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05/06/2007 - 10:34

Exportar álcool ou exportar inteligência?

O Brasil e, especialmente, o Estado de São Paulo, vive uma fase de euforia diante das possibilidades abertas pelo avanço do álcool e do biodiesel como alternativas energéticas menos poluentes. Não é para menos. Dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA) indicam que as exportações do agronegócio paulista – puxadas pelo complexo açúcar/álcool - cresceram 34,2% entre janeiro e abril, em comparação com o mesmo período de 2006. Isso representou a entrada de US$ 4,75 bilhões e um saldo positivo de US$ 3,16 bilhões, nada menos que 35,6% superior ao registrado no mesmo período do ano anterior.

O avanço geográfico da cultura da cana em São Paulo também é notável. A área ocupada por esse cultivo cresceu, nos últimos cinco anos, 30% em São Paulo, que responde pela metade da produção nacional de álcool. Em 2010, quando estiverem em operação 30 novas usinas projetadas, 29% da área agricultável do estado se verá coberta por esse verdadeiro ouro verde. Até 2012, estima-se a entrada em funcionamento de 77 novas usinas de álcool e açúcar no Centro-Sul do país. São, claro, ótimas notícias, mais ainda porque os preços internacionais do açúcar estão aquecidos – aproximam-se de US$ 16 por libra.

Tudo isso significa mais recursos no país, empregos, desenvolvimento.

Mas tudo isso pode significar muito pouco, se o país enxergar-se apenas como um grande produtor e exportador de açúcar e cana. A tentação é evidente: o país produziu 17,3 bilhões de litros de álcool na última safra, exportando 3,5 bilhões de litros. Há muito a avançar, já que inúmeros países, pressionados pela opinião pública, diante da divulgação da dimensão do efeito-estufa, estão adotando a adição de álcool à gasolina. Isso vale para a Suíça, Colômbia, Venezuela e, mais recentemente, o Japão e a Índia. Isso representa mais empregos, prosperidade e desenvolvimento.

O problema é que a transformação do Brasil em uma Arábia Saudita do álcool (e apenas isso) é muito pouco. Isso porque o álcool é uma commodity, com baixo valor agregado. E os maiores lucros do comércio internacional de qualquer commodity ficam muito menos nas mãos de quem a produz e, muito mais, de posse de quem agrega a elas serviços, tecnologia, enfim, valor.

Hoje, é verdade, os preços das commodities estão altos, porque a demanda é crescente. Mas, se eventualmente as cotações do álcool caírem, uma dependência excessiva levará a flutuações terríveis, como a que abalou economias baseadas no petróleo – vide Venezuela e Nigéria – nos anos 80 e 90.

São Paulo precisa é se tornar exportador da inteligência da cadeia da cana de açúcar. Não apenas plantar cana e produzir álcool, mas apostar na indústria de equipamentos e alcoolquímica, aproximar agricultores, centros de pesquisa, universidades e empresas; começar a produzir em outros países – o que poderá levar à recuperação de economias hoje em crise, como as da África Subsaariana e da América Central. Tudo isso gerará muito mais empregos, demandará técnicos muito mais especializados, dividirá muito melhor a renda nacional e modernizará muito mais nossa sociedade.

Para que isso ocorra, é necessário integrar todos aqueles que podem agregar valor a essa cultura tão preciosa. Precisamos, na verdade, de um grande projeto econômico – unindo o poder público, a iniciativa privada e os centros de pesquisa – e que apresente futuro ao negócio da cana de açúcar. Se acertarmos o passo, esse pode ser o primeiro degrau para que o Brasil finalmente ingresse no seleto clube dos países desenvolvidos.

. Por: Paulo Automai, Empresário, presidente do PSDB em São Carlos (SP)

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