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23/11/2010 - 09:10

Cidades mais desenvolvidas fora da Copa das Confederações

Apenas 30% das obras estão em dia. São Paulo e as capitais da região Sul estariam fora da competição devido a atrasos no cronograma.

Muito se fala no atraso das obras dos estádios para a Copa de 2014. Entretanto, um ano antes do mundial, o Brasil sediará a Copa das Confederações – uma espécie de “aquecimento” e teste para o evento maior. Considerando que a FIFA (Federação Internacional de Futebol Associado) não inclui no torneio arenas que não estejam indicadas para receber a Copa, o calendário dos novos estádios brasileiros está cada dia mais em risco. Com o ritmo lento das obras, pode-se projetar que apenas quatro das 12 cidades-sedes terão suas instalações esportivas prontas até 2013.

Considerando que o tempo médio para construção de uma arena é de 30 meses, hoje, faltando 31 meses para o evento, pode-se projetar que na ocasião apenas Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Salvador estariam prontas para receber os jogos da Copa das Confederações que reúne as melhores seleções continentais.

O Mineirão é o mais adiantado no cronograma de obras. O campo foi rebaixado e as arquibancadas inferiores já foram demolidas para construção das novas, sendo o próximo passo a cobertura. No Rio, o anel inferior do Maracanã já está preparado para demolição. Na capital brasileira, o estádio Mané Garrincha saiu da fase de demolição das arquibancadas descobertas e em breve começa a construção das novas, agora cobertas. A Fonte Nova foi implodida e iniciou as obras na fundação.

Até o momento, 70% das obras estão atrasadas. Fortaleza e Natal ainda nem saíram do papel. Recife ainda está desapropriando pessoas no entorno da região e, somente no final de outubro, conseguiu autorização da Agência Estadual de Meio Ambiente para reiniciar as obras de terraplanagem, dragagem e desassoreamento. Cuiabá e Manaus estão com atraso nos cronogramas e pouco volume de obras, que se encontram na fase de fundação. Todavia, as cidades que mais preocupam são Curitiba, Porto Alegre e São Paulo. O trio, que é sempre referência nacional em economia e desenvolvimento, mostra-se inesperadamente fraco em execução.

A capital gaúcha estava indo bem com seus planos, porém, a FIFA exigiu obras de rebaixamento do campo do Beira Rio para acabar com alguns pontos cegos. O Inter alegou que isso gerará um aumento substancial no custo das obras e que não tem os recursos extras para as adequações. As obras continuam de acordo com o cronograma do clube e da construtora. Contudo, como não estão cumprindo as exigências, a arena corre o risco de ficar fora de ambos eventos da FIFA. A nova arena do Grêmio, planejada segundo os padrões da entidade máxima do futebol mundial, aparece como melhor alternativa caso o Beira Rio seja realmente vetado. Mas, como as obras ainda não começaram e o projeto é novo, não há garantias que o estádio fique pronto a tempo. Além disso, precisaria passar por todo processo de inspeção e aprovação da FIFA para garantir o local no evento.

Em Curitiba, a Arena da Baixada não exige muitas adequações, mas o Atlético Paranaense, que esperava receber apenas investimentos privados para custear as obras, acabou a ver navios dos investidores. Depois de uma longa negociação com os governos municipal e estadual, o Atlético conseguiu, no final de outubro, aprovação do Projeto de Lei que institui o potencial construtivo de R$ 90 milhões para viabilizar as obras de sua arena. A prefeitura de Curitiba concederá títulos da cidade como garantia na captação de recursos junto à iniciativa privada e, em troca, o Atlético cede sua arena para programas governamentais e atividades de interesse social. O acordo foi bom para todos, porém, a arena segue sem obras e funcionando regularmente até pelo menos o final do campeonato brasileiro, em dezembro.

Os diversos pontos de interrogação estão em território paulista. Depois de vetar o Morumbi, segundo maior estádio do Brasil, o governo paulista e a FIFA optaram por apoiar a nova arena do Corinthians. O clube firmou uma parceria com a Odebrecht, que bancará por meio de empréstimo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) R$ 330 milhões para o projeto inicial do estádio, que terá 48 mil lugares. Porém, a cidade espera receber a abertura do evento, o que exige um aumento na capacidade do estádio para 65 mil lugares e, consequentemente, mais recursos para concretização da obra. A FIFA afirma que não investirá capital próprio para essa adequação, deixando Corinthians, Odebrecht e órgãos públicos para pensar e captar. Considerando ainda que uma arena nova leva em média de 30 a 40 meses para ficar pronta, nada garante jogo nem abertura em Itaquera.

Com o projeto alvinegro ainda no papel e aguardando liberação do Ministério Público, a Arena Palestra aparece como opção. O estádio foi fechado em setembro, as cadeiras do primeiro setor já foram retiradas e em breve começa a implosão das arquibancadas. A reforma da arena do Palmeiras, segundo o cronograma, deve finalizar em meados de 2013 e só não foi antecipada por conta da falta de liberação da prefeitura. No entanto, acontece com o Palestra o mesmo que a Arena do Grêmio: necessidade de aprovação da FIFA. E como até o momento o padrão da entidade mostra que ela dificilmente inclui novos estádios no Mundial, as chances da arena verde e branca são quase nulas.

Nesse momento, a questão das cidades do sul passa por uma decisão política de remanejar recursos públicos para garantir a execução satisfatória do evento. Não existe evento sem instalação esportiva e é fato que a construção de arenas esportivas necessita de apoio e recursos financeiros também do setor público, já que os investimentos privados, tidos a princípio como única fonte dos estádios, aparentemente são insuficientes. Ou seja, essa situação emblemática das cidades mais desenvolvidas do Brasil mostra que é preciso um alinhamento mais estreito entre todas as autoridades, lembrando que as arenas não são apenas para um mês de Copa e sim para todos os dias e eventos possíveis a serem realizados depois que o local for (re)inaugurado.

A FIFA recentemente minimizou a questão dos atrasos nas obras das arenas. “Seria praticamente um milagre se tudo estivesse pronto agora e não houvesse nada a ser feito. Ainda há três anos e meio pela frente, e tenho certeza de que as soluções serão encontradas”, afirmou Blatter ao jornal Lance! no final de outubro. Contudo, se o Brasil espera dar show em matéria de Copa, os organizadores precisam definir se querem seguir o caminho da África do Sul, que entregou seus estádios às vésperas do evento, ou da Alemanha, que quatro anos antes da Copa 2006 já tinha quatro dos 12 estádios do Mundial adequados ao padrão da FIFA.

.Por: Andressa Rufino, pesquisadora da Trevisan Gestão do Esporte e autora do livro “Arena Multiuso: um novo campo nos negócios”, da Trevisan Editora Universitária.

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