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05/01/2011 - 06:44

Investe Rio lança microcrédito em comunidades pacificadas


Andréia Miranda, nascida há 30 anos na comunidade Santa Marta, em Botafogo, aparenta fragilidade com seus poucos 48 quilos. É só aparência mesmo. Tão ágil quanto inteligente, ela demonstra força e versatilidade para estar em vários pontos do morro, durante o dia, para tocar seus pequenos, porém ambiciosos negócios. Casada, mãe de dois filhos, a esperta microempresária é dona de um bar, integra projeto comunitário de confecção de bolsas, roupas e bijuterias e, há quatro meses, começou a fazer camisetas estampadas com motivos locais.

Andréia é uma das pequenas empreendedoras do Santa Marta assistidas pelo novo programa do Investe Rio, agência da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços de fomento ao desenvolvimento econômico do Estado do Rio: uma linha de microcrédito para financiar pequenos e micronegócios das comunidades pacificadas da cidade.

– Peguei R$ 2 mil, comprei uma máquina de costura, um transfer e tinta e com isso montei uma estrutura mínima, onde já produzi cerca 100 camisetas, todas vendidas, a R$ 25, cada. Já paguei quatro prestações e faltam mais três. Quando acabar de pagar o empréstimo, pretendo pegar mais um dinheiro na Investe Rio para adquirir um computador e completar a minha estamparia. Aí, só vai faltar montar minha barraca ao lado da Laje Michael Jackson para vender minhas camisetas aos turistas – planeja Andréia.

O projeto da Investe Rio começou pelo Santa Marta, mas o plano é estendê-lo para todas as comunidades com Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Segundo o presidente da agência, Maurício Chacur, a criação do programa visa aproveitar o potencial econômico dessas comunidades, hoje libertas do jugo do tráfico ou da milícia.

– O programa surgiu a partir de duas necessidades pós-pacificação: a primeira, levar a essas comunidades não apenas serviços e ações sociais, mas também microcréditos para pequenos empreendedores. Segundo, o Estado ajudar a gerar atividades econômicas e empregos numa economia antes dominada pelo tráfico que, embora ruim e maligna, gerava recursos nessas comunidades – argumentou Chacur.

Cada comunidade tem suas características. No caso da Zona Sul, o forte são as atividades voltadas para o turismo. De olho nesse público, Salvador Pinto de Souza e dona Neusa Maria, sua mulher, abrem as portas de sua casa de dois pavimentos, no meio da comunidade, para receber visitantes, a maioria estrangeira, e servir uma famosa feijoada, aos sábados. O casal pegou emprestados R$ 1,5 mil para comprar um fogão industrial e outros equipamentos apropriados para poder incrementar a produção de alimentos.

– Por enquanto, além da feijoada aos sábados, faço outras comidas só por encomenda. Com o aumento de turistas, temos sido procurados, mas não tenho estrutura adequada para atender a todos. Nossa pretensão é aumentar o negócio. Começar com uma coisa pequena e ir crescendo – sonha dona Neusa.

É o mesmo plano de Antônio Custódio da Silva, natural do Rio Grande do Norte que mora há 30 anos na Santa Marta e tem um bar na entrada da comunidade. Ele foi o primeiro a entrar no programa da Investe Rio e acaba de pagar os R$ 2 mil emprestados há quatro meses. Com o dinheiro, planeja reformar o banheiro feminino e, em seguida, pegar mais recursos para comprar fogão novo e uma coifa. Ele está de olho nos turistas que, cada vez mais, sobem o morro para visitar a comunidade e param na subida ou na descida em seu estabelecimento para beber um refrigerante ou uma cerveja.

– Pretendo ampliar o negócio oferecendo também comida e salgadinhos – antecipou o dono do bar.

A Investe Rio tem um posto no Santa Marta para captar novos empréstimos, orientar os tomadores do crédito e acompanhar a aplicação adequada e efetiva do dinheiro. O esquema será replicado em todas as comunidades. A próxima a receber o programa será a Providência, no Centro do Rio, depois Cantagalo, em Ipanema, e, assim, sucessivamente até completar as comunidades já pacificadas e as que vão receber UPP, como o Complexo do Alemão.

A Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos fez um levantamento prévio das atividades econômicas de cada comunidade e, de posse desses dados, a Investe Rio apresenta o programa e seleciona os possíveis candidatos aos créditos.

– Eles confundem muito o microcrédito com financiamentos convencionais do mercado financeiro, que eles temem. Por isso, temos de fazer uma educação financeira através de muitas palestras, mostrando nossas taxas de juro. Aí, quando assimilam o crédito, muitos querem pegar logo o máximo do empréstimo em 12 meses. A gente os convence a fazer por etapa, sem se endividar. No final, acabam levando os R$ 6 mil – explicou a chefe do Departamento de Microfianças da agência, Isabel Belém.

A linha de crédito da Investe Rio oferece empréstimos de R$ 300 a R$ 6 mil, pagáveis em até um ano e cobrando juros de 1,25% por mês, em alguns casos a 1,30%. Segundo Chacur, a ideia é começar com créditos menores e, de acordo com a experiência bem-sucedida, aumentar o valor até atingir o teto.

-Ao atingir esta capacidade de tomar empréstimo de R$ 6 mil, o plano é a pessoa se formalizar e virar um microempreendedor individual e, posteriormente, uma microempresa – detalhou Chacur.| Julia de Brito e Guedes de Freitas/Secom.

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