Brasil será palco do primeiro evento internacional sobre infra-estrutura eletrônica

Além de mostrar novidades e propiciar a troca de experiências, a conferência aproximará pesquisadores europeus e latino-americanos de financiadores e empresários.

De 25 a 28 de junho, o Brasil será sede da 1ª Conferência Internacional de eInfra-estrutura (First International eInfrastructure Conference), que reunirá, no Hotel Glória, no Rio de Janeiro, cerca de 80 palestrantes europeus e latino-americanos, além de 250 participantes, formando uma platéia seleta, composta por pesquisadores, representantes de governos e líderes empresariais. O evento é organizado por dois importantes projetos de integração de pesquisas em nível mundial: o Belief (Bringing Europe’s eLectronic Infrastructures to Expanding Frontiers) e o EELA (eInfrastructure Shared Between Europe and Latin America).

A conferência visa aumentar a sinergia entre estes dois projetos financiados pela Comunidade Européia, divulgando o que as infra-estruturas eletrônicas podem trazer de benefícios em diversos campos do conhecimento, com especial foco na colaboração entre América Latina e União Européia. Dessa forma, o evento reunirá especialistas para trocar conhecimento, experiências, melhores práticas referentes às eInfra-estruturas e também proporcionar negócios.

“É a primeira vez que essas duas entidades se unem para promover um evento sobre infra-estrutura eletrônica. Porém, o objetivo deste encontro não será apenas divulgar os avanços nesta área e mostrar as inovações tecnológicas, mas principalmente queremos ouvir quais as necessidades das empresas e propor a elas soluções práticas. Queremos um tom maior na área de negócios neste evento, saindo das discussões puramente acadêmicas para ações concretas, inclusive para atrair investidores para os projetos”, observa Edison Spina, professor do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais da Escola Politécnica da USP e membro do comitê organizador do evento.

O professor Spina explica que, assim como as pessoas hoje estão conectadas mundialmente via internet, o mesmo ocorre com os centros de pesquisas, que desenvolveram uma gigantesca e complexa infra-estrutura eletrônica. Neste universo, a palavra-chave é “compartilhamento”, não apenas de informações e conhecimentos, mas de processamento, tecnologia conhecida como Grid Computing (Computação em Grade) - diversos computadores, às vezes milhares espalhados pelo mundo, “emprestam” parte do seu processamento para um projeto ou uma tarefa, quase sempre para realizar cálculos complexos que levariam muito tempo para serem concluídos. Cada computador faz uma pequena parte, mas a soma deles equivale a um supercomputador.

“Um banco, por exemplo, utiliza cálculos complexos para análise de riscos, que necessitam de computadores com grande poder de processamento. Esta é uma aplicação que poderia se beneficiar com a tecnologia de Grid Computing. Naturalmente, por se tratar de informações sigilosas, o banco quer saber sobre o grau de segurança. Este será um tema que estaremos debatendo no evento”, adianta Spina. “Como os celulares hoje são verdadeiros computadores de mão, há pesquisas em andamento sobre Mobile Grid, ou seja, formar redes de celulares para realizar tarefas específicas. Este é um assunto que deverá interessar as operadoras de telefonia”, afirma.

Um outro exemplo citado por Spina é a manutenção de aviões. Em geral, se usa a metodologia de horas de vôo, que na opinião do professor é muito pobre e imprecisa. A aeronave pode estar em plena condição operacional e mesmo assim ser mandada para manutenção, o que significa prejuízos para a companhia. “Já vem sendo usada uma tecnologia de análise de vibração para determinar a hora adequada da manutenção. Sensores captam a vibração das turbinas em pleno vôo e enviam essas informações via satélite para uma rede de computadores. A quantidade de dados e a dificuldade de processamento são enormes, na casa dos terabytes por hora. Este serviço só se viabilizou com o uso do Grid Computing”, afirma Spina.

