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17/06/2010 - 09:50

Bilhete ao eleito

Sr. Candidato Eleito, gostaria de cumprimentá-lo pela vitória nas próximas eleições. Imagino que, a esta altura, ao término da comemoração, o Sr. há de encontrar um momento de extrema solidão diante do oceano infinito de desafios e da consciência da pequenez do barco que vai conduzir diante de um mar revolto. Por onde começar? Deve ser uma pergunta recorrente. Idéias e interesses se confundem. A sociedade questiona. São numerosas as demandas e muitos disputam o destaque de uma prioridade, quando sabemos que tudo é prioritário. Aliás, Sr. Candidato Eleito, lamentavelmente não estamos tratando de coisa nova. Em 1.917 o poeta Olavo Bilac escreveu um prefácio para o livro Lendas e Tradições Brasileiras, de Affonso Arinos. Dizia o poeta, em janeiro daquele ano:

“Affonso Arinos resumiu, com precisão cruel, os males que nos adoecem e nos envergonham: a dispersão dos bons esforços; o desamparo do povo do interior, dócil e resignado, roído de epidemias e de impostos; a falta de ensino; a desorganização administrativa; a incompetência econômica; a insuficiência; a ignorância petulante e egoísta dos que governam este imenso território, em que ainda não existe uma nação...”. Qualquer semelhança com os tempos que vivemos, não é mera coincidência.

Lembramos do seu discurso, Sr. Candidato Eleito, de que tudo começa com a educação, que, aliás, foi o tema que dominou também as campanhas dos seus concorrentes. Os debates foram intensos e tenho que admitir que estamos cansados. Os cidadãos estão envolvidos, as metas mais do que definidas; sabemos que as escolas precisam melhorar a qualidade, ampliando as oportunidades para os excluídos da tecnologia. Enfim, já sabemos o que e como fazer. O que tem faltado é determinação e capacidade de decisão. O Brasil, meu Sr., um país rico em energia e recursos naturais, é também um país pobre. O Japão, que é um país pobre em recursos naturais, é um país rico. Os países ricos são ricos porque produzem riqueza. E os países pobres não são ricos porque não conseguem produzir riqueza em quantidade suficiente para o seu povo. Atentos a esta condição, nações ricas investem na pesquisa científica e tecnológica. Eles nos vendem uma placa de computador, que pesa 100g, por US$ 250. Para pagarmos esta plaquinha eletrônica, precisamos exportar 20 toneladas de minério de ferro. A fabricação de placas de computador criou milhares de bons empregos no estrangeiro, enquanto a extração do minério de ferro cria pouquíssimos e péssimos empregos aqui no Brasil. Agora sabemos que, para o nosso Brasil tornar-se um país rico, com o seu povo vivendo com dignidade, temos que produzir mais riquezas. E de nada adianta tentar lançar responsabilidades para os países ricos. Eles já fizeram a lição de casa.

A nossa riqueza está no campo e nas indústrias que se distribuem pelo imenso território do Brasil. E aí eu lembro novamente das promessas do período das eleições. Todos garantiram o desenvolvimento da produção, na cidade e no campo. Mas de nada adianta aumentar a produção se não forem criadas vias de escoamento adequado. Elas é que vão fazer a riqueza circular, distribuindo os produtos para todos, e não só para alguns privilegiados. A eficiência destas vias é que vai reduzir o custo dos produtos e isso depende muito de nós, engenheiros. No Brasil todo somos quase 800 mil profissionais, tão ou mais inteligentes do que qualquer engenheiro americano, japonês ou alemão. Os sonhos dos brasileiros passam por políticas públicas para as suas regiões, destacando a necessidade de organização em torno de planos diretores que levem em conta a descentralização, as soluções compartilhadas, o estímulo a políticas de geração intensiva de mão de obra para garantir emprego aos excluídos da tecnologia e o incentivo à educação em todos os seus níveis para garantir e ampliar oportunidades. Eis aqui, meu Sr., nossa disposição para auxiliar em muitas das decisões difíceis que deverão ser tomadas a partir de agora. Lembramos que gestão e governança são os instrumentos para obter respostas aos desafios colocados.

. Por: Luiz Cláudio Mehl ([email protected]), engenheiro civil formado pela UFPR, especializado em Engenharia Ambiental. Também é membro do conselho consultivo do IEP (Instituto de Engenharia do Paraná) e coordenador do seminário Projeto País - Governança e Gestão - Desafios da Infraestrutura e Engenharia Brasileira, que acontece hoje e amanhã, em Curitiba.

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