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19/06/2007 - 10:26

A prestação que cabe no bolso

A população brasileira nunca teve tanta oferta de crédito. Nas esquinas dos grandes centros, financeiras oferecem dinheiro praticamente com a mesma facilidade que se compra pastel na feira. Panfletos divulgam condições facilitadas e tentadoras para empréstimos. O comércio alonga os prazos nas compras financiadas e “sumiu” com juros, embutidos nas prestações. O consignado ultrapassou os 30% de comprometimento de renda de milhares de pensionistas e aposentados. Enfim, nunca se viu tanto dinheiro na praça.

Por outro lado, cerca de 42 milhões de brasileiros sofrem com endividamento crônico, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatou em 2006. Isso significa que mais de 22% da população têm dívidas impagáveis de acordo com a sua possibilidade de ganho. Trocando em miúdos: o brasileiro gasta além do que ganha e está altamente endividado.

O mais assustador neste quadro paradoxal - dívidas e excesso de dinheiro - é que os juros, ainda abusivos, deixaram de ser questionados. Mesmo com a crescente queda da Selic, ao contratar um empréstimo, o brasileiro está preocupado em saber se a prestação vai caber no seu bolso a cada mês. Interessa conciliar o valor emprestado com o prazo para pagamento. É a velha máxima: “essa prestação vai dar para pagar”. O cenário é perverso porque a tendência de redução da taxa básica de juros, que deve fechar 2007 em 10,5%, irá baixar ainda mais os juros, aumentando a tentação de fazer um empréstimo.

Infelizmente, o microcrédito produtivo orientado – aquele alardeado pelo governo há dois anos – ficou esquecido. Não se ouve mais falar em crédito para incentivar a produção, gerar empregos, fazer girar a economia. Vivemos uma distorção dessa realidade, em uma bolha de consumo que pode estourar a qualquer momento, provocando conseqüências negativas à economia brasileira.

Dessa maneira, esse ciclo, que podemos considerar perverso, se mantém. As ofertas de crédito “irresistíveis” se acumulam, mais pessoas se afundam em dívidas e, como solução para seus problemas financeiros, apelam para outro empréstimo.

Contratar um empréstimo é algo sério. Comprometimento de renda também. É por isso que reforçamos nossa convicção na defesa das cooperativas de crédito. Há mais de um século, essas entidades operam com propriedade nesta modalidade. Os recursos servem “para fechar o mês”. Porém, diferentemente dos bancos que, em 2006, tiveram lucro líquido de R$ 33,4 bilhões, as cooperativas não cobram juros abusivos. E, se apurarem “lucro”, este é distribuído entre os associados proporcionalmente à sua participação. E o dinheiro retro-alimenta a economia local, promovendo o desenvolvimento regional.

Nas cooperativas, os empréstimos são conscientes e o comprometimento da renda é mínimo. Há cooperativas que prestam até uma espécie de consultoria personalizada ao analisar, com cautela, as condições financeiras do cooperado para orientá-lo sobre as melhores linhas de empréstimos da cooperativa ou se é melhor aguardar para obter uma melhor condição de crédito.

É este sistema saudável que as cooperativas de crédito defendem. Não à toa, o número de brasileiros associados às cooperativas dobrou entre 2001 e 2006, passando de 1,4 milhão de pessoas para 2,9 milhões, segundo estudo divulgado pelo Banco Central durante o seminário sobre Microfinanças, realizado nos dias 14 e 15 de junho deste ano em Porto Alegre. Saímos de uma participação na movimentação financeira de 0,7% em 1997, para 2% em 2006. Montar uma cooperativa exige persistência, mas a maioria dos brasileiros que optou por integrar uma entidade dessa natureza, não está altamente endividada. Mais do que isso: também não contribuem para que os bancos do país continuem a ter lucros recordes.

. Por: Manoel Messias da Silva é presidente do Sicoob Central Cecresp (Central das Cooperativas de Crédito do Estado de São Paulo) e da Confebras (Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito) e Coordenador do Conselho Especializado de Crédito da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras)

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