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Aleijadinho e seu tempo | fé, engenho e arte


Exposição das peças no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro, em em cartaz até 11 de fevereiro 2007,de terça a domingo, 10 às 21h. Entrada franca. O Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro fica na Rua Primeiro de Março 66 | Centro – RJ | Telefone: (21) 3808-2020 | www.cultura-e.com.br Itinerância CCBB Brasília: 10 de março a 10 de junho 2007

É com "ALEIJADINHO E SEU TEMPO | Fé, engenho e arte" que o Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro comemora seu 17º aniversário, a partir de 14 de outubro, com patrocínio do Banco do Brasil, da Cia. de Seguros Aliança do Brasil e apoio da Brasilcap.

Sob curadoria do crítico de arte Fabio Magalhães, a exposição contextualiza Minas Gerais no Brasil e no mundo no século 18 e sua expressão artística máxima: o Barroco brasileiro em Aleijadinho e seus contemporâneos.

O diretor do CCBB Rio, Marcelo Mendonça avalia - Nenhum movimento artístico europeu floresceu tão bem em nosso país como o Barroco. Da Itália, o Barroco atravessou o Atlântico e fez do Brasil, berço esplêndido, e de Minas Gerais, seu receptáculo soberano. Mostrar toda a pujança do gênio criativo e transgressor de Aleijadinho e o mundo em que viveu faz parte da missão do CCBB de dar visibilidade e acesso a todos ao que de melhor existe em termos de Arte e Cultura.

No mundo, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho [1738-1814], é considerado o Michelangelo do Brasil e comparado aos grandes mestres italianos, por produzir obras-primas do Barroco, sem nunca ter saído do país.

O caráter altamente expressivo de suas esculturas, atribuído à influência da cultura africana por parte de mãe, transcendeu a formalidade da escola européia.

Suas esculturas são reconhecidas no exterior pelos traços faciais dinâmicos, dotadas de teatralidade e caráter distintivo tão marcantes que lhe imprimiam o selo inconfundível da identidade cultural brasileira.

O artista teve uma doença na juventude que o aleijou e o obrigava a amarrar seus instrumentos de trabalho aos pulsos. Daí seu apelido.

Por seu isolamento geográfico e pela quantidade de ouro encontrada no seu solo no século 18, Minas Gerais era o cenário fértil para o desenvolvimento de uma verdadeira escola barroca 'brasileira'. Diz o curador Fabio Magalhães:

- [...] a religião teve um papel fundamental nas Minas Gerais. Embora o rei de Portugal tenha proibido a presença de ordens religiosas na região, temeroso do poder que elas poderiam exercer, a sociedade se organizou através das ordens terceiras, das irmandades, das confrarias. A rivalidade entre elas serviu como alimento à criação artística. Em decorrência, floresceu a plêiade de artistas, artesãos e músicos requisitados para dotar de esplendor o ofício religioso. Vila Rica se transformou num "teatro barroco" da liturgia católica.

A Exposição - O percurso da mostra - com 208 ítens originais do Barroco mineiro, entre estatuária, objetos sacros, oratórios, desenhos, mapas, peças de ouro e fotografia, distribuídos em 11 módulos, começa pelo térreo do CCBB com réplicas autorizadas, em bronze, de Isaías, Abdias, Ezequiel e Joel, do conjunto dos 12 Profetas instalados em Congonhas do Campo.

No segundo andar, o visitante percorre o contexto histórico e geográfico do século 18. O segmento O lugar, o território, a época, tem mapas e obras dos artistas viajantes, como Rugendas, Thomas Ender, Von Martius, Debret, H.Muller e Maximilian Wied-Neuwied, que vieram ao Brasil em missões artísticas e expedições científicas.

Em seguida, o núcleo do Ouro reúne moedas, lingotes e objetos representativos da força econômica deste período.

A sala Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, dedicada exclusivamente ao maior expoente do Barroco brasileiro, inclui entalhes e fragmentos de entalhes, imagens de santos e relicários, todos originais, emprestados de coleções institucionais, religiosas e particulares do Brasil.

