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08/05/2010 - 09:39

A Eficiência da Medicina Laboratorial no Contexto Assistencial

Sabemos que a Medicina Diagnóstica é responsável por cerca de 70% das decisões médicas e absorve em torno de 10% dos custos em saúde; e está presente virtualmente em todos os protocolos e guidelines clínicos e em praticamente todas as especialidades médicas.

A boa utilização da Medicina Laboratorial, isto é, o uso racional da informação gerada das análises realizadas pelos diversos laboratórios disponíveis no mercado, é ponto chave para racionalização dos custos e também para a busca por resultados na cadeia de saúde. Segundo Porter1, essa busca por resultados deve ter como direcionadores a prevenção; o diagnóstico precoce e correto; o tratamento precoce, correto, menos invasivo e na causa da doença; foco no paciente certo; maior velocidade entre diagnóstico e tratamento; menor número de erros, complicações e repetições; um número menor de eventos agudos, seqüelas e reincidências; recuperações mais rápidas e menor necessidade de tratamentos em longo prazo.

Em termos de utilização de exames laboratoriais no processo assistencial de saúde, Walraven et al.2 estudaram um número significativo de exames e demonstraram que 73,5% destes encontravam-se dentro do valor de referência proposto e que de pacientes admitidos em um pronto-atendimento hospitalar e submetidos à dosagens laboratoriais, 21,7% haviam realizado a mesma dosagem em âmbito ambulatorial na semana anterior à hospitalização e 40% e 62,7% em 3 meses e 1 ano, respectivamente. Neste mesmo artigo, fontes citadas como Branger et al. demonstraram que 38% dos exames laboratoriais são repetidos dentro de um prazo de 8 meses e segundo Bates et al., 28,2% dos testes de rotina repetidos foram repetidos sem necessidade.

Ainda no ambiente hospitalar, excetuando as Unidades de Terapia Intensiva (UTI), 27% dos testes bioquímicos solicitados haviam sido realizados no dia anterior.

Dados da Associação Nacional dos Hospitais Privados 3 (ANAHP) demonstram uma média de 26 exames por internação hospitalar. Para a Agência Nacional de Saúde Suplementar4 (ANS), no ano de 2008, os gastos com exames representaram 20,9% dos gastos totais das operadoras da saúde com frequência média de utilização entre os anos de 2002 e 2007 variando entre 8,9% e 12,6%.

Poley et al.5 estudaram 27 laboratórios europeus e demonstraram redução de 3% nos custos com exames laboratoriais por meio de utilização de sistemas de suporte à decisão baseado em protocolos previamente definidos.

Certamente conhecemos alguém que teve seu período de internação prolongado devido à espera de um resultado de exame. Com foco na velocidade entre o diagnóstico e o tratamento, Holland et al.6 demonstrou a relação entre o tempo total de liberação de resultados (TAT – Turn Around Time) e o impacto na diminuição do tempo médio de atendimento em pronto-socorro. Segundo os autores, uma baixa performance do laboratório que acarreta atrasos nos resultados dos exames é um impedimento para a otimização dos cuidados assistenciais.Para Howanitz et al.7 o indicador de tempo de liberação de resultados (TAT – Turn Around Time) é um atributo estratégico do laboratório e tempos de reporte de resultados longos resultam em duplicação de solicitações de exames e aumento dos custos.

Na busca por resultados em saúde, referente à diminuição de erros, complicações e repetições citados por Porter, destacamos a fase pré-analítica, por ser dentro dos processos laboratoriais a etapa de maior contribuição para os erros laboratoriais. Segundo Akan et al.8 o erro mais comum desta fase, em ambientes hospitalares, é a informação incorreta do paciente presente nos sistemas de solicitação de exames, responsável por até 23,5% destas ocorrências, seguido de incongruência entre os testes solicitados e a informação introduzida manualmente no sistema, até 10,1%, e volume insuficiente das amostras em 3,2% dos casos. Bonini, PA e Plebani, M.9, em artigo de revisão de erros em laboratórios, destacam que 75% dos resultados laboratoriais com erros estão dentro dos valores de referência propostos, 12,5% destes são erros absurdos e não considerados clinicamente e os 12,5% restantes afetam a saúde do paciente. Nos artigos revistos, a fase pré-analítica mostrou-se responsável por 31,6% a 75% dos erros, a fase analítica por 13,3% a 31,6% e a etapa pós-analítica 9% a 30,8%. Como fase pós-analítica, está considerada as respostas ou reações frente aos resultados laboratoriais e a interpretação clínica destes.

O estudo de custo-efetividade dos ensaios laboratoriais, no contexto assistencial como provedor de benefícios ao paciente tende a ser cada vez mais abordado. Hernandez, JS.10 revisando o tema destaca seis diferentes níveis necessários para o estudo da custo-efetividade: qualidade técnica; sensibilidade, especificidade e acurácia; potencialidade de modificação do pensamento clínico pelo resultado reportado; efeito no manejo do paciente; efeito nos resultado sobre o paciente e impacto sobre os custos. Citando Pfister et al., o autor sugere três diferentes âmbitos para análise da custo-efetividade.

A Performance do Teste: analisada por sua sensibilidade, especificidade, reprodutibilidade, capacidade de produção dos equipamentos disponíveis, tempo de liberação de resultados, necessidades especificas no momento da coleta e tipo de amostra; O Custo do Teste: custos diretos e indiretos do teste (fase analítica), necessidade de pessoal, equipamentos e instalações; e Fatores Epidemiológicos: prevalência da doença em questão, possibilidade de realização de testes de triagem populacional ou utilização de terapia empírica, variáveis e interferentes.

A medicina laboratorial contribui de forma significativa para o desfecho assistencial focado no paciente. A possibilidade de redução de dias de internação, diagnósticos cada vez mais precoces, um número menor de repetições e, conseqüentemente, de gastos desnecessários, faz desta especialidade uma ferramenta importante na assistência à saúde.

A correlação clínico-laboratorial e a utilização racional dos diversos tipos de exames disponíveis, bem como a gestão da informação alinhada ao uso da medicina laboratorial baseada em evidências, trazem benefícios a toda a cadeia de saúde, em termos de resultados operacionais e financeiros e também são fontes geradoras de maior segurança ao paciente.

Referências: 1) Porter, M. - Harvard Business Review, 2004 | 2) Walraven et al. Clinical Chemistry, 2003 | 3) ANAHP – www.anahp.com.br | 4) ANS – www.ans.org.br | 5) Poley et al. Clinical Chemistry, 2007 | 6) Holland et al. American Journal of Clinical Pathology, 2005 | 7) Howanitz et al. American Journal of Clinical Pathology, 2001 | 8) Akan et al. Labmedicine, 2006 | 9) Bonini et al. Clinical Chemistry, 2002 | 10) Hernandez JS. Archives of Pathology and Laboratory Medicine, 2003.

. Por: Carmen Paz Oplustil e Gustavo A. Campana, sócios da Formato Clínico, empresa que desenvolve projetos em medicina diagnóstica

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