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04/01/2011 - 08:14

A medida saudável da agenda dos filhos

Nos últimos anos temos vivido o encantamento das inovações tecnológicas e a sedução da revolução determinada pela era da informação e da competitividade. Na ânsia de preparar os filhos para se tornarem aptos para um mercado de trabalho cada vez mais exigente e uma sociedade que cultua o sucesso, os pais preenchem as agendas dos seus filhos com atividades extracurriculares.

Além de ir à escola, que em alguns casos é em período integral, as crianças e adolescentes têm que se desdobrar para dar conta de compromissos extraescolares, cuja escolha geralmente é feita pelos pais. Alguns, procurando compensar as suas próprias frustrações infantis, justificam-se com o discurso: "Quero lhe dar tudo o que eu não tive...". Em muitos casos, este excesso de compromissos pode ser resultado da falta de tempo dos pais para se dedicar aos filhos, já que o cotidiano deles não permite o acompanhamento das atividades das crianças como gostariam ou acreditam que deveriam. Desta forma, uma agenda lotada dá aos pais a falsa ilusão de controle e proteção da ausência de suas figuras na rotina de seus filhos, e que estes não ficarão expostos aos "perigos" da ociosidade.

Profissionais de diferentes áreas têm alertado sobre os problemas que o exagero na quantidade de tarefas extracurriculares pode provocar, tais como, ansiedade, estresse, agressividade, desânimo, irritação, distúrbios alimentares, falta de concentração, distúrbios do sono, baixo desempenho acadêmico e outros sintomas de distúrbios no sono, como insônia ou sonolência.

Isto realmente é válido e verdadeiro, mas cabe ressaltar a importância que as atividades extraescolares têm na formação da criança e do jovem, à medida que reforçam a aprendizagem e suprem deficiências do sistema educacional que estão sujeitas as nossas escolas.

O problema não está em ter ou não atividades extracurriculares, mas a questão se refere aos objetivos subjacentes às escolhas das mesmas. O objetivo é potencializar talentos? Proporcionar atividades lúdicas à criança? Deixar mais tempo livre para os pais? Aplacar a culpa da ausência destes na educação de seu filho? Ou promover o desenvolvimento desta criança ou adolescente oferecendo-lhe um mundo de estímulos diferentes dos que recebe no ambiente escolar, para que possa ampliar a sua imagem sociocultural?

A aceleração das mudanças e as questões dela decorrentes convidam-nos a desempenhar novos papéis na educação de nossos filhos. Temos que compreender que o ato de escolher imposto pela transitoriedade das situações implica em sinalizar às pessoas que além de suas habilidades específicas, a criatividade e flexibilidade tornam-se imprescindíveis para o desenvolvimento do indivíduo. É na articulação e contextualização das informações, das habilidades para pensar e aprender a resolver situações-problema, no aprender a se relacionar consigo mesmo, com outros e com o conhecimento que as diferentes competências vão sendo construídas.

Sabemos que se pode aprender sempre e em qualquer lugar e que a curiosidade inerente ao processo de aprendizagem não se limita aos locais que lhe são atribuídos como os espaços caracterizados para tal finalidade. Não só o conhecimento é importante para a formação das crianças. Experiências adquiridas por meio do convívio com os seus companheiros são fundamentais para o desenvolvimento da cr iança e do adolescente.

É certo que, para dar conta de compromissos e obrigações, é necessário trabalhar a capacidade de administrar tempo, de priorizar escolhas e de lidar com diferentes situações e grupos sociais, resultando em flexibilidade, socialização e disciplina, No entanto, os pais devem respeitar o limite dos filhos, caso contrário, a atividade pode tornar-se um verdadeiro tormento para a criança, deixando de cumprir um dos seus principais objetivos que é dar continuidade ao desenvolvimento de determinados talentos e capacidades. As atividades extracurriculares cumprem seus papéis na rotina das crianças e dos jovens, desd e que praticadas com critério e tenham em atenção à idade, o gosto pessoal dos mais novos, os seus desejos, interesses e características da sua personalidade.

Não é raro também observamos que, ao apresentar baixo desempenho acadêmico, os pais sobrecarregam seus filhos com aulas particulares, na esperança que estas reponham o conteúdo que não foi possível ser aprendidos no contexto de sala de aula. Muitas vezes, há um exagero na quantidade de tempo que passam sendo acompanhadas, que não lhes permite um tempo de estudo autônomo. A agenda lotada, no entanto, nem sempre é uma imposição dos pais. Há adolescentes que preferem ter várias ocupações extraescolares a ficar em casa sem ter o que fazer. Justificam-se argumentando que, além de aprimorar os conhecimentos, essas atividades dão a oportunidade de fazer novos amigos e que é possível sim conciliar as tarefas escolares com as atividades que gostam de fazer. Administrar tantos compromissos é uma ha bilidade e não um problema.

Para concluir, é fundamental sublinhar que se por um lado os estudantes devem ter tempo para fazer a tarefa da escola e estudar para as disciplinas da grade curricular, as experiências adquiridas através do convívio com os seus companheiros são fundamentais para o desenvolvimento da criança e do adolescente, e que não só o conhecimento é importante para a formação das crianças. Assim, é preciso ter cautela para saber dosar as atividades extracurriculares dos filhos na medida saudável e que, para as crianças mais novas, é indispensável existirem momentos sem nada marcado na agenda, uma vez que elas precisam de tempo para si próprias, tempo para fazerem as suas próprias descobertas, distantes da intencionalidade do adulto, pois creio que é na relação entre si e o objeto do conhecimento que acontece a aprendizagem. Assim, a qualidade da informação não pode ser sobreposta à turbulência da quantidade.

. Por: Quézia Bombonatto, psicopedagoga, presidente da ABPp - Associação Brasileira de Psiopedagogia

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