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Consumo e cooperativismo

Os dois últimos meses do ano trazem consigo uma palavra marcante: consumo. A época abre espaço, então, para um questionamento. Envolvidos por um sistema altamente consumista, não nos damos conta de que a falta de pesquisas sobre os preços da concorrência, mesmo que de maneira superficial, causa enormes prejuízos. A oscilação do valor de um mesmo produto chega a mais de 100%, dependendo do estabelecimento. Um passo importante é estudar o porquê dessa dança dos números.

Em uma visão mais superficial, poderíamos entender que a sede de altos lucros na comercialização de diversos produtos denota um perfil empresarial ganancioso e pouco preocupado com a manutenção ou longevidade do negócio. Lucro alto e imediato seria o lema. Mas, se analisarmos a questão mais profundamente, perceberemos que o fenômeno deriva de um comportamento cultural do consumidor brasileiro que, mesmo tendo evoluído muito, apoiado por diversas campanhas de valorização e, principalmente, pelo advento do Código de Defesa do Consumidor, ainda mantém um traço tupiniquim que o caracteriza como um consumidor imaturo.

Essa característica fica ainda mais marcante quando nos deparamos com algumas marcas muito conhecidas, as chamadas grifes, e algumas de suas publicidades, que ousam nos taxar de estúpidos, afrontando a inteligência e o bom senso. Afinal, é ilusório crer que uma instituição financeira, por exemplo, se preocupe em remunerar seu cliente acima do que pretende, ela própria, aferir de lucros com o uso de seu dinheiro. As pessoas que hoje se deixam levar por essa utopia são presas fáceis da onda consumista.

Como, então, combater essa disseminação de letargia consumista e enfrentar tais abusos? A resposta não é exata, pois não existe uma saída única. Tampouco a saída perfeita. Mas, podemos usar o poder de consumo que possuímos e, com ele, criar uma consciência objetiva em relação à defesa do poder econômico que temos em mãos.

Nesse sentido, o sistema cooperativo aparece como fonte inesgotável de oportunidades de reciclagem desse comportamento. O consumidor – e ele traduz-se em “todos nós” – carrega uma arma poderosa contra os atravessadores que operam na cadeia varejista. Ele pode eliminar, de maneira lógica e simples, a distância abissal que existe entre a produção e o consumo, denominada comumente de comercialização.

Não se prega nem se condenada o princípio da livre iniciativa do comércio. Pelo contrário. O que se deseja é estabelecer um equilíbrio para essa balança, de forma que se tenha influência na composição dos preços de produtos ou serviços, sem que o consumidor tenha que se submeter à vontade e ganância alheia.

A sociedade cooperativa de consumo é nada mais, nada menos, que um grande empreendimento econômico, de livre iniciativa, apoiado em uma legislação abrangente, fomentado pela Constituição e alicerçado na crença incontestável de que o todo é maior que o indivíduo. Cooperação mútua para um objetivo comum é a mola propulsora da criação de uma cooperativa de consumo, eliminando o “atravessador”, dando oportunidade aos sócios do empreendimento de comprarem diretamente das indústrias, ou até mesmo de criarem marcas próprias, produtos que serão adquiridos e consumidos por preços invariavelmente mais baixos.

Torna possível que o cooperado, com o potencial econômico que detém, crie para si e para seus pares um “negócio cooperativo”, onde se mescla a figura do empresário e do consumidor. Nesse modelo, o processo de circulação de valores se encontra em condição ímpar. O sócio da cooperativa, investidor e empresário do negócio cooperativo, compra para si e para os demais cooperados produtos diretamente dos produtores, sem objetivar lucro, mas gerando uma cadeia de consumo e resultados positivos, dos quais todos irão usufruir.

O sistema de cooperativas de consumo não deve, porém, apenas ficar restrito à junção de interesses de consumidores pessoas físicas. Tanto que muitos empresários estão buscando consultoria para implantar esse modelo racional de aquisição de bens e produtos de consumo em seus empreendimentos. Nada mais lógico. O mercado regra-se por uma lei inquestionável: a da oferta e procura. A sociedade cooperativa de consumo pode trazer um novo alento a determinados nichos, onde hoje é impossível se estabelecer um equilíbrio entre capacidade de consumo e oferta de produtos. Dessa forma, o cooperado eleva-se a um nível diferencial de consumidor. Não é com isso que sempre sonhamos. Deter o destino de nossa vontade. Pois bem. Várias são as aplicações do conceito de cooperativismo. A de consumo é apenas uma delas. Mas guarda uma oportunidade única dentro de seu conceito.

. Daniel Augusto Maddalena é consultor especializado em cooperativismo

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