Página Inicial
PORTAL MÍDIA KIT BOLETIM TV FATOR BRASIL PageRank
Busca: OK
CANAIS

27/11/2010 - 09:44

Risco operacional: o iceberg do patrimônio

Situações como a que esta passando o Banco Panamericano sempre promovem debates acalorados sobre controles (ou a falta deles) por parte de órgãos reguladores, companhias de auditoria e o meio empresarial em geral.

Os eventos que ocasionaram o problema, apesar de ainda estarem sob investigação, não devem fugir de três possibilidades: fraude, interpretação inadequada da lei ou execução de procedimentos incorretos, todas de cunho operacional. Independentemente das causas, o importante é que a empresa, sócios e diretores foram profundamente abalados. Um patrimônio conquistado em uma vida de trabalho é colocado em risco, de modo irreversível.

Além disso, a credibilidade das instituições é afetada. Auditorias independentes, agências de risco, Banco Central, todos passam a ser questionados, ficando instituída a dúvida generalizada.

Cabem aqui algumas questões: será que todos estão errados ou foram desatentos em suas análises e auditorias? Era – e é - possível evitar situações como essa, que vemos se repetir com alguma frequência?

Entendemos, baseados em nossa experiência, que o quadro pode ser evitado se alguns cuidados forem tomados. Sem particularizar nem fechar teorias ou emitir juízo de valor, o ocorrido com o Banco PanAmericano parece ter relação com a crise do final de 2008, que exigiu o aumento nas cessões de crédito entre instituições financeiras, em volumes muito superiores ao que usualmente praticavam. As transações de cessão de crédito - que não são triviais - e, consequentemente, as contabilizações envolvidas, ocorreram bem acima da média histórica. Como sabemos, fatores de riscos operacionais relevantes são o volume e a complexidade das operações. No caso, os dois atuaram simultaneamente, potencializando a possibilidade de falha, intencional ou não.

Temos assim um ponto de risco operacional, não obrigatoriamente identificável pelas auditorias independentes – qualquer que sejam elas -, que seguem procedimentos padrão que nem sempre permitem a detecção, com agilidade, de erros. Mesmo considerando que contabilização das operações é parte da rotina dos auditores, o erro não foi identificado. Seria preciso que as contas contábeis relativas à cessão de crédito, especificamente, fossem verificadas minuciosamente, em função do contexto atípico mencionado antes. Pode ser que essas contas, por alguma razão, não tenham entrado na agenda da auditoria do Banco, pelo menos como necessitariam. Lida-se, neste caso, com o conhecido erro de detectivo, presente em auditorias de qualquer natureza. O propósito aqui não é aliviar os encargos do auditor, que falhou, sem sombra de dúvida, mas ressaltar a complexidade do ambiente em que vivem as organizações.

As agências de risco, por sua vez, têm priorizado a medição do risco de crédito, levando em conta a lucratividade, o nível de endividamento e – para instituições financeiras – a qualidade dos devedores. É imperativo, cada vez mais, centrar as atenções nos riscos operacionais e no grau de governança corporativa das companhias. O Banco Central, no papel de regulador e supervisor, não se responsabiliza pelos números e balanços informados pelos bancos, que é dever dos controladores e auditores. E, no final da história, quem perde são os donos do Banco PanAmericano.

O que poderia ser feito, então? Uma saída é estabelecimento de mecanismos automáticos e programados que alertem os gestores a tempo sobre indicadores de risco. São sinalizadores, gerados por softwares inteligentes que monitoram permanentemente o contexto empresarial, enxergando não apenas o ambiente interno, mas também variáveis externas. Uma luz amarela ou vermelha indicaria a possibilidade de haver problemas em andamento. Muitas vezes as falhas são invisíveis. O objetivo é estimular os gestores a investigar mais a fundo áreas e processos de negócio críticos. Talvez a avaliação não resulte em ações corretivas, porque não existam erros de fato. Como o próprio nome revela, um indicador de risco aponta para a possibilidade de problemas, que nem sempre estão presentes. Melhor, se tudo estiver bem. De qualquer modo, a prevenção é um bom caminho. O fundamental é não colocar em risco a sobrevivência da organização.

Voltando ao acontecimento do Banco PanAmericano, os administradores poderiam ter sido avisados, mediantes sistemas de gestão de risco, que as cessões de crédito precisariam ser conferidas detalhadamente, simplesmente porque os valores e as frequências vinham crescendo muito, bem acima dos números passados. Essas contas contábeis podem até ter sido auditadas, todavia sem o rigor requerido pela ocasião. O mundo dos negócios tem se tornado cada vez mais integrado, global, sendo recomendável a utilização de ferramentas especializadas de medição de riscos. Não dá para contar só com as competências individuais ou de terceiros.

A realidade é que as instituições – em resposta às crises geradas por quebras de instituições financeiras mundo afora – estão mais atentas à avaliação dos riscos de crédito e de mercado, mas começam a se mover na direção de também medir o risco operacional, pois é ele que, na maioria das vezes, está por trás das causas dos problemas e aponta as principais fragilidades dos controles internos.

Em ambientes complexos – como é o das empresas e instituições em geral – é necessário gerenciar indicadores de risco, até como ferramentas de auxílio à tomada de decisão. Está cada vez mais difícil um empresário ter controle de todas as áreas de seu negócio. O principal acionista individual do PanAmericano tem declarado constantemente que não conhece o ramo bancário e que atua simplesmente como investidor. É uma explicação razoável e cabível, considerando que detém muitos outros empreendimentos. Porém não deveriam ele e outros acionistas importantes serem, no mínimo, alertados sobre a exposição a riscos sempre que os mesmos ultrapassassem limites pré-definidos? Não precisariam examinar periodicamente painéis de controle contendo os pontos de maior fragilidade das suas companhias?

Além dos servirem como instrumento para acionistas e gestores, as ferramentas de gestão de risco operacional podem ser usadas pelas auditorias. Com elas, criam-se controles e avisos das ações inusitadas e não usuais, independentemente de serem causadas por fraude, interpretação inadequada da lei ou procedimento contábil incorreto. É a ponta do iceberg expondo o real tamanho do conjunto.

. Por: Othederaldo de Araújo Júnior, diretor da UB Sistemas, empresa especializada em risco operacional

Enviar Imprimir


© Copyright 2006 - 2024 Fator Brasil. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Tribeira