequar a uma nova realidade.

Algumas escolas criaram áreas de gestão financeira, que antes não existiam. Trouxeram profissionais financeiros de outros setores, já acostumados a uma maior competitividade. Foram levadas a identificar diferenciais em relação à concorrência para justificar uma mensalidade mais alta.

Todo esse quadro fez com que, para sobreviver, as instituições de ensino impusessem uma gestão financeira extremamente eficiente. E também que enfrentassem grandes desafios, principalmente com relação à gestão da inadimplência, diversificação de receita e diluição da demanda.

A inadimplência está associada, curiosamente, ao fato da educação não integrar a lista das prioridades da família brasileira – calcula-se que 3% do orçamento familiar seja destinado à educação. Por esse motivo, associado a uma legislação que protege o inadimplente, as instituições de ensino têm que lidar com um cenário em que o pagamento pelo seu serviço não é o principal. Como resultado, o setor de ensino privado tem uma das maiores taxas de inadimplência da economia. No ensino superior paulista, por exemplo, essa taxa chegou a 24,5% em 2008, segundo o Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior do Estado de São Paulo (Semesp).

No que tange à diversificação de receita, vale esclarecer que o setor educacional brasileiro é extremamente dependente das mensalidades dos alunos para a sua sustentabilidade financeira. No ensino superior, entre 85% e 90% da receita de uma instituição tem como origem as mensalidades dos alunos, de acordo com a Análise Setorial do Ensino Superior Privado (Hoper Educacional, 2009). Porém, já há alguns avanços, como a captação de patrocínio de empresas para projetos de infra-estrutura. Algumas instituições conseguem ainda bancar reformas em salas de aula ou auditório com recursos corporativos — em contrapartida, a empresa tem o direito a divulgar sua marca e até dar nome ao espaço.

Outra forma de diversificar a receita das instituições de ensino tem sido ofertar cursos e treinamentos fechados às empresas. Um outro jeito de aproveitar o conhecimento gerado na instituição de ensino é criar eventos de disseminação e discussão de conteúdos. Assim, é possível gerar receita ao promover seminários e eventos de debate, atraindo pessoas que querem obter mais conhecimento e organizações interessadas em se vincular de alguma forma àquele tema.

Por último, as instituições de ensino têm o desafio da diluição da demanda (quando aumento da oferta supera o crescimento da procura), que produz um impacto profundo na sua gestão financeira, já que, em tese, elas devem oferecer um produto com o mesmo nível de qualidade para um número menor de alunos. Nesse caso, uma das estratégias tem sido reduzir o preço médio da mensalidade para manter a mesma demanda (prática que exige alta capacidade gerencial) ou identificar um nicho específico para cobrar uma mensalidade maior para um volume menor de pessoas.

Enfim, o impacto desse novo momento para a gestão financeira nas organizações tem sido brutal. Análises sobre onde alocar os recursos escassos, como financiar os projetos e quanto do lucro destinar aos novos investimentos ganham contornos ainda mais importantes. Para as instituições de ensino, o momento requer uma gestão financeira mais cuidadosa devido às características específicas do setor. Porém, com o Brasil caminhando em direção ao progresso, a educação deve inevitavelmente se tornar um item de prioridade no orçamento das pessoas e nas políticas de Estado. Cabem, portanto, às instituições de ensino aprender a se reinventar e conseguir antever as necessidades e condições desse mundo emocionante que se avizinha.

. Por: Fernando Trevisan, diretor geral da Trevisan Escola de Negócios. | E-mail: [email protected]

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