O circuito do segundo andar se encerra com um conjunto de oratórios do século 18.

O primeiro segmento do primeiro andar - A devoção - reúne fotos de Marc Ferrez e um ensaio fotográfico do francês Marcel Gautherot, realizado nos anos 50 nas cidades mineiras.

A Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, está presente com uma maquete inédita da feição original da mesma, feita a partir de várias fontes levantadas pela FAU-USP. Nas paredes desta sala estão desenhos da planta geral e de peças estruturais do templo assinadas pelo Aleijadinho. A portada da igreja é avaliada pelo crítico francês e conservador do Museu do Louvre, Germain Bazin, como a obra-prima do artista.

Entre 1772-1774, realiza-se a decoração em talha e estuque, comandada pelo Aleijadinho, período no qual ele fez os púlpitos em pedra-sabão. Esses púlpitos são suas primeiras obras documentadas como escultor de baixos-relevos em pedra-sabão.

Hoje, a Igreja de São Franscisco de Assis é considerada um dos exemplos mais notáveis do Barroco internacional. O que a distingue é a planta sem corredores na nave, o que integra mais os corredores da capela-mor ao resto da construção. As características da construção demonstram que o projeto arquitetônico do Aleijadinho privilegia o monumento como um todo, interna e externamente.

As torres em formas circulares são inéditas e a fachada tem grande efeito arquitetônico e ornamental. À esquerda do espectador, há um anjo sustentando uma cruz ornada, e à direita, outro anjo, com os braços estendidos, aponta para a composição central. Nesta, estão os brasões das armas franciscanas e do reino de Portugal. Na parte superior, a Virgem, de mãos postas. Entre os brasões e o medalhão está o braço estigmatizado de São Francisco, o braço de Cristo e a coroa de espinhos sobre a cena. Os brasões são arrematados por asas de anjos, flores de girassol e rosas, atributos de Maria.

Seguindo o percurso da mostra, o espectador transita sobre um piso de vidro, sob o qual está a reprodução da decoração das ruas das cidades históricas de Minas para as procissões. Virão ao Rio 13 artistas mineiros para fazer esse trabalho com serragem colorida. A trilha é de músicas de procissão, assinada pelo musicólogo Maurício Monteiro.

O próximo módulo é Aleijadinho - vida e obra, uma cronologia multimídia da trajetória do artista, contextualizada com a História do Brasil.

Chega a vez do conjunto da Igreja de Bom Jesus de Matosinhos de Congonhas do Campo, MG. A exposição traz "Os 7 passos da Paixão de Cristo" e os 12 Profetas em projeção panorâmica, com 81 imagens de grande escala das cenas da paixão, distribuídas em seis nichos, representando aqui as capelas que levam ao adro do Santuário de Congonhas. As projeções são acompanhadas por trilha sonora de composições da época. Ainda neste núcleo estão réplicas menores dos 12 Profetas.

As estações da Paixão - 64 imagens de cedro, realizadas entre 1796 e 1799, representam a Ceia, Jesus no Horto, a prisão, a flagelação e a coroação de espinhos, a cruz às costas e a crucificação. Aos pintores Manuel da Costa Ataíde e Francisco Xavier Carneiro coube a policromia das esculturas.

O complexo escultórico dos "Passos", junto com os 12 Profetas, em pedra-sabão, é considerado o mais importante exemplo de Barroco fora da Europa. O Aleijadinho leva o espectador além do realismo e do teatral. A representação dos rostos e das mãos das figuras do drama sacro são únicos, distintos dos variados estilos expressionistas da história, os quais o artista não tinha como conhecer.

Encerra a exposição um conjunto de ex-votos [pintura sobre madeira] do século 18 e peças de contemporâneos do Aleijadinho, como Mestre Piranga, Francisco Xavier de Brito, Mestre Ataíde e Francisco Vieira Servas, e de anônimos, no módulo Mestres do Barroco em Minas Gerais.

