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16/07/2010 - 10:17

Há uma pedagogia para a infância?

Para falarmos sobre, se há ou não uma pedagogia para a infância, precisamos primeiramente, buscar na História da Educação, àqueles que pensaram na educação para as gerações passadas para então concluirmos sobre a pergunta acima colocada.

Sabemos, porém, que a construção do conceito de criança e infância transformou-se ao longo dos anos. No século XVII, por exemplo, Locke compreendia a criança como “um vazio a ser preenchido” ou “tabula rasa”, um ser que precisava ser preparado para que aprendesse conhecimentos e desenvolvesse habilidades a fim de enfrentar os anos escolares obrigatórios.

Já no século XVIII, a criança de Rousseau é um ser inocente, que possui bondade natural em sua essência, sendo a sociedade responsável por corromper sua bondade nata. Deste modo, a partir desta crença, os adultos criam um ambiente de extrema segurança e proteção do mundo ameaçador, violento e perigoso que as cerca. Atualmente percebemos que esta crença não respeita a criança como indivíduo, ao excluí-la do mundo, ao qual ela já pertence.

Não podemos nos esquecer de outros grandes pensadores que em épocas e culturas diferentes fizeram estudos e experiências que os possibilitaram apresentar à humanidade, propostas para a educação de crianças baseadas em princípios filosóficos e pedagógicos que, nos tempos atuais, podem ser definidos como pilares de uma educação para infância.

Inúmeros são os educadores, filósofos, psicólogos e cientistas que pensaram o desenvolvimento infantil, mas não podemos deixar de destacar alguns deles, como por exemplo, Fröebel, um dos primeiros educadores que considerou a infância como uma fase importante e decisiva na formação das pessoas. Ou então, Maria Montessori que acreditava que a educação é uma conquista da criança e defendia que a individualidade, atividade e liberdade do aluno deviam permear uma proposta pedagógica. Célestin Freinet, em pleno século XIX, lutava contra o ensino tradicional, centrado no professor e na cultura enciclopédica e defendia uma educação ativa em torno do aluno. Lev Semenovich Vygotsky, por sua vez, acreditava que a escola é o lugar social privilegiado para o desenvolvimento das crianças e para compreender a relação entre os processos de aprendizagem e desenvolvimento. Jerome Bruner via a criança como indivíduo “multivocal”, proativo, repleto de potencialidades, habilidades, intencionalidade e possuidor de saberes construídos, John Dewey destacava que a função social da educação era uma forma de ação política que se dava por meio das interações do indivíduo na sociedade, Malaguzzi compreendia a criança como um sujeito único, complexo e individual, revelando a visão de criança rica, capaz de surpreender e de contribuir com seus conhecimentos próprios e Piaget defendia uma concepção construtivista, ou seja, o conhecimento é um processo de criação e construção que se dá a partir de conhecimentos e idéias anteriores.

Os estudiosos acima trouxeram para nós educadores uma contribuição muito valiosa na construção de uma pedagogia para a infância. A concepção de infância/criança, de educação e de sociedade levou-os a formular teorias condizentes com essas concepções e que hoje, no século XXI, são importantes e aparecem em nossos projetos pedagógicos.

Os pressupostos pensados para o desenvolvimento da educação da época em que cada um viveu são: educação para a prática da democracia, autonomia da criança, cognição, afeto e socialização, trabalho e capacitação do aluno para a transformação do meio. Além disso, oferecem técnicas, que consideramos motivadoras e que envolvem o aluno, oportunizando a sua participação e garantindo, assim, o alcance dos pressupostos já mencionados.

A pedagogia para a infância do século XXI deve ter como pressupostos a preparação para uma vida cidadã, onde crianças têm direitos e deveres, perfil transformador, autonomia, independência, liberdade, justiça, paz e uma visão globalizada.

