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07/01/2011 - 11:56

Visão estratégica para o turismo no Brasil


Constantemente são divulgados números negativos da conta de serviços do balanço de pagamentos brasileiro. Nessas ocasiões, em geral, são apontadas algumas das principais causas desse déficit estrutural, entre as quais, as viagens internacionais a turismo e os gastos com cartões de crédito delas decorrentes. De acordo com os dados disponibilizados pelo Banco Central do Brasil, em 2009 a conta turismo foi deficitária em quase US$ 2 bilhões e, em 2010, entre janeiro e setembro, ela foi responsável por um déficit de quase US$ 3 bilhões, valor equivalente a mais de 10% do déficit do balanço de serviços acumulado nesse interregno e a 40% do déficit de toda a conta de viagens internacionais – que contempla, ainda, as viagens para fins educacionais, culturais ou esportivos; negócios; e por motivos de saúde; além dos gastos com cartões de crédito. Contudo, uma leitura desatenta desses dados pode levar a conclusões equivocadas, como a de que os brasileiros viajam exageradamente para fora do País e/ou que gastam demasiadamente em suas viagens ao Exterior.

Prova disso é que entre 2005 e 2010 a quantidade de turistas brasileiros que realizaram viagens internacionais caiu 21,92%, devendo chegar a 2,86 milhões neste ano, segundo dados do WTTC – World Travel & Tourism Council. Quanto aos gastos com cartões de crédito, os dispêndios dos turistas brasileiros atingirão US$ 7,1 bilhões em 2010, enquanto as receitas mal chegarão a US$ 3,2 bilhões, de acordo com o WTTC. Em 2009, esses valores foram de US$ 6,6 bilhões e US$ 3,2 bilhões, respectivamente, também segundo a mesma fonte. Portanto, entendemos que esses dados refletem, em verdade, a combinação entre fatores conjunturais e estruturais de desestímulo ao turismo interno e, especialmente, ao turismo receptivo internacional no Brasil.

No que tange aos fatores conjunturais, destacam-se a prevalência de uma taxa de câmbio extremamente favorável ao turismo emissivo e a elevada carga tributária. Atualmente, com uma carga tributária de quase 40% do PIB e uma taxa de câmbio em torno da que tem prevalecido nos últimos anos, uma viagem ao Exterior para a compra de alguns poucos bens de consumo pode se tornar gratuita. Afinal, são cada vez mais frequentes os casos de turistas brasileiros que viajam ao Exterior e pagam a passagem aérea (ou boa parte dela) com a economia derivada dos produtos comprados fora do País em relação ao que pagariam se aqui o fizessem.

Já quanto aos fatores estruturais, destacam-se os problemas de infraestrutura (aeroportos, rodovias, portos etc), a violência e a baixa qualidade da prestação de serviços aos turistas estrangeiros. Infelizmente, não são poucos os episódios de turistas estrangeiros vítimas de crimes diversos no Brasil. Não menos importante, muitos municípios e empresas do setor ainda fazem uso de métodos incipientes, quando existentes, de gestão.

De acordo com o WTTC, em 2009 o Brasil recebeu cerca de 4,9 milhões de turistas estrangeiros, e a projeção para 2010 é de que receba cerca de 5,1 milhões. A Argentina, com área territorial e economia muito menores do que a brasileira recebeu, em 2009, cerca de 4,4 milhões, sendo que para 2010 projeta-se 4,6 milhões. Espanha e Itália, dois dos principais destinos turísticos mundiais, são estimados 52,8 milhões e 41,5 milhões de turistas estrangeiros, respectivamente.

Enquanto os turistas estrangeiros representam apenas 20% do total de turistas no Brasil, na Argentina esse número chega a 37%, na Itália passa dos 40% e na Espanha supera 50%. Para 2010, o WTTC projeta um faturamento com o turismo de mais de US$ 106 bilhões na Itália (9,3% do PIB), de quase US$ 109 bilhões na Espanha (15,3% do PIB), contra pouco menos de US$ 53 bilhões no Brasil (5,8% do PIB) e de quase US$ 30 bilhões na Argentina (7,2% do PIB).

Desse modo, à parte as discussões acerca dos custos envolvidos na viabilização e organização da infraestrutura necessária dos grandes eventos que sediaremos em 2014 (Copa do Mundo) e em 2016 (Olimpíadas), está mais do que na hora de pensarmos estrategicamente o turismo no Brasil. Trata-se, como indicado, de um setor que precisa ser mais bem aproveitado pela sociedade brasileira, ante seus múltiplos e potenciais efeitos positivos, entre os quais a geração de divisas, o estímulo aos investimentos e a geração de empregos. Por essas e outras razões, trata-se de um setor que, se bem administrado, pode propiciar efeitos positivos diversos para a sociedade.

. Por: Braulio Oliveira, professor de mestrado em Administração do Centro Universitário da FEI (Fundação Educacional Inaciana) e doutor em Administração pela FEA/USP; e Giuliano Contento de Oliveira é professor doutor do Instituto de Economia da Unicamp (IE/Unicamp).

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