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03/11/2010 - 06:45

O valor de um sanduíche

O que o preço de um sanduíche pode dizer sobre a economia mundial? Para quem conhece o chamado “Índice Big Mac”, da revista britânica “The Economist”, saber o valor deste tão comezinho item gastronômico pode equivaler a um indicador muito importante de como andam as relações econômicas entre os países inseridos no cenário globalizado. Com a divulgação de alguns dados atualizados de seu indicador, a publicação acaba dando subsídios para que se possa entender os efeitos do que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chamou de guerra cambial não declarada travada entre as principais forças econômicas globais.

Primeiro, para entendermos melhor, o “Índice Big Mac” compara os preços do sanduíche padronizado vendido mundialmente nas lanchonetes da rede Mc Donald’s, convertidos das moedas locais de 14 países ou blocos econômicos (no caso específico desta atualização) para o dólar norte-americano. Desta forma, o produto vendido nos Estados Unidos (o 15º país da lista, onde o Big Mac custa US$ 3,71) é a referência zero da pesquisa. Os países que vendem o sanduíche a valores em dólar superiores ao registrado no mercado norte-americano teriam, por analogia, um custo de vida proporcionalmente mais elevado.

Na pesquisa atual, o preço do sanduíche vendido no Brasil (equivalente a US$ 5,26) é o segundo mais caro entre as 15 localidades pesquisadas, perdendo apenas para a Suíça (US$ 6,78). Este fenômeno acontece, principalmente, porque o real está sobrevalorizado em relação ao dólar, causando uma distorção no poder de paridade da divisa nacional em relação ao dólar e a outras moedas. No outro extremo, o Big Mac vendido na China custa o equivalente a US$ 2,18, menor valor entre os apurados pelo levantamento.

Tomando-se o “Índice Big Mac” como referência de câmbio, o real estaria com sobrevalorização de 42% em relação ao dólar, enquanto que o iuan chinês somaria subvalorização de 41% comparado à moeda norte-americana.

Fica fácil compreender que as exportações chinesas são estimuladas em um cenário como o atual, enquanto as vendas externas brasileiras perdem força de competitividade no mercado internacional.

Dentro das regras do mercado, o Banco Central tem tentado enxugar o excesso de liquidez de moeda norte-americana no Brasil para reduzir o potencial de sobrevalorização do real. Este movimento representa um custo elevado, que pode chegar a algo em torno de US$ 27 bilhões, segundo projeção de um banco brasileiro.

Com reservas internacionais superiores a US$ 280 bilhões, o Brasil perde dinheiro toda a vez que amplia esse valor, já que precisa emitir títulos em real para adquirir dólares. Os papeis nacionais pagam aos tomadores pelo menos 10,75% ao ano, que é a taxa básica de juros da economia brasileira, enquanto as reservas internacionais são aplicadas no exterior, onde as taxas de juros pagas rondam o 1% ao ano. Não é difícil perceber que esse movimento causa prejuízos.

A verdade é que o dilema não é fácil de ser resolvido. Soltar de vez a cotação do real representaria decretar o fim da pouca competitividade que os produtos nacionais têm no mercado internacional. Por outro lado, manter a cotação de acordo com as regras da livre flutuação cambial equivale a um custo alto, com resultados não muito expressivos. Enquanto os países desenvolvidos seguirem estimulando suas economias com a emissão de moeda (especialmente o dólar) para reversão dos efeitos da última crise financeira, as economias em desenvolvimento, como a do Brasil, sofrerão drásticos efeitos, especialmente se alguns países fizeram com que o jogo da guerra cambial fique ainda mais duro.

. Por: Márcio Peppe, sócio-diretor de Auditoria e responsável pela área de Outsourcing da BDO no Brasil, firma-membro integrante da quinta maior rede do mundo em auditoria, tributos e advisory services.

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