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26/06/2007 - 10:32

Quem paga o pato dos ruídos na comunicação?

O competente e premiado publicitário paulistano Ruy Marum enviou-me interessante texto, de autoria, creio, desconhecida, que revela insólito diálogo de um homônimo seu, o antológico Barbosa, e um ladrão que tentava furtar patos no quintal da casa do emérito brasileiro.

Na história, certamente uma ficção, Rui Barbosa surpreendeu o gatuno e lhe disse: "Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à qüinquagésima potência que o vulgo denomina nada”. O ladrão, confuso, apenas perguntou: "Dotô, eu levo ou deixo os pato?"

Bom humor à parte, a divertida narrativa ilustra muito bem o quanto os ruídos na comunicação podem ser nocivos. Ao lê-la, foi inevitável estabelecer analogia com as recentes acusações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à mídia e aos brasileiros, aos quais imputou culpa, respectivamente, pela divulgação apenas de más notícias e por macular o nome do País no Exterior.

Sem entrar no mérito da liberdade de pensamento e expressão, que garante à imprensa e aos cidadãos a plena e legítima prerrogativa de externar seus sentimentos e percepção da conjuntura política e socioeconômica, um fato é incontestável: com todo o respeito que merece por sua trajetória como líder sindical, fundador de um partido político, parlamentar e presidente da República, incluindo ações positivas em sua administração, Lula deixou de considerar algo fundamental nas críticas à mídia e aos brasileiros que viajam a outros países: seu governo não tem uma política pública de comunicação. E esta, numa era em que informação é o bem mais precioso da humanidade, é tão importante quanto a economia, a saúde e o ensino.

Quantas coletivas de imprensa fez o presidente desde o início de seu primeiro mandato? Como se relacionam os setores de turismo, a diplomacia econômica e o próprio governo com os veículos de comunicação e os formadores de opinião internacionais? Nem a sistematização de press releases, a mais banal ação de assessoria de imprensa, se faz (a quem interessar possa, alguns países do Caribe, menores do que a Ilha de Marajó, têm sofisticadas políticas de comunicação. Assim, não é mera coincidência que recebam mais turistas estrangeiros do que os oito milhões de quilômetros quadrados que compõem nosso território).

Qual a estratégia de relacionamento do Governo Lula com os correspondentes estrangeiros acreditados no Brasil? Por que não se realiza com os interlocutores do governo um programa de Media Training, que até pequenas empresas recebem de suas agências de comunicação. Esse treinamento evitaria que ocupantes de cargos do primeiro escalão expusessem suas divergências e trocassem farpas pela imprensa, gerando insegurança no mercado, e que ministros e ministras tivessem surtos de incontinência verbal perante câmeras e microfones. Definitivamente, o brasileiro não conseguirá relaxar e tampouco gozar as prerrogativas da livre e correta informação sem que se respondam todas essas perguntas.

Afinal, quando são muitos os ruídos na comunicação governamental, quem paga o pato é a sociedade, que fica tão desnorteada quanto o ladrão da casa de Rui Barbosa. E por falar neste grande brasileiro, é oportuno resgatar uma de suas primorosas frases, esta verdadeira e emblemática: “A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade”.

. Por: Marco Antônio Eid, jornalista, é diretor de Operações da Ricardo Viveiros & Associados e autor do livro “Entre o poder e a Mídia” (M. Books) e co-autor, juntamente com o jornalista Ricardo Viveiros, de “O signo da Verdade” (Summus Editorial).

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