Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

30/09/2010 - 09:54

Déficit público, juros altos e câmbio valorizado: uma coisa leva a outra

Muitos analistas econômicos, e a maioria dos empresários brasileiros, têm reclamado do câmbio, que afirmam estar muito valorizado. Se compararmos o câmbio atual com aquele que existia no início do Plano Real, em julho de 1995, verificamos que, em termos reais (expurgando a diferença de inflação acumulada no período entre o Brasil e os Estados Unidos), o Real está valendo o mesmo que valia naquela época.

No início, a moeda brasileira valia em torno de US$ 0,90. Agora, em termos reais, a nossa moeda vale em torno de US$ 0,94. Considerando que o crescimento da produtividade nos Estados Unidos deve ter sido superior à brasileira, desde meados de 1995 até hoje, podemos concluir que, de fato, o Real se valorizou em relação ao Dólar.

A valorização do Real tem prejudicado as exportações brasileiras e gerado altos déficits em conta-corrente (resultado líquido das transações com mercadorias, serviços e renda entre o Brasil e o exterior). O último relatório de contas externas divulgado pelo Banco Central mostra que, para fechar o Balanço de Pagamentos, o País precisou contar com os investimentos diretos estrangeiros e com boa parte dos investimentos em bolsa e títulos públicos (chamado de capital especulativo).

Esta situação tem gerado preocupações, uma vez que a dependência de investimentos especulativos para zerar o Balanço de Pagamentos é, até certo ponto, temerária. Este capital, assim como entra, pode sair a qualquer momento.

O diagnóstico dos analistas econômicos e dos empresários, sobre o problema da valorização do Real, está correto. No entanto, o que parece estar errado é a receita para resolver este problema.

Alguns propõem que o Banco Central deveria aumentar a compra de dólares no mercado, reforçando as suas reservas. Assim, com o aumento da demanda em relação à oferta, o dólar subiria de preço. Outros, recomendam que o governo deveria aplicar um controle rigoroso sobre a entrada de capital especulativo no Brasil. Assim, com a redução da oferta em relação à demanda, o dólar também se valorizaria.

O problema destas sugestões é que, no primeiro caso, o acúmulo excessivo de reserva custa muito caro para o setor público, que aplica estas mesmas reservas a juros internacionais e toma empréstimos a juros praticados no mercado doméstico para comprar os dólares. Uma simples conta indica que o custo para manter US$ 250 bilhões em reserva é de cerca de US$ 25 bilhões por ano (supondo que a diferença entre os juros interno e externo seja de 10 pontos percentuais).

No caso do controle de capitais, a situação é ainda mais complicada, dado que o capital especulativo internacional sempre encontra atalhos para continuar entrando no País. Além disso, uma política de controle de capitais, num país de economia complexa como o Brasil, acaba afastando outros tipos de aplicações que são importantes para o seu desenvolvimento. Vira uma espécie de comportamento esquizofrênico (queremos um tipo de capital, mas não queremos outro tipo).

O comportamento mais realista seria, por um lado, reduzir a atração de capital especulativo via redução da taxa interna de juros e, por outro, enfrentar a realidade de valorização da moeda local com redução dos custos financeiros e fiscais da atividade produtiva.

Para atingir estes dois objetivos, o melhor caminho é o do ajuste fiscal do setor público. Com déficit nominal zero, sobra mais dinheiro para os investimentos públicos. Com mais investimentos públicos, é possível atrair mais investimento privado e aumentar a taxa de investimento da economia. Maior taxa de investimento gera aumento da produtividade da economia e redução das taxas de juros (com aumento da oferta não seria necessário aumentar a taxa de juros quando cresce o consumo).

Assim, o enfrentamento da valorização cambial passa pelo problema dos juros altos, que por sua vez passa pela redução do déficit fiscal e aumento dos investimentos.

. Por: Alcides Domingues Leite Junior, professor de economia e de mercado financeiro da Trevisan Escola de Negócios.| E-mail: [email protected]

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira