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07/01/2011 - 11:33

O Rio desvenda o Coração do Brasil no CCBB


Exposição sobre a vida e obra de Cora Coralina chega ao Rio ampliada.

Chega ao Centro Cultural Banco do Brasil em janeiro, em edição revista e ampliada, a exposição Cora Coralina – Coração do Brasil. Depois de uma estreia vibrante em 2009, quando foi vista por mais de 400 mil pessoas no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, a mostra idealizada pela curadora Júlia Peregrino ocupará todo o segundo andar do CCBB e oferecerá ao visitante um mergulho de grande impacto visual no universo de Cora Coralina, nascida Anna Lins dos Guimarães Peixoto – a poetisa, intelectual, comerciante, sitiante, doceira e militante das causas nobres que marcou a vida brasileira por quase um século.

Correspondência, manuscritos, artigos, fotografias e os mais diversos documentos poderão ser vistos e sentidos de várias maneiras. Muitos deles jamais deixaram a Casa de Cora Coralina, espaço memorial instalado na casa em que viveu na Cidade de Goiás, antiga capital e berço da fundação do Estado, que já se chamou Vila Bôa de Goyaz e é mais conhecida pelo nome de Goiás Velho. A cenografia, assinada por Daniela Thomas e Felipe Tassara, funciona como um verdadeiro portal para as sensações que permeiam a presença sempre forte de Cora Coralina na nossa literatura, com sua poesia profundamente ligada à terra e à memória de sua região natal.

Acolhido, na sala principal, por estruturas que remetem às janelas dos casarios da velha Cidade de Goiás e ao gradil da ponte sobre o Rio Vermelho, ao lado da famosa Casa Velha da Ponte, onde Cora nasceu e viveu, o público vai se familiarizar com detalhes que bordaram a sua vida. Quase 200 imagens fazem ecoar um mundo de histórias, como as que ouvia da bisavó Vicência (vó Dindinha), uma das grandes fontes que alimentou, na menina Aninha, como era chamada em família, a memória de passados que não viveu.

Lá estará a criança “feia e triste como um velho nervoso”, de pernas moles, que chorava à toa e sonhava em se casar. A adolescente espremida entre as irmãs bonitas e mimadas, a terceira de quatro filhas, que nem caçula pôde ser, pois veio outra. A menina no banco das mais atrasadas, que só conseguiu aprender alguma coisa nos três anos que freqüentou a escola porque a Mestra Silvina – sua única professora – a punha do seu lado, após as aulas, e tinha paciência com suas dificuldades. A jovem intelectual que publicou seu primeiro texto aos 14 anos e que colaboraria, ao longo da vida, com centenas de jornais em Goiás, São Paulo e várias outras cidades brasileiras. A corajosa mulher que decidiu, em 1911, viver com um homem separado e partiu para São Paulo, onde criou cinco filhos, quatro seus e uma do primeiro casamento do marido. A incansável trabalhadora, como se autodefinia, que vendeu livros da Editora José Olympio de porta em porta na capital paulista e foi comerciante, sitiante, líder de diversas causas, voluntária da Revolução Constitucionalista de 32, batalhou pelo voto feminino e recomeçou a vida aos 67 anos, de volta a Goiás, fazendo doce pra fora para sobreviver. Tudo isso sem jamais se afastar da inconfundível poesia feita de terra, água, tempo e memória, com a qual conquistaria o Brasil inteiro, aos 91 anos. Anna Lins, legítima descendente de Anhanguera, se auto-inventou muito cedo como escritora. Anas, em Goiás, havia às dúzias, por conta da padroeira Sant’Anna. “Por medo de que minha glória literária fosse atribuída a outra Ana mais bonita do que eu”, diz, resolveu encontrar um nome “que não tivesse xará” e, após muita busca, decidiu-se por Cora. “Mas ainda era pouco para mim”, revela, e não descansou até encontrar Coralina e atribuir-se um nome sonoro, marulhante como as águas inconstantes do seu amado Rio Vermelho.

Quando estrelou uma brilhante e emocionada crônica de Carlos Drummond de Andrade no Jornal do Brasil, em 1980, o país enfim se abriu para a obra de uma de suas mais ativas e importantes intelectuais. Foi amiga de Jorge Amado e chegou a receber um agradecimento oficial do Papa Pio XII pelos doces que lhe enviou, por intermédio do arcebispo de Goiás. Na Casa Velha da Ponte, comandou uma pequena legião de colaboradores na produção de doces de laranja da terra, banana, figo e mamão, famosos em toda parte. “Meus doces pode comprar, os livros pode deixar, pois os doces se estragam e os livros não”, brincava a contadora de histórias mais visitada do Brasil, que recebia o dia todo gente ávida pelas delícias que produzia, por um dedo de prosa e um tostão de poesia.

Todas essas Coras estarão no CCBB em janeiro. Em fotos, em luz, em respiração, histórias e poemas. E num vídeo que emana da sala contígua à principal e resume algumas de suas máximas. Cora Coralina, veemente, fala como se não houvesse amanhã, inabalável em sua aparente fragilidade.

No espaço seguinte, uma instalação evoca sensações, percepções, atmosferas. Detalhes “de fora” – o rio e seu marulhar, o doce a ferver – falam de coisas “de dentro” de Cora, ao som de um de seus mais extraordinários poemas memoriais, O prato azul-pombinho. Essa história de infância, dentro da própria história da Aninha que Cora um dia foi, ecoa por todos os lados dentro de nós, singrando, por baixo da pele, um rio tão vermelho quanto o que embalou sua infância e meninice. Visão contemporânea de Daniela Thomas e Felipe Tassara para uma Cora que é de sempre, e que podemos partilhar como “nossa” que, na verdade, é.

Cora Coralina – Coração do Brasil nos leva a uma profusão de essências, sabores, palavras, não-rimas poéticas, força e presença: a mais absoluta presença de Cora. É uma visão instigante e profunda do universo da poetisa e intelectual brasileira entre 1889, quando nasceu, e 1985, ano de sua morte, traduzida em fotos, vídeos, documentos e arquivos que nunca haviam saído da Casa de Cora Coralina, na Cidade de Goiás. A exposição, produzida pela FazerArte, é patrocinada pelo Banco do Brasil e fica em cartaz no CCBB de 11 de janeiro a 13 de março de 2011.

.[Cora Coralina – Coração do Brasil, de 11/01 a 13/03/2011, de terça a domingo, das 9h às 21h, no Centro Cultural do Banco do Brasil, Rua Primeiro de Março, 66 - Rio de Janeiro.Entrada franca. Tel: (21) 3808-2020 | http://twitter.com/CCBB_RJ].

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