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03/09/2010 - 05:39

Arquitetos e engenheiros debatem sustentabilidade na Copa 2014


(esq.) Sérgio Coelho, GCP Arquitetos, Rob White, IZA, Ricardo Goes, ICZ, Silvério Rocha, mediador, Eduardo Guilger e Fernanda Magalhães, Grupo Stadia e Fábio Pannoni, Gerdau, participaram da mesa-redonda, em São Paulo

A discussão sobre como realizar a Copa de 2014 com sustentabilidade, empregando materiais duráveis, foi a questão central debatida por arquitetos e engenheiros na mesa-redonda promovida pelo Instituto de Metais Não Ferrosos (ICZ), em 3 de agosto último, em São Paulo. Participaram da mesa-redonda o arquiteto Sergio Coelho, do escritório GCP e autor do projeto da Arena Cuiabá, na capital mato-grossense; a arquiteta Fernanda Magalhães, coordenadora do projeto da Arena Amazônia, de Manaus, e o engenheiro Eduardo Guilguer, gerente operacional e coordenador de projetos, ambos do escritório Stadia, autor do projeto da Arena Amazônia e coautores do projeto de Cuiabá, em sua parte esportiva; o engenheiro Fabio Pannoni, consultor da Gerdau Aços Longos; o engenheiro sul-africano Rob White, diretor da Associação Internacional do Zinco (IZA, na sigla em ingês) e Ricardo Suplicy Goes, do ICZ. A mesa-redonda foi mediada pelo jornalista Silvério Rocha, e dividida por temas, com os arquitetos fazendo a apresentação de seus projetos, no início do evento.

Apresentações de estádios.: Sérgio Coelho – GCP Arquitetos: Arena Cuiabá - O estádio de Cuiabá é dividido em quatro arquibancadas, com módulos independentes para a cobertura, traçados por um fechamento externo, dando conforto térmico e proteção, com os quatro vértices internos abertos para propiciar maior ventilação. Uma ligação funcional para a circulação de pessoas e a possibilidade de redução da capacidade do público. A arena tem diversos itens de sustentabilidade, tais como conforto térmico através da arquitetura escolhida para o projeto; meta de reduzir o custo da energia elétrica em 10% (em relação a um edifício semelhante convencional); captação de energia solar, reaproveitamento de recursos hídricos e estação de tratamento de esgotos, projetos luminotécnicos com limite de potência, paisagismo do entorno com espécies nativas e recuperação da mata.

Fernanda Magalhães – Grupo Stadia: Arena Amazônia - A Arena Amazônia terá uma área construída de 100.788 m², com 43.980 assentos e 442 vagas internas de estacionamento. O projeto de arquitetura da arena é inspirado na cultura local, tendo como referências cestas indígenas e animais da fauna amazônica. A construção acontecerá no mesmo local onde ficava o Estádio Vivaldão, principal estádio da cidade, localizado entre as avenidas Constantino Nery e Pedro Teixeira. A cobertura do estádio tem utilidade muito maior contra a reincidência direta de luz solar e radiação, do que devidamente a proteção da chuva.

A arena conta, em projeto, com diversos itens de sustentabilidade. Entre eles, incluem-se a certificação de acordo com as exigências do Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), a apreciação dos requisitos da Meta Verde da Fifa, utilização dos sistemas de economia de água, armazenamento e reutilização de águas de chuvas, trocadores de calor altamente eficientes, ventilação e refrigeração natural e sistema de controle inteligente da edificação.

Rob White – IZA: o aço é um material econômico e versátil, com oferece vantagens reais, que, no entanto, podem ser comprometidas pela corrosão. E um evento deste porte, como a Copa 2014, requer uma infraestrutura mais bem preparada para o publico. É necessário melhorias em estradas, estações de ônibus, ferrovias e, principalmente, aeroportos. Pequim gastou R$ 180 bilhões no desenvolvimento da infraestrutura de metrôs, estradas e aeroportos. Na África do Sul, encontramos aço galvanizado nos principais estádios, como os de Durban (Moses Mabhida) e Johanesburgo (Soccer City), e sabemos que são edificações que, além de deixar um legado para o país, terão uma vida útil maior do que a média.

Fábio Pannoni – Gerdau: não é necessário repetir que o aço é reciclável, tem produção simples, não é necessária experiência prévia de uso, além de ter propriedades incríveis pelo preço comercializado. O aço, além de ser um material natural, dá modularidade, é seguro e econômico, reduz o impacto ambiental no local da construção e é um material renovável, com longa vida útil. Agora, quanto à proteção, é necessário saber que existe o conceito de vida útil de um projeto em relação ao plano de proteção usado (pintura ou galvanização). Não precisa considerar o custo do sistema de proteção A ou B, mas analisar o custo, incluindo manutenção, ao longo da vida útil. Aço e sustentabilidade fazem uma combinação perfeita que deve ser mais aplicada.

Eduardo Guilger e Fernanda Magalhães, do Grupo Stadia debatem a durabilidade do material galvanizado com o PH.D. Fábio Pannoni

Obra sustentável a partir de um projeto sustentável: Sérgio Coelho - Um projeto pensado e concebido do zero como projeto sustentável é muito mais vantajoso. Mas, é possível sim fazer adaptações em edifícios (retrofit) e prédios comerciais para que seja melhor em termos de performance, tanto na questão da energia quanto da água. Porém, claro que é melhor é começar do zero, ou seja, do projeto.

