Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

28/09/2010 - 11:13

A trilogia da estagnação

Glocalização, Inovação Reversa e o Carroceiro.

O teoria da globalização se originou na época da expansão territorial, através dos descobrimentos, e que foi potencializada à partir da revolução industrial. Todavia é importante ressaltar que ela, a globalização como atitude, se iniciou no dia em que o homem partiu rumo às demais regiões africanas e então através dos continentes motivado pelo instinto de preservação de sua vida.

Ela tinha uma motivação social e não econômico-financeira. Fundou-se na necessidade do Homem em alimentar sua prole, indo atrás da caça que já seguia seus próprios ciclos migratórios, em função do clima e da necessidade de novas pastagens.

É bem verdade que não havia a intencionalidade nem o pensamento estratégico formalizado, somente o intuitivo. O Homem simplesmente fazia parte do fluxo migratório de sua cadeia alimentar.

Do caminhar, da necessidade de suplantar seus predadores e de fixar sua tribo, vieram as primeiras estratégias, e com elas, o Homem circundou continentes globalizando conceitos de sobrevivência e de preservação da espécie adaptando-os às necessidades locais.

Ali estavam as bases do que viria a ser definido como “globalização”, no século XV, e posteriormente nos anos 1990, a “glocalização”(uma declinação da globalização, onde é preciso pensar global e agir localmente) posta em prática de imediato por empresas norte-americanas e europeias, a partir de sua visão de mundo e de suas ofertas desenvolvidas para seus mercados locais, levaram tais ofertas aos países em desenvolvimento.

É importante ressaltar que a glocalização parte da premissa que os demais países (mercados) consumirão os produtos e serviços concebidos para uma dada realidade sócio-econômica, muito diferente para os quais eles foram concebidos, isto é, para mercados maduros. Tem ainda em si a crença sobre sua capacidade de mudar os hábitos e costumes, pela força do poder econômico de suas organizações, prescrevendo suas idéias e conceitos.

Tamanho bombardeio de ideias acabou por influenciar o pensamento e indicando tendências. Porém, o resultado prático ficou muito aquém das projeções iniciais: os hábitos e costumes da grande massa populacional pouco se alteraram. A exceção do mercado de eletroeletrônicos e informática/telefonia, voltados às classes ABC, pouco foi substancialmente alterado. Afinal, as classes DEF não faziam parte de seus alvos.

Nossa sociedade não é hoje algo comparável à sociedade norte-americana ou europeia. Ela tem a cara, a alma, os aromas, perfumes e nuances de todas as influencias e amálgamas característicos de nossa cultura, ainda que contenha traços das culturas europeias e norte-americanas tão presentes nos meios de comunicação em nossa sociedade.

As influencias sob as quais estivemos submetidos neste período de glocalização se diluem num gigantesco caldeirão seciocultural multifacetado que é o Brasil.

Evidentemente os países mais estruturados tiraram os maiores proveitos desta “nova ordem econômica” que os ajudou a ampliar seu comércio internacional. Estavam mais aptos a assumir a liderança destes processos. Até o início dos anos 2000 nós não havíamos ainda desfrutado das benesses da glocalização, sobretudo por razões internas, e por outros distúrbios econômicos em países como México, Rússia, etc.

É bem verdade que o Japão, na década de 1970, e posteriormente os “tigres asiáticos”, assim como os Estados-Unidos e Europa na década de 1980 e 1990, tiraram seus proveitos, mas este modelo não foi suficientemente bom para perenizar uma espiral virtuosa em suas economias.

Ainda nos anos 1990 o Brasil escancarava suas fronteiras, e, de maneira desordenada, trouxe novos ares sob a simbólica frase: “Nossos carros se parecem carroças”. O tempo, senhor da verdade, trouxe-nos o ensinamento: nossos veículos eram realmente ultrapassados e nós éramos conduzidos por um carroceiro!

Surge agora um novo momento com a esperança dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China) países considerados a bola da vez, e coincidentemente (ou não?), a exemplo do relatado sob o Japão e os tigres asiáticos, na medida em que um grupo de economias cresce vertiginosamente as antigas grandes potencias estão em declínio.

Isto sugere que podem não haver recursos/estruturas mundiais suficientes que suportem o crescimento simultâneo de certo número de países, ou de um determinado volume de negócios, sem que haja um declínio em outras economias.

É possível que, a exemplo da natureza, na economia algo é possível de ser criado em uma região econômica à condição que tenha como origem a sua própria transformação em outra. Uma declinação das teorias do big-bang, da causa e efeito e da Lei de Lavoisier (lei de conservação das massas).

Li ultimamente as declarações de Vijay Govindarajan, segundo o Business Strategy Review ocupa a vigésima quarta posição no ranking do Thinkers 50, de que a glocalização não funciona mais e que agora é o momento da “inovação reversa”, onde o papel de inovar deve ser realizada nos mercados emergentes e, então, levar estas inovações aos países desenvolvidos.

Permito-me ainda realizar uma leitura crítica e dizer: mas isto não é ainda a mesma glocalização somente vista agora sob a perspectiva dos BRICs?

Em caso afirmativo, nós incorreríamos nos mesmos erros criando novas ofertas, desta vez sob a “ótica BRIC”, para nossas realidades, hábitos e costumes tentando fazer com que outros mercados as consumissem. Novamente somente uma parcela do mundo inovando, concebendo e produzindo e os demais consumindo produtos desenvolvidos a milhares de quilômetros para suas próprias realidades?

Com certeza muitos livros e palestras em várias partes do mundo acontecerão sob o título “Inovação Reversa”, um apelido que impressiona e pode se tornar um business e tanto.

Exemplos de sucesso corporativo mundial não faltam: a Apple e seus inúmeros produtos que se transformaram em sonho de consumo e a Nokia, uma empresa nascida na Finlândia (~5,5 milhões de habitantes), que vislumbrou o mundo como seu mercado e desenvolveu um portfólio bastante segmentado. Ambas se apropriaram de seus destinos e coincidentemente ambas as empresas colocaram a experiência do usuário em primeiro plano.

Vejo ainda que somos prisioneiros dos modismos corporativos e da síndrome do faroeste. Estamos sempre à espera de novos rótulos e ideias pasteurizadas para repeti-las infindavelmente sem sequer questionar quanto sentido elas fazem. Estamos à espera do mocinho com chapéu e botas, montado em seu cavalo e com uma arma com seis balas capaz de aniquilar duzentos índios.

Tudo muito démodé, repetitivo e inadequado para um mundo cheio de oportunidades, nuances e cores a serem descobertas e redescobertas. E muitos de nós ainda ficam extasiados com os kits de sucesso que, se adotados aos milhares, nos levam à inexistência da diferenciação.

. Por: Valmir Mondejar, docente em nível Superior, engenheiro, pós-graduação em Gestão de Negócios, consultor empresarial na reestruturação de empresas e negócios, na revisão de processos, no planejamento estratégico/comercial/marketing e no desenvolvimento de produtos.

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira