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05/08/2010 - 09:18

O ativismo como um instrumento legítimo de conquistas na luta contra a AIDS

Muito tem se falado sobre o crescimento dos índices de pessoas com HIV/AIDS, mas uma discussão parece ter perdido fôlego nos últimos tempos: o ativismo está morrendo após duas décadas de luta contra a AIDS? O ativismo não está morto porque cada vez mais se amplia a articulação em rede, de forma a fortalecer os pontos focais em suas localidades, bem como potencializar as intervenções dessas redes.

Observa-se que a PVHA (pessoas vivendo com o HIV/AIDS) está mostrando o seu rosto. Com isso, ela não somente ajuda a reduzir os estigmas como também persegue e defende seus direitos com mais afinco. Mesmo em países desenvolvidos como a Inglaterra, por exemplo, é fundamental a ação de ativistas para que as políticas incluam as PVHA.

É importante estarmos atentos para a necessidade de avaliar e adequar as estratégias e os temas a serem abordados, uma vez que a AIDS sempre apresenta novos e diferentes desafios. Um bom exemplo disso é que, há dez anos, nós lutávamos por medicamentos e hoje lutamos pelo acesso universal a esses medicamentos. O que me parece desafiador, nos dias de hoje, é debater o tema entre os próprios ativistas. Nossas agendas estão tão comprometidas, que nos resta pouco tempo para auto-avaliar o ativismo.

Talvez um dos caminhos para que o ativismo e os ativistas sigam em frente seja a inclusão de pautas da sociedade civil nas agendas das instituições, como agências, ONG, universidades, governos etc., para que incorporem as ações da sociedade civil nas suas agendas e possam contribuir para a capacitação desses ativistas.

Sabe-se que existem dois tipos de ativistas e ativismo: os de âmbito nacional e os de âmbito internacional. Os primeiros atuam na base, contribuindo para fortalecer a dispensação de medicamentos, a qualidade do atendimento nos hospitais, o monitoramento dos orçamentos da saúde e as estratégias de prevenção local. Os de âmbito internacional, por sua vez, interferem em grandes estruturas governamentais e comerciais. Ambos são fundamentais. Contudo, foi observado que as redes que atuam em esferas mais amplas devam levar em consideração as ações locais, uma vez que é nas bases que o possível êxito ou fracasso das estratégias ocorre de fato.

Outra importante questão é sobre o quanto os ativistas podem auxiliar os governos – e já vêm auxiliando desde sempre -, pressionando grandes doadores para que não reduzam os recursos destinados às metas internacionais ou às frentes de lutas comerciais. A comunidade internacional é sensível à luta contra AIDS, e a pressão dos ativistas revela-se capaz de interferir tanto nas decisões das grandes agências e laboratórios quanto no volume de recursos que venham a ser disponibilizados pelos países ricos.

Sabemos que o ativismo em HIV/AIDS é diferente das outras formas de ativismo por ser cultural, o que exige um grande esforço. Além de denunciar violação de direitos, exigir ciência e tecnologia e lutar por recursos, ainda precisa quebrar paradigmas, derrubar tabus, mudar sistemas culturais e morais enraizados nas mais diversas sociedades, romper costumes seculares, normas estabelecidas, ideologias e velhas moralidades. E, por isso, é tão complexo.

Enquanto militante da luta contra a AIDS, acredito que o ativismo pode morrer de fato se deixarmos de lado a solidariedade, nosso propósito mais caro. Ser ativista é questão de sentimento e escolha, não uma imposição. É preciso entender que o ativismo pulsa nas nossas veias e a militância na luta contra a AIDS precisa constituir formas inteligentes de lutar por um mundo melhor no qual possamos viver e conviver numa sociedade mais equânime, com justiça, igualdade, liberdade e respeito à vida.

. Por:Christiano Ramos ,Ativista, presidente da ONG - Amigos da Vida, com sede em Brasília-DF, e vive com o HIV/AIDS há 22 anos.

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