Custo-benefício da construção sustentável: Sérgio Coelho - O custo operacional, a durabilidade e o ciclo de vida dos materiais são questões muito importantes. É necessário nos conscientizarmos de que, se não tomarmos uma atitude em relação ao meio ambiente, não haverá planeta, no futuro. Agora, o custo para se ter uma construção sustentável é maior do que o da construção convencional. Grosso modo, em Cuiabá o custo da construção sustentável acaba sendo 2% maior que o da construção convencional.

Certificação Leed: Fernanda Magalhães - A certificação é apenas uma prova que seu projeto atende requisitos mínimos de sustentabilidade. É importante os grandes empreendimentos terem um tipo de certificação, mas esse não é o único caminho. Essa certificação é baseada apenas em grandes obras, mas você pode ter um projeto residencial com um pensamento sustentável, mesmo sem certificação.

Sérgio Coelho: Na verdade, a certificação serve apenas como parametrização. Não é obrigatório, mas é uma recomendação da Fifa, no caso dos estádios e demais obras relacionadas à copa.

Conhecimento acadêmico sobre galvanização: Sérgio Coelho- O uso de estrutura metálica no Brasil é algo complicado. É comum no Brasil pensar só no imediato. Se eu explico para o cliente que ele terá de gastar 5% a 10% mais em uma especificação, mas que ele vai rentabilizar isso ao longo da vida útil do empreendimento, a reação inicial é de o cliente tender a cortar a especificação em estrutura metálica, por exemplo.

Na GCP já é padrão nas nossas especializações o uso de galvanização em todo tipo de aço, que utilizamos na Arena Cuiabá. Mas, realmente não temos esse conhecimento nas universidades. E esse conhecimento, quando utilizado, esbarra nas construtoras. É um problema cultural que deve ser mudado no Brasil.

Fernanda Magalhães - Infelizmente, nos cursos oferecidos hoje nas universidades brasileiras realmente não temos esse tipo de aprendizado. Existe um problema cultural no Brasil. O construtor vê preço e não custoxbenefício no longo prazo. E muitas vezes não utilizamos o melhor material, que oferece maior durabilidade, como o aço galvanizado, devido principalmente a esses dois fatores.

Existe um problema na nossa formação, por não ser tão completa, na qual faltam muitas coisas sobre esse tema (uso de estrutura metálica em obras). Conversando com outros arquitetos de outros países (EUA e Europa), percebi que esse problema acontece em outros lugares também. E, apesar dessa “deficiência”, temos ótimos arquitetos no mercado brasileiro.

Prazo para entrega dos estádios: Sérgio Coelho - Em Cuiabá, sempre tivemos uma postura de cumprir as metas, desde a candidatura da cidade à sede da Copa, até o início das obras. Sempre estivemos dentro do cronograma e temos a intenção de nos candidatar a uma das sedes da Copa das Confederações. E com certeza, as escolhas dos sistemas construtivos ajudaram muito a bater essa meta.

Eduardo Guilger - Em Manaus, já começaram as obras, mas ainda em ritmo inicial, há cerca de dez dias, e temos a intenção de ser sede da Copa das Confederações, pelo apelo turístico; a Fifa vê essa pretensão com bons olhos. Já em Natal, ainda falta muita coisa para ser definida.

Fernanda Magalhães- Na verdade os estádios são os que menos me preocupam. Estou preocupada é com todo o resto: com metrô, aeroporto, hotéis e outros itens importantes e que devem demorar.

Escritórios credenciados a grandes construções: Eduardo Guilger - Tivemos contato com escritórios alemães e norte-americanos e não devemos nada a eles em relação ao que podemos oferecer. Tendo o conhecimento necessário, temos todo o direito e a capacidade de trabalhar e competir com eles.

Fernanda Magalhães - Nós realmente nunca tínhamos feito estádios desse porte, então realmente esse conhecimento que estamos absorvendo é muito importante para que possamos continuar fazendo projetos de arquitetura esportiva fora do Brasil. Até porque, após a Copa, esse tipo de projeto será escasso.

Sérgio Coelho - Concordo em numero, gênero e grau que projeto é projeto, seja ele de uma residência, de um hospital, uma fábrica ou um estádio. A GCP Arquitetos não é especializada em projetos esportivos; até por isso nos cercamos de consultorias e acredito que isso pode gerar possibilidades de trabalho fora do Brasil.

Ricardo Suplicy, Sérgio Coelho e Rob White comentam sobre a sustentabilidade na Copa 2014

Lições da África: Sérgio Coelho- De tudo que a gente na África do Sul, em viagem com os arquitetos que projetam os estádios brasileiros para a Copa 2014, em março último, o Moses Mabhida e Soccer City são dois estádios maravilhosos. E o que podemos trazer de melhor, como lição, é a qualidade na execução e no cuidado com que os sul-africanos fizeram todas as obras. Eles empregaram a boa tradição construtiva do país e todos têm orgulho de terem participado das obras, desde o arquiteto, construtor até o cliente.

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