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01/10/2010 - 10:36

Atenção com a inflação

A economia brasileira vive um momento que exige atenção. Apesar do otimismo quase que generalizado e de indicadores econômicos que, em sua maioria, compõem um cenário positivo, existem alguns sinais que começam a demandar maior cuidado com o comportamento da inflação.

A Fundação Getúlio Vargas divulgou que o IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado) subiu para 1,15% neste mês, ante o 0,77% registrado em agosto. Trata-se de um importante indicador que demonstra, especialmente, o comportamento dos preços no atacado. Lembremos que as altas nos indicadores do segmento atacadista podem demorar ou, em alguns casos, até não chegar de fato aos preços no varejo. Mesmo assim, a forte variação anotada agora em setembro deve ser observada com atenção.

Alguns analistas apostam em uma inflação acima do centro da meta em 2010. De acordo com o mais recente Boletim Focus, pelo qual o Banco Central do Brasil consulta instituições do mercado sobre suas previsões a respeito do comportamento da economia, a expectativa é que a inflação oficial (medida pelo IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo) encerre este ano em 5,05%, pouco mais de meio ponto percentual acima da meta de 4,5% traçada pelo governo. O próprio Banco Central crê em inflação além do centro da meta ao final do ano. Segundo o Relatório de Inflação de setembro, a previsão anterior foi até reduzida, de 5,4% para 5%. Mesmo assim, a cautela não pode ser abandonada.

A economia aquecida, alinhada ao crédito farto e relativamente mais barato, tem alimentado as previsões um pouco mais pessimistas em relação à trajetória da inflação. É interessante perceber que uma das pontas utilizadas para o controle da inflação, que é a variação cambial, está praticamente estrangulada pela ação do próprio governo. Mesmo diante das pressões internacionais que fazem o dólar perder valor em relações a outras divisas no mundo todo e da entrada recorde de recursos do exterior em nosso País em setembro (estimulada, inclusive, pela oferta pública de ações da Petrobras), o Ministério da Fazenda e o Banco Central têm se esforçado para evitar a valorização do real, que representaria perdas significativas para os segmentos produtivos e exportadores nacionais. Como destaque, podemos lembrar que a atuação do governo no câmbio fez com que as reservas internacionais brasileiras já somem mais de US$ 273 bilhões, patamar recorde. Espera-se, inclusive, que este montante atinja os US$ 300 bilhões em breve.

A sobrevalorização do real ante o dólar poderia ser um fator usado para segurar a inflação, tendo em vista o estímulo natural às importações e, por conseguinte, à competitividade de preços que ocorre nestes momentos. Mas isso não deve ocorrer.

Sem a ponta cambial para segurar a inflação, e caso a inflação siga em trajetória de alta, pode ser necessário que a autoridade monetária nacional atue na ponta dos juros. Lembremos que, após três altas consecutivas, no início deste mês o Copom (Comitê de Política Monetária) manteve a taxa básica de juros da economia em 10,75% ao ano. A justificativa para a atitude foi justamente a expectativa de que a trajetória da inflação estava dentro do esperado.

Alguns analistas do mercado já consideram a possibilidade de o Banco Central ter de aumentar a taxa de juros para controlar um eventual reaquecimento dos índices inflacionários. Juros mais altos tendem a aplicar um freio no crescimento econômico, limitando, portanto, o apetite inflacionário.

Tendo em vista o atual momento eleitoral e as expectativas naturais relativas à transição para o futuro governo eleito, é necessário muita atenção aos movimentos do mercado e às atitudes a serem tomadas pela autoridade monetária no intuito de manter o controle da inflação em dia. A tradicional cautela do Banco Central é, sem dúvida, muito bem-vinda neste momento.

. Por: Márcio Peppe, sócio-diretor de Auditoria e responsável pela área de Outsourcing da BDO no Brasil, quinta maior rede do mundo em auditoria, tributos e advisory services.

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