Dentro do circuito da exposição, duas salas-cofres com projeções contínuas apresentam doze documentários, longas e curtas, sobre vida e obra do Aleijadinho, oratórios, música, ciclo do ouro e diamantes em Minas e temas afins. Entre eles está o curta raramente exibido "Aleijadinho", de Joaquim Pedro de Andrade, com roteiro do arquiteto Lúcio Costa e narração de Ferreira Gullar.

Publicação - Acompanha a exposição um catálogo-livro, de cerca de 300 páginas, com textos escritos especialmente para a mostra, do curador Fabio Magalhães, do historiador Boris Fausto, dos arquitetos Carlos A. C. Lemos e Augusto C. da Silva Telles, do bispo Dom Gil Antônio Moreira, do musicólogo Maurício Monteiro, do escritor e curador Ângelo Oswaldo de Araújo Santos e uma abrangente cronologia organizada por Ana Maria Ciccacio. O volume pode ser considerado um livro de referência.

O Aleijadinho: dados biográficos - A maioria dos autores adota 1738 como o ano de nascimento de Antônio Francisco Lisboa, já que seu registro de sepultamento, em 1814, indica a idade de 76 anos. Sua certidão de batismo, porém, aponta 1730 para o seu nascimento, em Vila Rica, atual Ouro Preto, filho do arquiteto português Manuel Francisco da Costa Lisboa com uma de suas escravas, Isabel. Ele é alforriado no ato do batismo.

Estuda com os frades da Ordem dos Esmoleres da Terra Santa e recebe o aprendizado prático nas oficinas do pai, com o tio Antonio Francisco Pombal e artistas portugueses emigrados para Minas Gerais na primeira metade do século 18.

Sua primeira obra, aos 19 anos, foi o chafariz em esteatita [pedra-sabão] no monastério do Hospício da Terra Santa, em Ouro Preto. Segundo historiadores, foi o artista que introduziu o uso da pedra-sabão nas obras escultóricas da região.

A escultura de um busto feminino nu no chafariz do Pissarão, em Ouro Preto, datada de 1761, uma das raras obras do Aleijadinho que não tratam do tema religioso, é a que define seu gênio criador. Onde habitualmente estaria um crucifixo, o artista colocou a imagem profana de uma Afrodite. É uma atitude ousada do jovem de 23 anos, que sinaliza sua inquietação para desenvolver uma linguagem artística própria. Foi inovador na escultura e na arquitetura.

Em seu primeiro trabalho como arquiteto, realiza intervenções no projeto das torres na Matriz de São João Batista, na cidade de Morro Grande, atual Barão de Cocais, e mais tarde projeta a Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, onde, em 1770, abre sua própria oficina.

Em 1777, surgem os primeiros sinais da doença que mais tarde deforma e atrofia seu corpo, quando o artista passa a ser carregado por escravos, a trabalhar com os instrumentos atados aos pulsos e a precisar de auxiliares. Neste ano, vai ao Rio de Janeiro e registra como seu um filho com Narciza Rodrigues da Conceição, batizado Manuel Francisco Lisboa, o neto.

De acordo com seu biógrafo oficial, Rodrigo José Ferreira Brêtas, a dor intolerável nas articulações dos dedos levou-o a cortá-los com o cinzel de escultor. Ainda assim, prossegue no mesmo ritmo de trabalho simultâneo, em canteiros de obras em Sabará, São João del Rei, Mariana e Ouro Preto.

Em 1796, inicia o trabalho das 64 figuras em cedro, em tamanho natural, dos Passos da Paixão, para as seis capelas da Via Crucis no Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo [MG], uma tarefa de três anos. Concebe e executa, em seguida, as imagens dos 12 Profetas em pedra-sabão, para o adro da igreja, entre 1800 e 1805.

Ao final da vida, ainda trabalha em ritmo intenso, quando perde quase completamente a visão, em 1812, e deixa sua oficina. Morre dois anos depois, em 18 de novembro de 1814. Assim como a data do seu nascimento, o diagnóstico de sua doença é controverso. O Aleijadinho foi tratado por especialistas do mal de Hansen, de sífilis e de reumatismo deformante.

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