Temas em debate - O programa da 1ª Conferência Internacional de eInfra-estrutura apresenta um amplo espectro de temas para atender os vários interesses. Dentre as aplicações-chaves incluem-se: Informática Biomédica; Cultura, Artes e Humanidades; Ciências da Terra; eInfra-estruturas para Desenvolvimento Social; Aprendizado a Distância através de Recursos Eletrônicos; Repositórios Científicos; Usos Governamentais e Investimentos em eInfra-estruturas; Física de Alta Energia; Convergência entre eInfra-estruturas e Tecnologias Móveis; Certificações; Interoperabilidade; Garantia de Qualidade; Segurança; Sustentabilidade e Necessidades em Treinamentos e Decisões Estratégicas.

Uma sessão dedicada aos Negócios explorará novas oportunidades no tema, apresentando estudos de caso e promovendo os benefícios comerciais que as eInfra-estruturas podem agregar. “O programa vem sendo montado de forma a favorecer o networking, aproximando pesquisadores com financiadores e empresas. Será uma excepcional oportunidade para ampliar a rede de contatos”, diz Spina.

O Belief é um projeto Europeu, financiado pelo programa FP6 IST (Information Society Technologies). Iniciado em 1º de novembro de 2005, o objetivo é servir a comunidade internacional, por meio da maximização das sinergias em aplicações específicas na área de infra-estrutura, como aquelas entre os pesquisadores, indústrias e comunidades científicas Européias, focando na expansão e troca do conhecimento entre organizações industriais além da cooperação com o desenvolvimento de países, especificamente na América Latina e na Índia.

O Portal Belief (www.beliefproject.org) é o ponto de acesso para aumentar a rede de contatos e usufruir/incrementar o conteúdo da biblioteca. Dentre outras possibilidades, o portal oferece material nas áreas de:- Computação em GRID | - Computadores de Alto Desempenho| - Informática médica |- Computação em GRID aplicad | - Segurança e Modelo de serviços | - Armazenamento de documentos públicos e privados com segurança | - Repositório de documentos de projetos em área restrita.

O principal objetivo do EELA (www.eu-eela.org) é integrar projetos de e-ciência europeus e latino-americanos. Iniciado em janeiro de 2006 e com duração prevista de dois anos, ele conta com recursos da ordem de 1,7 milhão de euros, oriundos da Comissão da União Européia (UE), por meio do programa Information Society Technologies (IST). O projeto é coordenado pelo Ciemat (Centro de Investigações Energética, Meio-ambientais e Tecnológicas), da Espanha.

As 21 entidades que compõem o projeto EELA têm estabelecido uma rede de colaboração para compartilhar uma infra-estrutura de grade computacional (Grid Computing), que serve de suporte ao desenvolvimento e teste de aplicações avançadas. A meta é criar uma infra-estrutura comum, interconectada por meio das redes Clara e Géant, em que algumas aplicações são implementadas: biomedicina, física de altas energias, educação a distância e clima, entre outras.

O EELA segue o modelo do projeto europeu EGEE (Enabling Grids for E-science), em que são compartilhados quase 30 mil computadores e 5 milhões de gigabytes de recursos de armazenamento (o equivalente à capacidade de mais de 7 milhões de CDs), localizados em diversos países da Europa.

Instituições européias conceituadas, como o Cern (Organização Européia de Pesquisas Nucleares), situada na Suíça, e o Instituto Nacional de Física Nuclear, na Itália, fazem parte do EELA. Na América Latina, sete países estão representados no grupo, entre eles Brasil, Chile e Argentina. Do Brasil, participam do projeto a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), além do Cecierj/Cederj, consórcio de universidades públicas do Estado do Rio.

1ª Conferência Internacional sobre eInfra-estrutura (First International eInfrastructure Conference, de 25 a 28 de junho de 2007, no Hotel Glória - Rua do Russel, 622, Glória, Rio de Janeiro (RJ). Inscrições pelo site www.belief-eela.org | Preço: até 18/06 - 120 euros (empresas privadas), 60 euros (empresas públicas e instituições de ensino), 18 euros (estudantes)