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31/05/2007 - 09:38

Um Frei Galvão para a educação

Uma jovem repórter pergunta se a educação brasileira tem jeito, pelo menos a médio prazo. O que me veio a mente foi a figura do Papa Bento XVI, que no Brasil canonizou o Beato Frei Galvão, “um santo de reconciliação e de concórdia, sinal importante de uma personalidade que soube criar paz e também coerência social e humana.”

“Precisamos de um Frei Galvão para a educação. Resolver os seus problemas intrincados, hoje, só mesmo com a ajuda de um santo.”

São necessárias pílulas milagrosas para o que chamamos de “justiça ao magistério”. Há uma visão curiosa, imperando nos meios políticos e educacionais. Deseja-se ardentemente a qualidade, mas espera-se por um milagre. Os cursos de formação de professores não estão atualizados, as mesmas matérias resistem ao tempo, e paga-se ridicularmente a essa categoria, como se o sacerdócio completasse materialmente os salários. A todo momento é possível ouvir a desculpa esfarrapada: “O problema é que o magistério envolve muita gente. Se dermos o aumento, as finanças do Estado ficarão afetadas.” Como concordar com essa visão tacanha?

Tivemos uma febre estatística. Só se falava na universalização do ensino fundamental, que nem chegou a ser completada. Não havia uma preocupação oficial com o que se ministrava, com as reprovações, com a evasão crescente, com a perda de interesse pelas aulas, provocando muitas vezes lamentáveis deserções. No Rio, ex-capital do país, chegou-se à perfeição de dispensar, na avaliação, os conceitos de “ótimo” e “insuficiente”. Ou seja, todos passam de ano, estando ou não preparados. As prometidas aulas de reforço para os mais fracos se transformarão em utopia, dada a precariedade do tempo destinado às aulas, diariamente.

Volto a um exemplo que me deixou muito impressionado. Perguntei no Japão qual o tempo de permanência diária dos seus alunos de ensino básico nas escolas e a resposta veio numa quase perplexidade: — Aqui todos aprendem em tempo integral. Não há outra forma de dar educação.

Sobre as bibliotecas, uma abundância de livros em toda parte. As crianças que levam para casa e, à noite, antes de dormir, elas são acompanhadas pelos pais, com uma leitura praticamente diária. Crianças são iguais no mundo inteiro: quando gostam, pedem para repetir a história, nas noites seguintes.

Um registro que se faz indispensável: o livro é tratado de forma altamente respeitosa. Os seus leitores são obrigados a lavar as mãos antes de pegá-los, como se fosse um objeto religioso. Não é exatamente o que ocorre por aqui.

Esses são apenas uns poucos exemplos. Temos uma educação desigual, injusta e precária. Estamos à espera de um milagre ou da súbita compreensão das autoridades sobre as conseqüências para o futuro dessa lamentável desídia. Mais projetos são benvindos, desde que acompanhados dos indispensáveis recursos financeiros.

Por | Arnaldo Niskier ([email protected]) professor emérito da Eceme e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL).

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