Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

06/08/2010 - 09:10

Literatura negro-brasileira


A obra trata da vertente da literatura brasileira que contempla, em poesia e prosa, as vivências da população afrodescendente. Destaca, ainda, os autores dessa vertente que alcançou significativo patamar com os 30 anos de edição ininterrupta dos Cadernos Negros, coletânea anual de poemas e contos.

Com o avanço das lutas contra o racismo, nas últimas décadas do século XX, os negros começaram a se tornar protagonistas das suas obras. Usando a palavra como forma de resistência, diversos escritores e poetas criaram uma produção diferenciada, com nuanças específicas, baseadas nos elementos culturais de origem africana e no resgate da dignidade. No livro Literatura negro brasileira (152 p., R$ 21,00), quarto volume da Coleção Consciência em Debate, lançamento da Selo Negro Edições, o escritor e pesquisador Cuti, pseudônimo de Luiz Silva, analisa a participação do negro, como personagem, autor e leitor, na literatura brasileira.

Escritor profícuo e grande pesquisador, Cuti destaca os precursores e a nova geração dessa corrente - que alcançou um patamar significativo com os trinta anos de edição ininterrupta dos Cadernos Negros, coletânea anual de poemas e contos. "A literatura é alimento para o nosso imaginário, que se move o tempo todo, recebendo, produzindo e reproduzindo ideias, palavras, frases, imagens sobre o que somos como pessoa e povo", revela o autor. Para ele, as palavras carregadas de emoções nutrem a dimensão interna de nosso ser. "Nossas relações inter-raciais também são mediadas pelo texto não referencial", complementa. A obra cumpre, nessa dinâmica, o papel de trazer um deslocamento de perspectiva na superfície e na profundidade do texto ficcional e poético, estabelecendo uma formação discursiva dissonante no contexto hegemônico da ideologia racista que ainda vigora nos meios de comunicação brasileiros.

Dividido em doze capítulos, o livro mostra como escrevem os descendentes daqueles que, durante séculos, foram proibidos de escrever, qual o conteúdo que privilegiam na expressão literária e quais os contrapontos que realizam na literatura nacional. "A obra é um mergulho nesses meandros e um convite para mais uma redescoberta do Brasil que rompe a mordaça", afirma Cuti. Nela, o autor prova que a literatura negro brasileira, do sussurro ao grito, vem buscando recursos formais próprios e sugerindo a necessidade de mudança de paradigmas estéticoideológicos.

Segundo Cuti, a literatura precisa de forte antídoto contra o racismo nela entranhado. Os autores nacionais, diz ele, principalmente os negro-brasileiros, lançaram-se a esse empenho, não por ouvir dizer, mas por sentir, por terem experimentado a discriminação em seu aprendizado. Ao longo da obra, ele fala sobre os precursores, destacando que Luiz Gama, Cruz e Sousa e Lima Barreto foram solitários, em especial no empenho de sua afirmação racial ou crítica ao racismo. No capítulo em que aborda os elos de gerações, por exemplo, revela que a literatura negro brasileira passou a contar, a partir das primeiras décadas do século XX, com o início de uma vida literária negra nas associações culturais de caráter reivindicatório. E traça o perfil de autores que constituem esse grupo como Abdias Nascimento, Solano Trindade e Carlos de Assumpção, entre outros.

Na obra, o autor revela que a década de 1970 foi marcada por inúmeros encontros entre grupos negros de diversos lugares do Brasil. Mostra a importância da publicação dos Cadernos Negros, a partir de 1978, e das várias relações de amizade entre escritores reforçadas pelos eventos literários específicos, como o Quilombo hoje, grupo informal que passou a realizar as rodas de poema. Destaca também a recuperação da luta de Palmares para a história contemporânea, tendo como símbolo o herói Zumbi e a criação do Dia Nacional da Consciência Negra.

Atualmente, segundo Cuti, grupos jovens das periferias das grandes cidades brasileiras vêm desenvolvendo intenso trabalho de literatura, com declamações e publicações, no qual a vertente negro brasileira se faz presente, sobretudo pelo influxo politizado do Movimento Negro como um todo e do Movimento Hip-Hop, especialmente do Rap.

Para finalizar, o autor reforça que a literatura negro brasileira prossegue seu caminho em todas as ramificações, pois a necessidade de expressão literária é vital, seja com qual nome ela venha a ser classificada. "À obra, cumpre a função principal de furar as resistências para nutrir a memória afetiva dos leitores", conclui.

Consciência em Debate - A Coleção Consciência em Debate, coordenada por Vera Lúcia Benedito, mestre e doutora em Sociologia/Estudos Urbanos pela Michigan State University (EUA) e pesquisadora dos movimentos sociais e da diáspora africana no Brasil e no mundo, tem como objetivo debater temas prementes da sociedade brasileira, tanto em relação ao movimento negro como no que concerne à população geral. Outros volumes: Relações raciais e desigualdade no Brasil • Políticas públicas e ações afirmativas • História da África e afro brasileira

O autor - Cuti, pseudônimo de Luiz Silva, nasceu em Ourinhos (SP) e mora na capital paulista. Formado em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), é mestre em Teoria da Literatura e doutor em Literatura Brasileira pelo Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Foi um dos fundadores da organização literária Quilombhoje e um dos criadores e mantenedores da série Cadernos Negros. É autor, entre outros, dos seguintes livros: Poemas da carapinha (1978); Quizila (1987, contos); Dois nós na noite e outras peças de teatro negro-brasileiro (1991, teatro); A consciência do impacto nas obras de Cruz e Sousa e de Lima Barreto (2009); Negroesia (2007, poemas); Contos crespos (2008); Moreninho, neguinho, pretinho (2009, ensaio); Poemaryprosa (2009, poemas). [ Coordenadora da coleção: Vera Lúcia Benedito | Editora: Selo Negro Edições | 152 Páginas | Formato: (12,5 x 17,5) | Preço: R$ 21,00 | ISBN: 978-85-87478-47-4 | Atendimento ao consumidor: (11)3865-9890 | Site: www.selonegro.com.br ].

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira