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16/03/2011 - 19:10

As “temidas” reuniões em condomínios

Há muito tempo que moradores, administradores, advogados e até psicólogos tentam entender o que ocorre nas reuniões de condomínios. Que razões ou motivações as tornam tão “assustadoras” ou, no mínimo, “desagradáveis”. Nós, profissionais da área condominial, tentamos realizar estudos sobre quais os principais temas que geram discussões e até mesmo uma repulsa nesta Assembléia Geral de condomínio. Algumas conclusões iniciais podem ser destacadas: vagas na garagem e assuntos relativos a numerários (valores de condomínios e obras) são as campeãs de discórdia. Mas mesmo assim não dá para afirmar o quê e quando uma reunião de condomínio se inflama.

Gilberto Freyre, um dos intelectuais brasileiro do último século, em sua obra marcante “Casa-Grande & Senzala” destaca que “casa” é mais do que o local de moradia. É também, local de diversão, escola, banco, hospital, igreja, hospício, e o que mais se deseje. É certo então destacar que a nossa residência será o que desejarmos e o que dela fizermos. É imperioso entender que a nossa “casa” não tem seus limites restritos as paredes de nosso apartamento, quando estamos em um condomínio residencial. Muito pelo contrário, os limites são muito mais amplos que esses. O playground, o elevador, a portaria, a escadaria, o salão de festas e todas as áreas e equipamentos que compõe o todo, são a extensão de nossa propriedade. Sob esse prisma e com esse espírito devemos coabitar em condomínio.

Fato é que não existem manuais de “sobrevivência” de participação em Assembléias Gerais de condomínios. Ou seja, não existe uma regra geral para uma boa gestão do síndico. Por esse motivo, muitas vezes, a relação entre síndico e morador fica desgastada ao ponto da reunião de condomínio ser uma coisa “temida”. O próprio síndico, principalmente no final de sua gestão, deixa de participar e incentivar estes encontros, o que é um erro grave. Isso porque tudo o que este síndico conseguiu planeja melhorar no condomínio tendem a ficar esquecidas e desvalorizadas.

Vale destacar que empresas bem sucedidas valorizam as lições e aprendizados de todos os seus presidentes. No condomínio não pode ser diferente. É necessário valorizar o trabalho de cada síndico e a participação de cada morador nas reuniões. O trabalho coletivo e duradouro facilitará as novas gestões e será benéfico para o bem de todos os moradores. Um condomínio sob nova direção tem o direito de decidir a seguir novos rumos e este novo caminho será facilitado se o que já foi realizado tiver o apoio de todos.

Não devemos trazer para as Assembléias Gerais animosidades pessoais e tratar assuntos que não digam, respeito à coletividade. É desrespeitar os demais membros, que igualmente pretendem discutir temas que alterem a rotina de sua família ou interferem diretamente na valorização de seu patrimônio. As diferenças individuais devem ser tratadas isoladamente, e se não solucionadas, devem ser tratadas em outras esferas. Temos presenciado reuniões que comparecem advogados de partes opostas e “cansam” todos com seus eloquentes discursos. Impressionante, mas totalmente desnecessário, pois somente na Justiça poderão resolver seus problemas. E a Assembléia não pode ser obstruída de fazer o seu papel fundamental: discutir e deliberar assuntos de interesse geral.

As constantes discussões infrutíferas só afastam aqueles que pretendem solucionar e planejar os problemas do condomínio. E, assim, as reuniões de condomínio tornam-se cada vez menos frequentes. Os resultados são, invariavelmente, desastrosos, onde poucos acabam decidindo o destino de muitos. E nem sempre esses poucos são as pessoas mais abalizadas para decidir o destino do patrimônio de muitos.

Portanto, é hora de rever alguns conceitos e comportamentos e, sobretudo tirar algumas lições. As assembléias têm que ser frequentes, mas objetivas. Devem ser discutidos poucos assuntos de cada vez. Assuntos particulares devem ser debatidos fora da pauta e discutidos pelos envolvidos. A pauta da reunião deve ser disponibilizada antes das reuniões, para que possa examinada e, assim agilizar as questões e resoluções sobre os temas a serem debatidos.

Torna-se óbvio, mas sempre necessário relembrar, que as votações das reuniões condominiais são democráticas e nem sempre unânimes. Ou seja, a parte que teve sua vontade não aprovada deverá respeitar a vontade da maioria. Isso é democracia, e assim vive-se em comunidade. Acompanhar a evolução dos acontecimentos e das decisões é dever de todos. Mas o espírito deve ser agregador. Isso é participar e contribuir com a comunidade, em todos sentidos: ampliar as benfeitorias e preservar o patrimônio comum.

Krishnamurti, pensador indiano contemporâneo, em suas reflexões expressa que a solução dos problemas da sociedade não depende exclusivamente das leis:

“O homem vive procurando novas formas de governo, novas leis sociais, supondo que a reforma das fórmulas externas lhe resolverá os problemas, esquecendo-se, todavia, de que ele é que precisa reformar-se, sendo mais humano, mais compreensivo e mais leal. Quando ele se reformar não precisará de lei ou de suas reformas”.

Que compreendamos que só é possível a tão desejada harmonia na vida em condomínio, quando o esforço em seu favor for despendido por todos que a ele pertencem.

. Por: Gabriel Karpat, diretor da GK Administração de Bens Ltda e consultor do escritório Karpat Sociedade de Advogados. [email protected] | www.gk.com.br

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