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28/08/2010 - 10:14

Ventos de mudança?

Situação Mundial - As últimas semanas foram cheias de novidades que podem afetar o mercado do milho nos próximos meses e talvez fornecer suporte para melhorias consistentes para os produtores de milho no Brasil.

Em uma clara demonstração da integração dos mercados, estas novidades tiveram origem em uma quebra de safra de trigo (vejam só) que ocorreu na Federação Russa e em alguns países da antiga União Soviética. A produção nesta região foi reduzida em 26 milhões de toneladas, resultando em 87 milhões de toneladas a serem colhidas neste ano. O pior é que no caso da Rússia (terceiro maior exportador de trigo), a produção será insuficiente para abastecer o mercado interno, que será equilibrado pela utilização dos estoques de passagem existentes. A primeira reação do governo russo, de proibir as exportações de trigo até o fim do ano, iniciou um processo de elevação dos preços do cereal em escala mundial. Notícias recentes de que a Rússia pode se tornar um importador líquido de grãos nesta safra têm mantido os preços dos cereais em alta.

Esta situação terminou por afetar outros cereais, como o milho, pois no Hemisfério Norte, o trigo tem participação importante na elaboração de rações animais. A própria Rússia havia iniciado um projeto visando aumentar a sua produção de proteína animal, o que demandaria um maior consumo de rações. Mesmo no caso dos países da Europa, já ocorria uma tendência de aumento na importação de milho produzido em regiões da antiga União Soviética (a Argentina andou reclamando que preferências alfandegárias para importação de milho, por países da Europa, estavam suspensas em favor de importações do Leste Europeu). Com o fracasso da safra russa, os países Europeus terão que buscar outros fornecedores.

O interessante disso tudo é que a maior demanda por milho ocorre justamente para cobrir a quebra na colheita do trigo e não estão relacionadas com a sua produção. As previsões de safra feitas pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) indicam produções mundiais crescentes de milho (cerca de 20 milhões de toneladas a mais do que no ano passado). Está sendo sinalizada uma nova safra recorde nos Estados Unidos (existe ainda certa discussão sobre isto, entre os consultores privados). Idem para a China, que continua conseguindo atender à sua demanda interna de milho (dos 20 milhões de toneladas de produção mundial a mais, a China é responsável por 11 milhões).

O resultado final é que os preços internacionais do milho subiram de forma consistente, a partir dos últimos dias do mês de julho, saindo da faixa US$ 3,50 – US$ 3,75 por bushel, onde se situavam nos últimos seis meses, e atingindo US$ 4,15 nos últimos dias. Como a boa notícia relativa à uma possível safra recorde nos EUA já foi dada, qualquer insinuação relativa a problemas na safra americana somente poderá contribuir para que os preços se mantenham firmes. Deve-se ressaltar que os estoques americanos, mesmo com a possível safra recorde, são os menores dos últimos anos.

Esta nova situação no mercado externo pode ser favorável para modificações no mercado interno brasileiro pelo seu potencial em tornar mais efetivas as intervenções do governo, através do PEP (Prêmio de Escoamento de Produto), com vistas ao suporte de preços de milho no mercado interno, principalmente no Centro-Oeste.

Situação Interna - Com a finalização da colheita da safrinha de 2010, a maior da história apesar dos percalços do clima em Mato Grosso, já é possível a formulação de um quadro definitivo do milho nesta safra de 2009/10, que foi a segunda maior safra de milho da história.

A safra de verão foi beneficiada pelas condições muito favoráveis de clima, o que compensou a grande redução de área (16,5% menor do que na safra anterior).

Na safrinha, verificou-se um incremento de quase três milhões de toneladas. Isto apesar da redução na produtividade obtida em Mato Grosso (3.900 kg/ha, um decréscimo de 22% em relação à safrinha de 2009) que equilibrou o aumento na área plantada (mais 24%) deixando a produção estadual um pouco inferior à desta época em 2009. Este resultado parcial da safrinha indica uma maior produção em regiões de mais fácil escoamento da produção (BA, GO, MS, SP e PR).

Do lado do consumo, o alojamento de frangos de corte continua crescendo (em todas as regiões), o mesmo ocorrendo com as exportações de carne de aves. Mais interessante é o crescimento das exportações oriundas de Mato Grosso (oitavo maior exportador em 2008; sétimo em 2009 e sexto no acumulado até julho de 2010), o que ajuda a aumentar a demanda por milho e a reduzir o excesso de produção estadual.

Depois da queda brusca das exportações de milho em junho (míseras 669 t), verificou-se uma recuperação em julho (285 mil toneladas). Este resultado reflete o início das operações da Conab em Mato Grosso, mas ainda não incorporaram as mudanças recentes no mercado internacional do milho. A dúvida é se será possível exportar as 8,5 milhões de toneladas projetadas pela Conab até o fim do ano. Para isto seriam necessários embarques mensais médios de 1,2 milhão de toneladas até dezembro.

Em resumo, seja pelo início das operações da Conab, seja pela relativa frustração da safrinha em Mato Grosso ou pelo crescimento do consumo, o fato é que nas últimas semanas os preços do milho começaram a reagir. Fica difícil separar as causas deste fato, tendo em vista que este crescimento tem se verificado em diferentes polos, onde algumas destas forças atuam com maior ou menor resultado. O que interessa é que finalmente começam a aparecer alguns sinais de que a atual fase de preços baixos do milho começa a ter o seu fim. Se isto vai acontecer será função das decisões dos agricultores com relação à próxima safra no Brasil. As primeiras informações são de uma nova redução na área plantada, mas entre a intenção e o gesto ainda existe um intervalo considerável de tempo, principalmente nas principais regiões produtoras.

Por: João Carlos Garcia e Jason de Oliveira Duarte, Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo.CImilho [cimilho.cnpms.embrapa.br]

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