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24/06/2010 - 08:50

Uma gota de sangue, de Demétrio Magnoli, das origens do racismo aos sistemas de cotas no Brasil

Demétrio Magnoli investiga diversas manifestações de multiculturalismo e de ação afirmativa e mostra que são legítimas herdeiras das antigas políticas de segregação racial.

Uma gota de sangue – História do pensamento racial, escrito pelo sociólogo Demétrio Magnoli e lançado pela Editora Contexto, conta a história de um engano de 200 anos: o tempo da invenção, desinvenção e reinvenção do mito da raça. O nosso tempo. “Raças não existem, mas o mito da raça existe e tem uma influência política muito grande, existe a política da raça”, diz Magnoli. O racismo é a ideia que há diferença hierárquica nas raças. E essa teoria surge na imaginação científica no século XIX, junto com a expansão das potências europeias na África e na Ásia.

O mito da raça está atrelado a um paroxismo sangrento, como o momento máximo de Hitler e do holocausto na Segunda Guerra Mundial. “Logo depois da Segunda Guerra, a humanidade desinventa a raça e desiste de pensar em raça, renuncia, abdica a esse mito”, completa. No entanto, esse mito não desaparece, ao longo de todo o século XX, ele marca a história dos Estados Unidos, com as leis de segregação racial, marca a história da África do Sul com o apartheid, e a história de diversos países. E hoje, início do século XXI, o mito da raça renasce sob a forma de políticas de discriminação reversa. “É como se a raça pudesse ser usada para o bem”.

Uma gota de sangue conta essa história, a história dos personagens que inventaram a raça e a dos que lutaram contra essa invenção; as relações, extremamente tensas, entre a ideia de raça e a organização das sociedades ao longo dos séculos. É a história do encontro do mito da raça com a política. Esse encontro que produziu tantas tragédias e continua a marcar o mundo atualmente. É uma história de ideias, de pessoas e de conflitos sociais que até hoje prosseguem.

Cuidadosamente documentado, o livro trata de diversas manifestações de segregação no planeta, do Ocidente ao Oriente. No Brasil, a República tinha três anos e a abolição, quatro, quando surgiu o jornal O Exemplo, de Porto Alegre, nosso primeiro órgão de “imprensa negra”. Porém, isso não significou e nem significa que o país está fora dos parâmetros racistas do resto do mundo. Aqui o racismo é subterrâneo, enquanto nos Estados Unidos é escancarado. Demétrio relata todas as grandes lutas, as organizações e os personagens que desde a “abolição” procuraram por igualdade. Quando chega à atualidade, o autor escancara os problemas gerados pelas políticas de cotas raciais e pelo paradigma multiculturalista da raça aplicado ao ensino.

O autor ressalta que quando se fala em raça não se fala em apenas brancos ou pretos. Mas também de indígenas bolivianos, de malaios e chineses na Indonésia, de hutus e tutsis em Ruanda, de inúmeros grupos étnicos na Nigéria, de castas na Índia. “Tudo isso tem a ver ainda com o conceito de que as pessoas se diferenciam devido a algo como uma gota de sangue, que elas possuem diferenças essenciais e que essas diferenças fragmentam a sociedade em famílias de seres humanos. Essa ideia atormenta a humanidade até hoje”, conclui Demétrio Magnoli.

Demétrio Magnoli é sociólogo, doutor em Geografia Humana pelo Departamento de Geografia da fflch-usp e integrante do Grupo de Análises de Conjuntura Internacional (Gacint) da usp. Foi colunista semanal da Folha de S. Paulo entre 2004 e 2006. Desde 2006, é colunista de O Estado de S. Paulo e O Globo. Desde 1993, é diretor editorial do boletim Mundo – Geografia e Política Internacional. Organizou as obras História das Guerras e História da Paz, ambas publicadas pela Editora Contexto. [ Formato: 16x 23 cm | 400 páginas | Preço: R$ 49,90].

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