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27/05/2010 - 08:50

Água virtual em Minas Gerais: até onde água mineira pode chegar?

Segundo os dados da Organização das Nações Unidas (ONU), uma pessoa necessita de cerca de 110 litros de água por dia para atender as necessidades de consumo direto e higiene. No Brasil, entre a água para beber, tomar banho, escovar os dentes, etc. esse consumo pode chegar a mais de 200 litros, dependendo da região. Parece muito, mas o consumo de água para uso doméstico representa pouco mais de 15% do consumo total de água no Brasil, sendo que a agricultura consome mais de 60% dos recursos hídricos do país. Neste sentido, considerar que a água é um recurso natural abundante no Brasil é, no mínimo, arriscado já que temos cerca de 80% da água brasileira concentrada na região amazônica, onde vive pouco menos de 20% da população.

O conflito pelo uso da água nas regiões mais urbanizadas deve ser encarado, então, como um problema de planejamento cada vez mais relevante ao se considerar que parte dessa água ainda pode ser “exportada” em forma de commodities agrícolas. Um conceito que vem ganhando espaço para entender a relação do uso dos recursos naturais com a vida das pessoas é o conceito de água virtual.

Ele diz respeito ao volume de água que estaria “escondido” por detrás da produção de cada coisa que produzimos. Assim, ele considera não apenas o uso de água direto, mas também toda a água utilizada na cadeia produtiva de um determinado produto. Por exemplo, quando consumimos um copo de cerveja (250 ml), são necessários cerca de 75 litros de água desde a produção de seus ingredientes agrícolas até todas as etapas de produção industrial.

Em Minas Gerais, considerando os dados de exportação de produtos agrícolas mais importantes em termos da balança comercial (café, soja, açúcar), foram exportados um volume total de 90 bilhões de m3 de água no ano de 2009. Ou seja, se considerarmos o volume de água necessário para produção de cada uma dessas commodities, teríamos exportado juntamente com esses produtos, no ano passado, o equivalente ao consumo de água sugerido pela ONU para toda a população de Belo Horizonte ao longo do ano.

Assim, com a concorrência dos usos de recursos hídricos em suas múltiplas esferas de interesse, o uso racional de água nas áreas urbanas se torna mais importante. Se seu uso mais intensivo é no setor agrícola, nas áreas urbanas a busca pela universalização de água de qualidade para o consumo doméstico ainda é um desafio, pois além do consumo agrícola ainda demanda investimentos importantes no setor de tratamento de esgoto. Os dados sobre tratamento de esgoto coletados pelo IBGE (em 2000) mostram que menos de 10% dos distritos mineiros que possuíam rede coletora, apresentavam algum tipo de tratamento antes da destinação final. É verdade que muitos investimentos foram realizados; nos últimos sete anos, considerando apenas os dados da Copasa, o volume de esgoto tratado teve um aumento de 127%, passando de 31 estações de tratamento de esgoto para um total de 96 em 2009. Entretanto, a ausência de um sistema de acompanhamento das informações sobre saneamento básico regular, pode comprometer a capacidade do governo de planejar e direcionar investimentos adequadamente.

Com este objetivo, o Centro de Estatística e Informações (CEI) da Fundação João Pinheiro desenvolve em Minas Gerais o Sistema Estadual de Informações Sobre Saneamento (SEIS). A partir de maio, a equipe do SEIS estará visitando os 853 municípios mineiros no intuito de coletar informações sobre o sistema de saneamento básico. De acordo com Ricardo Ojima, pesquisador da Fundação João Pinheiro, com estas informações, os gestores municipais e estaduais poderão orientar melhor os investimentos em saneamento básico e monitorar os resultados dessas ações, já que o projeto realizará os levantamentos de forma anual, regular e contínua.
Volume de água virtual por produto selecionado (litros/Kg):
Produto.....................................................Água virtual (l/m3)
Café...........................................................13.972
Óleo de soja................................................2.048
Açúcar........................................................ 1.265
Soja.............................................................1.076
Derivados de óleo de soja.............................895
. Fonte: Hoekstra and Hung, 2002.  

Perfil- A Fundação João Pinheiro é uma instituição pública vinculada à Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão e é o órgão oficial de estatística de Minas Gerais. Atua nas áreas de ensino e pesquisa em administração pública, avaliação de políticas públicas e na produção de indicadores estatísticos, econômicos, demográficos e sociais. Presta serviços aos governos estaduais e federal, prefeituras, câmaras municipais, organismos nacionais e internacionais, universidades, empresas privadas e entidades representativas de diversos segmentos sociais.

. Por: Ricardo Ojima, doutor em Demografia (NEPO/Unicamp) e mestre em sociologia (IFCH/Unicamp). Gestor de ensino e pesquisa da Fundação João Pinheiro (FJP-MG) e pesquisador colaborador do Depto de Demografia (DD/IFCH/Unicamp). coordenador técnico do Sistema Estadual de Informações sobre Saneamento (SEIS/MG). E-mail: [email protected].

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