Atualmente, surgem novas perspectivas de criança e infância, baseadas em estudos construcionistas e pós-modernos na Filosofia, Psicologia e Sociologia. As crianças possuem seu próprio lugar na sociedade, elas podem participar de decisões democráticas, falar, serem ouvidas e acima de tudo, serem respeitadas.

A infância é compreendida por construção social, contextualizada no tempo, espaço e cultura, variando segundo gênero e condições socioeconômicas. Deste modo não há somente uma infância universal, pois se tratam de crianças diferentes com infâncias diferentes. A criança passa a ser vista como co-construtora de sua identidade, conhecimento e cultura, um ser único, complexo, individual, rico em potencial.

Este olhar diferente demonstra concepções de crianças ativas, que constroem conhecimento e dão significado às suas aprendizagens à medida que exercem a cidadania e influenciam o mundo que as cercam como co-construtoras ativas.

Além das técnicas já apresentadas pelos pensadores buscados, outras são incluídas, tendo em vista os recursos tecnológicos que estão à disposição do fazer educativo de nosso tempo.

A escola de hoje tem à disposição recursos teóricos capazes de subsidiar uma pedagogia que promove o desenvolvimento pessoal, social e cultural de nossos educandos. É preciso, porém, que os professores e os gestores dessa educação conheçam o perfil dos educandos e as teorias que orientam a construção de uma proposta pedagógica capaz de desenvolver “os ideais da paz, da liberdade e da justiça social” (DELORS, 2000).

Consideramos que os educadores que trabalham com a infância necessitam de aperfeiçoamento contínuo, buscando cada vez mais aprimorar o seu trabalho pedagógico e com isso trazer uma maior qualidade para a educação, bem como, é preciso que acreditem que a educação pode transformar.

Concluímos que a escola e os sistemas educacionais têm à disposição, pedagogias já desenvolvidas no passado que unidas com estudos recentes na área de filosofia, psicologia, sociologia, didática e metodologias podem constituir uma pedagogia para a infância do século XXI.

. Por: Nilza Eller Barros Leal, mestre em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo e Coordenadora da Educação Infantil e do 1º ano do Ensino Fundamental do Colégio Humboldt, São Paulo. |. Rebeca Boldrin de Oliveira é pedagoga formada pela Universidade de São Paulo e Professora da Educação Infantil do Colégio Humboldt, São Paulo.

. Referências bibliográficas: Bruner, J. S. Realidades mentais, mundos possíveis. Porto Alegre: Artmed, 2002 | Juego, Pensamiento e Lenguaje. In: Perspectivas, 1986. | Carbonell, J. (org) Pedagogias do século XX. Porto Alegre: Artmed, 2000 – Dewey e Piaget. | Dahlberg, M. P – Qualidade na Educação Infantil. Perspectivas pós-modernas. Porto Alegre: Artmed, 2003. | DELORS, Jacques. Educação: Um tesouro a descobrir. Relatório para Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. São Paulo: Cortez, 2000. | DEWEY, J. Vida e educação. São Paulo: Melhoramentos, 1954. | Edwards, C. e Gandini, l. e FORMAN, G. ( orgs.). As cem linguagens da criança. Porto Alegre: Artmed, 1999. | Formosinho, J.O.,Kishimoto,T. M. ;PInazza, M.A. (OrgS.) Pedagogia (s) da Infância, Dialogando com o passado, Construindo o futuro. Porto Alegre: Artmed, 2007. | Kishimoto, T. M. Bruner: uma pedagogia da infância. Conhecimento local e conhecimento universal: diversidade, mídias e tecnologias na educação. Curitiba: Editora Universitária Champagnat, 2004. | www.revistanovaescola.abril.com.br. Friedrich Froebel. O formador das crianças pequenas. Acesso em 8 /8/ 09. | www.pedagogia.com.br/artigos/infanciaatualidade. Teixeira, Kelly Cristina. Infância e atualidade: A concepção de infância. Acesso em 29/07/09.

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