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14/12/2010 - 08:51

Os dilemas da economia

Depois de viverem por pelo menos duas décadas conhecidas como “perdidas” para o crescimento da economia – os anos 1980 e 1990 –, os brasileiros têm se acostumado a aproveitar um período mais prolongado de expansão econômica. Agora em 2010, por exemplo, a expectativa dos especialistas é a de que o PIB nacional cresça por volta de 7,5%.

Esse quadro de crescimento constante vem sendo ressaltado diante das demonstrações de que o governo da presidenta eleita, Dilma Rousseff, adotará uma postura desenvolvimentista.

Porém o cenário atual de nossa economia e as notícias que nos chegam diariamente de problemas enfrentados por países europeus têm causado preocupações em relação à inflação em nosso país e a uma eventual contração do mercado mundial.

Indicadores de inflação divulgados recentemente têm demonstrado que os preços ganham fôlego nos últimos meses. As previsões de especialistas sobre esse movimento vêm avançando semana a semana. É dado como certo que o IPCA, índice que mede a inflação oficial do país, ficará em 2010 acima do centro da meta, de 4,5%. Estima-se que a alta acumulada no ano se aproxime dos 6%. Para 2011, que tem a mesma meta, a inflação estimada é de pouco mais de 5%.

Diante desses movimentos, o Banco Central e o Conselho Monetário Nacional anunciaram medidas preventivas – como o aumento do depósito compulsório exigido dos bancos - que irão retirar R$ 61 bilhões da economia nacional e tendem a restringir o crédito oferecido às pessoas e empresas. O objetivo é desestimular o consumo, que está aquecido, e desacelerar o avanço da economia. Tais movimentos prometem, no médio prazo, reduzir o ritmo de evolução da inflação.

Paralelamente, é possível que o Comitê de Política Monetária do Banco Central venha a aumentar em breve a taxa básica de juros da economia. As estimativas apontam para uma Selic de 12,25% ao final de 2011.

O controle da inflação é uma das grandes conquistas da economia brasileira desde 1994, quando foi lançado o Plano Real pelo governo do presidente Itamar Franco. Nos últimos oito anos, ao longo dos dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Banco Central, sob a presidência de Henrique Meirelles, adotou postura conservadora para manter a inflação sempre dentro das metas estabelecidas.

A grande questão é que a alta dos juros e a restrição ao crédito são, justamente, medidas contentoras do consumo e do investimento produtivo. Isso se reflete em menor crescimento para a economia do país. Além disso, juros altos (o Brasil tem atualmente uma das mais altas taxas de juros do mundo) atraem investimentos estrangeiros de curto prazo, o que estimula a sobrevalorização do real ante o dólar, prejudicando as exportações brasileiras e estimulando importações.

Um fator interessante de ser destacado é que o Brasil vive uma situação singular em relação à economia mundial. Enquanto o Banco Central Europeu manteve recentemente em apenas 1% ao ano a taxa básica de juros nos países que compõem o bloco, até para estimular o consumo local, o governo brasileiro pode vir a aumentar a já elevada Selic para controlar a inflação a partir da contenção das compras.

A alta de preços responde a um mandamento básico da economia: a lei da oferta e da procura. Como nosso mercado interno está aquecido, estimulado pelo aumento da renda, melhora na oferta do emprego e crédito facilitado, o consumo de bens e serviços está em alta. Em razão de a oferta não crescer no mesmo ritmo da procura, os preços avançam, empurrando para cima a inflação. Vale notar que a redução na oferta de recursos para o crédito tem o poder de arrefecer o ânimo dos consumidores, pois os juros cobrados nessas operações serão mais altos, mas os investimentos produtivos – que têm o potencial de ampliar a oferta e melhorar a relação de equilíbrio do mercado - também acabam desestimulados.

É evidente que a prudência adotada pela equipe econômica do governo brasileiro é justificável e necessária neste momento de turbulências e de dúvidas sobre o comportamento da economia internacional e local. Infelizmente, o vigor de nosso crescimento deve ser contido já nos primeiros meses do ano inaugural do governo Dilma Rousseff. Ciência não exata, a economia nos exige conviver com dilemas desse tipo.

. Por: Márcio Peppe, sócio-diretor de Auditoria e responsável pela área de Outsourcing da BDO no Brasil.

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