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30/10/2010 - 07:33

7 milhões de famílias não têm automóvel mas poderiam comprá-lo, aponta estudo do Santander

Em maio de 2010 o banco publicou um estudo sobre como a crise de 2008 modificou a capacidade de compra de automóveis pelas famílias brasileiras. Concluímos que, de setembro de 2008 a março de 2010, mais de oito milhões de famílias passaram a ter poder de compra suficiente para comprar um carro. O trabalho aqui apresentado amplia e aprofunda as conclusões anteriores.

De acordo com o estudo de junho de 2003 a agosto de 2010, 14,2 milhões de famílias passaram a poder comprar um carro “popular” novo. Este aumento ocorreu devido a uma conjunção favorável de fatores macroeconômicos que culminaram no aumento da renda domiciliar, no barateamento do crédito e no alongamento dos prazos.

Para chegar a esta conclusão, avaliamos as três condições essenciais que possibilitam a compra do carro “popular” novo: preço, renda e crédito. Utilizamos em nossa análise microdados da pesquisa de orçamentos familiares (POF), a mais detalhada pesquisa sobre os gastos e rendimentos das famílias brasileiras. Em relação à PNAD, usada mais frequentemente neste tipo de pesquisa, a POF tem a vantagem de captar a renda com maior precisão, o que, para os propósitos deste estudo, é uma característica valiosa.

A POF 2002-2003 foi realizada no período compreendido entre julho de 2002 e junho de 20031. Já o período de coleta da POF 2008-2009 foi de maio de 2008 a maio de 2009. Por isso, consideramos os meses de junho de 2003 e maio de 2009 (por causa das respectivas POFs) e agosto de 2010 (por ser o mais recente com dados disponíveis) como bases de nossa análise.

1) 1ª variável que afeta a possibilidade de comprar um automóvel novo: preço- Segundo dados coletados pelo IBGE para mensuração da inflação ao consumidor, entre junho de 2003 e agosto de 2010 o preço do automóvel novo aumentou 12,19%, muito menos que os demais itens do IPCA (43,85%). Isto significa que, relativamente a outros itens da cesta de consumo do brasileiro, o automóvel novo agora é mais barato.

2) 2ª variável que afeta a possibilidade de comprar um automóvel novo: renda- Entre junho de 2003 e maio de 2010, a renda domiciliar média cresceu 32,96% em termos nominais. Para estimar a variação de renda entre maio de 2009 e agosto de 2010, presumimos o seguinte: 1) A distribuição de renda não melhorou entre maio de 2009 e agosto de 2010. Esta é uma estimativa conservadora, já que a taxa de desemprego caiu bastante neste período, mas a sua vantagem é que permite a utilização dos microdados de 2008- 2009 como base.

2) O número de domicílios cresceu 1,4% neste período. Esta estimativa foi feita a partir do crescimento verificado nos anos anteriores e da hipótese que a taxa de crescimento dos domicílios está caindo ligeiramente a cada ano.

3) A massa total de rendimentos cresceu 14,33% neste período, crescimento igual ao calculado pelo Banco Central do Brasil (variável “massa salarial ampliada”). Este avanço, associado ao crescimento de 1,4% dos domicílios, implica que cada domicílio viu sua renda avançar 12,76% em média.

O aumento total de 49,9% na renda média dos domicílios entre junho de 2003 e agosto de 2010, associada a um aumento de apenas 12,19% no preço do automóvel (explicado acima), fez com que o automóvel ficasse muito mais fácil de adquirir (ficou relativamente mais barato que o trabalho). Assumindo, apenas por hipótese, que as famílias utilizassem 100% de sua renda para adquirir um automóvel, elas precisariam trabalhar em média 11,80 meses para fazê-lo em junho de 2003. Em agosto de 2010, o número de meses caiu para 8,83.

As famílias, além de mais ricas, estão menores (menos pessoas por domicílio), e por isso a renda per capita cresceu mais que a renda domiciliar: 63,9% no período total (14,55% em termos reais, ou 1,9% a.a.). Este forte e contínuo aumento da renda se deveu especialmente à melhora do mercado de trabalho.

3) 3ª variável que afeta a possibilidade de comprar um automóvel novo: crédito Entre 2003 e 2010, a taxa básica Selic caiu fortemente. Os juros ao consumidor caíram ainda mais, porque também houve significativa redução do spread bancário. Para a linha de crédito “Aquisição de bens-veículos”, o Banco Central do Brasil informa que a taxa média passou de 3,2% a/m para 1,8% m/m, quase a metade.

