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04/02/2011 - 09:03

Contingenciamento do crédito em 2011: bom seria gerar a redução da liquidez e ver reduzir o crédito

A ideia chegou de surpresa e permeada pelos ventos da política, dadas as promessas de campanha. Foi recebida com descrença e, entretanto, parece estar se consolidando como uma estratégia monetária inovadora no país. Nova não é, mas contém a curiosa suposição de que as altas de taxas de juros já não têm a mesma eficácia no tratamento dos preços. Melhor seria, nesse caso, promover a redução da liquidez do sistema e simultaneamente, reduzir a expansão do crédito. Para isso promoveu-se o enxugamento da liquidez R$61 bilhões, por meio do aumento de 20% sobre os compulsórios mantidos no Banco Central.

Adicionalmente o Bacen solicitou maior comprometimento de capital dos bancos nas operações de crédito ao consumidor, tendo em vistas os prazos muito longos das operações e o consequente crescimento de seus riscos. No final de dezembro, o BIS – Banco de Compensações internacionais alertou sobre os riscos do crescimento acelerado do crédito no país. Anunciou haver concluído pesquisa sobre o uso do crédito em 26 economias. A principal conclusão do trabalho fêz do Brasil o país com maior expansão do crédito, apenas acompanhado pela Coreia do Sul e Cingapura. Espera-se a partir do final desse mês, pelo início do crescimento da inadimplência.

O Banco Central do Brasil reagiu com indignação apenas protocolar. Arguiu a estabilidade monetária e as mudanças estruturais da economia nacional. Foram elas que, segundo o Bacen, permitiram a expansão creditícia. Então, o que há a temer? O rápido processo de expansão endividou a família brasileira e comprometeu parte não desprezível de sua renda. Nos dez últimos anos, a atividade creditícia cresceu a uma taxa nominal média de 15,7% ao ano, alcançando, em 2007, a maior taxa de nossa história econômica, 31,2%. Esse crescimento foi mais concentrado, em classes sociais de menor rendimento, não bancarizadas e inexperientes na administração de suas rendas futuras.

Na crise mundial de 2008, o volume de crédito recuou para praticamente a metade, 15,2% e fechou o ano de 2010, com mais 20% de crescimento sobre o ano anterior. No mês de outubro, os dados oficiais apontaram que mais de 29% das famílias encontravam-se endividadas e que, nesse momento, haviam comprometido nada menos que 23% de sua renda com pagamentos de empréstimos.

Esse ponto obriga a pensar sobre a acelerada velocidade dessa expansão. Enquanto a renda estiver crescendo à velocidade maior que o crédito não haveria, pelo menos em tese, razões para maiores temores. Mas, todas as previsões têm levado a conclusões contrárias. Os ajustes da contas públicas pedem medidas de cortes no custeio e um retardamento dos investimentos governamentais. São medidas restritivas que produzirão a redução das taxas de crescimento do PIB nacional e uma menor oferta de empregos à população. Em outras palavras, as políticas de emprego e de renda devem sofrer comprometimentos. O quase pleno emprego vivido no atual momento deverá recuar.

A oferta de trabalho será menor e os salários devem recuar ou parar de subir tão fortemente. Rendimentos tão comprometidos com empréstimos podem pedir ajustes no âmbito das famílias e a inadimplência certamente crescerá a partir de janeiro.

O Que fazer diante desse quadro? O Banco Central do Brasil não tergiversou. Indignações protocolares à parte optou por medidas macro-prudenciais, aumentando as exigências para o crédito às pessoas físicas, com prazos maiores de 24 meses e ampliou o depósito compulsório em R$ 61 bilhões. No mercado financeiro as consequências mais imediatas foram o encarecimento dos empréstimos, pela menor liquidez, e a maior da capitalização dos bancos para essas operações, que subiu dos 11% para os 16,5%. De fato, o Bacen já havia se antecipado à recomendação do BIS de reforçar o capital dos bancos brasileiros.

As regras da Basileia estabelecem apenas um capital de 8% dos ativos ponderados pelo risco. Estamos com exigências nacionais que são mais dobro da recomendação internacional. Mas não vamos nos iludir, porque a estrutura do crédito no Brasil está muito centrada no consumo e nas populações de rendas inferiores. Imóveis representam apenas 3,5% do PIB, automóveis foram financiados por prazos extremamente longos.

A recomendação do BIS, embora muito própria, chegou tarde. A essa altura o Bacen já limitou as condições de liquidez e diminuiu o ritmo do crescimento do crédito ao consumidor. Isso não descarta, entretanto, novas altas na SELIC neste ano de 2011.

No curto prazo as medidas trazem impactos negativos ao sistema financeiro. A redução na liquidez obriga maior comprometimento de capital nos créditos ao consumidor, com vencimento mais longo. Os spreads deverão, então, ser recompostos, pois claramente os volumes e as quantidades de operações irão se reduzir. Aumentos das taxas de juros praticadas pelos bancos devem compensar, em grande medida, a pressão sobre os spreads.

Mesmo mais sólido, no curto prazo, alguns ajustamentos serão requeridos. Redução dos custos operacionais no atendimento físico nas agências, revisão dos índices que aferem a qualidade de seus ativos, aumento nas necessidades de provisões, revisão das políticas de tarifas, revisão das margens de intermediação financeira e dos spreads, aperfeiçoamento dos portfólios de ofertas de créditos, avaliação dos riscos do aprofundamento nos segmentos de pequenas e médias empresas e a ampliação das economias de custos e das sinergias nos processos de fusões e de aquisições recentes.

Nesse ano as reversões contábeis da conta de devedores duvidosos não serão possíveis. Tempos piores estão por vir, mas se encontrarão com um sistema financeiro nacional sólido, competitivo e saudável.

. Por: Celso Grisi, diretor presidente do Instituto de Pesquisas Fractal, empresa especializada em pesquisas financeiras. | Perfil- Fractal – Forma, Acaso e Dimensão: Empresa 100% nacional, com mais de 20 anos de atuação no mercado brasileiro, figura entre as melhores empresas de pesquisa e consultoria de negócios do Brasil. A Fractal é especialista em pesquisas de mercado, tratamento de informações, treinamento (transferência de know-how) e desenvolve anualmente os Painéis da Indústria Financeira – P.I.F., que analisam a movimentação do setor no Brasil. Tradicionais, os painéis apuram dados que vão desde a imagem institucional dos bancos pesquisados até a avaliação dos produtos oferecidos/lançados, a seus clientes “Pessoa Jurídica” e “Pessoa Física”, comparando resultados de diferentes instituições em todo território nacional, ao longo do tempo.

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