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02/12/2010 - 08:28

Setor Social: avanços em todo o mundo

Organizações sem fins lucrativos se reinventam para atrair e manter doadores utilizando-se de recursos como a tecnologia digital e práticas do mercado financeiro.

A captação de recursos para o Setor Social, tanto em organizações sem fins lucrativos de países com cultura de doação (Estados Unidos e Inglaterra), quanto naqueles em que a mobilização pública vem se elevando e migrando do status do assistencialismo para o de busca por mudanças efetivas em políticas públicas (Brasil) está, cada vez mais, apoiada em métodos modernos e atrelada a novas realidades sociais.

Foi o que revelou a 30° edição do International Fundrasing Congress (IFC), que aconteceu no mês de outubro, na Holanda, e que contou com a participação de 1.000 gestores das principais ONGs do mundo. Tendências como a mobilização de jovens; o uso das novas mídias para vincular doadores a causas globais; a criação de fundações por celebridades e famílias ricas – os chamados empreendedores sociais – e novos perfis de doadores foram discutidas no Congresso.

A consultora e diretora do Management Center Brasil, (parte da rede =mc, consultoria líder em gestão do Terceiro Setor na Inglaterra), Lucimara Letelier, que gerencia projetos de Planejamento Estratégico em captação de recursos, Marketing e Comunicação para organizações sociais, foi a única palestrante brasileira convidada para palestrar no IFC, em trinta anos que o congresso é realizado. Letelier diz que a crise mundial foi uma das propulsoras de novas tendências. “Com a crise, as pessoas e empresas tornaram-se mais seletivas em suas formas de doação. As instituições de todo o mundo estão tentando se superar na criação de medidas para reaproximar doadores”, comenta.

Entre as tendências observadas pela consultora, ela destaca aquelas que são e serão “chave” ao desenvolvimento do Setor Social em todo o planeta. Com o mundo globalizado, tanto as empresas que investem no Setor Social quanto organizações sem fins lucrativos, vêm se reinventando para apoiar e criar políticas sociais de impacto global. “Hoje o consumidor é globalizado. Está atento aos problemas do planeta e seletivo quanto a escolha do que consome”, comenta Lucimara. No Brasil, à realidade do consumidor globalizado, soma-se ainda o novo perfil de doador da classe C, que por conhecer de perto a realidade que precisa de transformação, tem relação mais participativa às causas que apoia. “O Setor Social está otimista com esses novos doadores que estão por vir. Certamente vão inaugurar um novo momento na filantropia, muito mais consciente e menos assistencialista”, afirma.

Ainda com a finalidade de consolidar a imagem da atuação responsável, empresas globais vêm travando relação profissional mais saudável com seus colaboradores. São empresas que decidem realizar investimento social, porém com oportunidades de engajamento de seus funcionários nas causas que apoiam com voluntariado, ação social direta ou doação.

Tecnologia - Outra tendência global apontada no Congresso é o uso da tecnologia por Organizações em projetos inovadores de mobilização pública e captação de recursos. Como a ONG inglesa Depaul UK, que criou um aplicativo para iPhone, com o objetivo de conscientizar usuários sobre as condições de vida de pessoas que vivem nas ruas. O iHobo é como um Tamagotchi (brinquedo virtual que crianças “alimentam”) de morador de rua, o qual proprietários de iPhone têm de cuidar para que não use drogas ou roube para alimentar o vício. Tags em sites de relacionamento como Facebook (Facebook Causes) “chamando” os internautas à doação, jogos online e aplicativos de realidade aumentada para salvar o mundo da pobreza e mudança climática são outros exemplos de utilização da tecnologia e das novas mídias. Lucimara comenta que tais meios ainda são pouco utilizados por pessoas com hábitos de doação, mais acostumadas aos métodos tradicionais, como telemarketing e carta. “Mas as organizações utilizam estes projetos criativos e atraentes para atrair a nova geração de jovens doadores, obter custos menores e dar visibilidade as suas causas”, diz. A consultora lembra do pioneirismo da campanha da senadora e ex-candidata a presidência da república pelo Partido Verde, Marina Silva, que pediu doações de pessoas físicas no próprio site da campanha, ajudando a consolidar uma nova cultura de doações online no Brasil para causas. “Marina Silva se utilizou do mesmo método de captação de pessoas físicas da campanha do Obama, similar a importantes Organizações sem Fins Lucrativos, como a ActionAid, por exemplo, que busca doações no hotsite da campanha “Mude uma Vida, Mude o Mundo”, hoje com resultados de mais de 5.000 doadores regulares mensais recrutados desde 2007, com projeção de oito mil pra 2011.”

Investimento Social - Outra tendência mundial é o nascimento de fundações empresariais na filosofia do Philantrocapitalism e Venture Philanthropy. Termo cunhado em 2006 pelo Redator Chefe de Negócios da American Bussiness e Editor da The Economist, Mattew Bishop, Philantrocapitalism designa uma nova forma de fazer filantropia, pela qual ricos empreendedores investem não somente dinheiro, mas também tempo, capital político e energia em causas para mudar o mundo significativamente utilizando-se de práticas capitalistas para dar escala `as idéias do setor social. Isto torna a atuação do Setor Social mais parecida com a dos mercados com fins lucrativos. “No Philantrocapitalism, a filantropia se utiliza de conceitos e práticas capitalistas para gerar maior impacto social e econômico a ações de interesse público. Os filantropos se comportam como investidores e empreendedores buscando efetividade de resultados, mas sem perderem o foco na causa pública”, comenta Lucimara.

Donos de grandes fortunas como Bill Gates, Cooper-Hohn (dos Fundos Hedge) e Carlos Slim, o bilionário mexicano das telecomunicações, estão investindo milhões e liderando iniciativas para combater problemas globais em fundações criadas por eles. Segundo a consultora,”no Brasil estão nascendo as primeiras fundações familiares, fenômeno mais recente nos últimos cinco anos e acompanharemos as similaridades entre esta realidade do Philantrocapitalism americano e europeu com os caminhos da filantropia realizada pelos ricos brasileiros desta forma mais articulada e organizada.”

Muitos doadores individuais também têm assumido o papel de investidores sociais. Atuando com Microfinanças, por exemplo, fornecem empréstimos financeiros para pessoas que criam negócios sociais. A ONG brasileira sitawi, fundada por Leonardo Letelier, é um fundo social que amplia o impacto de organizações e empresas comprometidas com causas sociais e ambientais. O fundo social é formado por doações de pessoas físicas e jurídicas, 100% destinadas para Empréstimos Sociais.

Os avanços do Brasil- Nos últimos 30 anos, o Setor Social brasileiro tem caminhado a passos largos em direção a profissionalização. Com cerca de 400 mil ONGs em atuação (fonte: GIFE) e movimentando 5% do PIB nacional, organizações brasileiras se utilizam de muitos métodos de captação de gestão apresentados no International Fundrasing Congress. Letelier comenta que o avanço brasileiro é notável. “Com as empresas, sabemos que o Investimento Social Privado no Brasil está hoje na casa dos 6,5 bilhões de reais, segundo pesquisa do Gife. E o avanço com as pessoas físicas, medimos pelo crescimento dos mais ricos e da classe C, ambos trarão crescimento significativo dos recursos disponíveis.”

A profissionalização que já vem sendo traçada, somada ao favorável momento econômico do Brasil, inauguraram uma realidade sem precedentes ao seu Setor Social, em que a percepção e participação democrática convidarão, cada vez mais, pessoas físicas e empresas a serem parte da transformação social que o país precisa.

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