4) Estimando a capacidade das famílias de arcar com um financiamento de automóvel- Para estimar o mercado potencial de automóveis no Brasil, buscamos responder à seguinte pergunta: quantas famílias conseguem arcar com o financiamento de um automóvel novo? Para responder a esta pergunta, presumimos que a família compraria um automóvel popular tomando um financiamento do valor integral (isto é, sem entrada). A taxa de juros considerada foi a taxa média informada pelo Banco Central, e o prazo considerado foi o prazo máximo informado pela ANEF. Nestas condições, a parcela mensal necessária para financiar a compra de um automóvel popular caiu 25,77%, de R$799,82 em junho de 2003 para R$ 593,68 em agosto de 2010. Esta queda de R$206,14 na parcela ocorreu principalmente pela redução da taxa de juros, que mais que compensou o efeito do aumento (nominal) do preço do automóvel.

O estudo mostra redução significativa da parcela mensal aumentou a possibilidade de as famílias comprarem automóveis, mas o aumento da renda também contribuiu. Para descobrir qual foi o efeito total, tomamos os microdados das POFs 2002-2003 e 2008-2009, que contém informações sobre a renda bruta familiar de cada família pesquisada, bem como sua respectiva representatividade na população brasileira. Com isso, foi possível calcular quantas famílias, em junho de 2003, tinham condições de arcar com a parcela mensal de um financiamento de automóvel, considerando todas as condições vigentes na época (e descritas nas seções anteriores deste trabalho).

Considerando um comprometimento de renda de no máximo 30% com a parcela do financiamento, e concluímos que 17,04% dos 48,39 milhões de domicílios (8,24 milhões) tinham renda suficiente para arcar com a parcela de R$ 799,82 em junho de 2003. Em maio de 2009, 30,6% tinham renda suficiente para arcar com a parcela de R$649,75 , calculada para a época. Utilizando os pressupostos explicados na seção 2 para estimar a renda em agosto de 2010, concluímos que 22,4 milhões de domicílios (38,37% do total) tinham condições, em agosto de 2010, de arcar com uma parcela de R$593,7, comprometendo 30% ou menos de sua renda. Em relação a junho de 2003, isto significa um avanço de 14,2 milhões de famílias.

Interessa, também, saber qual foi o efeito de cada variável (renda, crédito e preço) no aumento deste percentual. Para isso, partimos da POF 2002-2003 e mudamos uma variável de cada vez para avaliar seu impacto isolado. Por exemplo, mantendo o preço do automóvel e os prazos constantes e alterando apenas a taxa de juros (para a vigente em agosto de 2010), a parcela teria caído para R$ 583,01. Com os dados de renda da época, é possível verificar que 24,9% das famílias (12,06 milhões) tinham condições de arcar com esta parcela mais baixa. Por isso, pôde-se concluir que a queda da variável “juros”, sozinha, permitiu que 7,9% a mais das famílias (24,9% menos 17,04%, ou 3,81 milhões) pudessem arcar com a parcela do carro.

Estimando o mercado potencial de automóveis novos- A capacidade financeira para arcar com a parcela de um automóvel novo não significa que a família efetivamente fará isso.

Descobrir o que a família fará com o dinheiro é uma tarefa virtualmente impossível, mas analisar a situação atual das famílias permite fazer algumas inferências sobre o assunto.

Os microdados das POFs fornecem, além de informações sobre a renda, um inventário sobre a propriedade de bens, entre os quais automóveis e motocicletas (um bem que pode ser considerado um substituto imperfeito de automóvel). A partir dos dados da POF 2008-2009, elaboramos quadros de propriedade de automóveis e motocicletas por capacidade financeira das famílias para maio de 2009. No primeiro cenário (quadro abaixo) estão as condições efetivas da época, que, conforme já explicado, geravam uma parcela de R$649,75 e uma renda domiciliar média de R$2415,89. Neste cenário, verificou-se que 5,68 milhões de famílias não tinham automóvel, apesar de aparentarem ter condições financeiras de arcar com a parcela do financiamento.

No segundo cenário, as mesmas famílias de 2009 são retratadas, mas a capacidade de arcar o financiamento é avaliada com as condições vigentes em agosto de 2010, ou seja, considerou-se que a parcela do financiamento é de R$593,68 e a renda domiciliar média é de R$2724,04. Neste cenário, o número de pessoas com condições de arcar com a parcela do financiamento, mas que não têm carro, sobe para 8,40 milhões.

Para o estudo do Santander, o número ainda é conservador por não considerar o aumento do número de domicílios ocorrido no período, dá a dimensão do potencial de aumento imediato do aumento do estoque de automóveis no Brasil. As famílias que já têm automóveis também demandam novos veículos, mas a revenda do seu veículo atual fará com quem uma família a menos (a que comprou o automóvel usado) demande o automóvel novo. Assim, considerando que a produção anual de automóveis no Brasil foi de cerca de 2,5 milhões em 2009, a indústria demoraria 2,82 anos para atender esta demanda. Por isso, entendemos que o mercado de automóveis deve continuar aquecido ao longo dos próximos anos.

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