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27/10/2010 - 10:34

O mito do original

A inovação tecnológica acontece quando desenvolvemos um produto novo, certo? Errado. De um lado temos a invenção radical: o novo, o original, o inédito. De outro, a inovação, que é a introdução do novo em algo que já existe. Temos um produto inovado, portanto, quando aperfeiçoamos um modelo, introduzindo melhorias em um produto já existente. Se o assunto é inovação, a busca da originalidade só atrapalha.

Ser criativo é muito bom e alimenta nossa vaidade. O problema é que não ‘se dispõe de termos ideias geniais todos os dias. Os prêmios e editais que privilegiam a originalidade dos projetos de inovação prestam um enorme desserviço ao reforçar este modelo da criatividade e da inventividade, inviável como base para políticas públicas de inovação tecnológica. Mais do que perseguir a grande ideia, rara e imprevisível, é importante buscar o crescimento da taxa de incorporação de pequenas inovações nos produtos, em um processo contínuo e diário, começando pela agregação das inovações introduzidas nos produtos concorrentes.

Um exemplo é a evolução do telefone celular, que teve início na década de 1960, na Suécia. O aparelho pesava 40 quilos e era instalado em porta malas de carros. A partir daí, houve uma agregação contínua de pequenas melhorias até o celular se transformar no que é hoje. Os de última geração envolvem cinco mil patentes, e nenhum dos atuais grandes players desse segmento participou da criação do sistema. O desenvolvimento de inovações se reflete no crescimento do PIB do país e no aumento da exportação de produtos com maior valor agregado. Para que isso aconteça no Brasil, temos que privilegiar o aperfeiçoamento de processos e produtos, e não a originalidade.

A inovação deve ser incorporada sem demora para se traduzir em vantagem competitiva. O produto gerado a partir da invenção original, que exige investimentos de longo prazo, é ultrapassado rapidamente pelo concorrente que inova. A busca pela ideia inédita, estimulada por quase todos os editais de inovação publicados pelas entidades de fomento, deveria ser substituída pelo critério da rápida inserção no mercado. Ao contrário do que diz o senso comum, inovação não tem a ver com a criatividade do inventor, e sim com a capacidade da empresa de atender antes da concorrência as demandas do mercado. É uma questão de competência e gestão tecnológica.

O desenvolvimento de uma cultura da inovação depende, basicamente, da compreensão de que o aumento da taxa de inserção de produtos aperfeiçoados no mercado é critério mais relevante do que a originalidade; e também de se promover a criação de linhas de produção contínua de inovações nas empresas. Enquanto a primeira inovação é lançada no mercado, a segunda é incorporada à produção e uma terceira já pode estar em pesquisa e desenvolvimento, em um processo incessante e rápido. Porém, para que este modelo prevaleça é necessário modificar profundamente as atuais políticas públicas de apoio à inovação. Se o objetivo do governo é aumentar a competitividade e acelerar o crescimento econômico, terá que elaborar programas de apoio à inovação em conjunto com o setor produtivo e eleger instituições mais próximas dele para dialogar com as empresas.

. Por: Roberto Nicolsky, Físico e diretor-geral da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec)

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