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16/03/2011 - 19:18

Procura-se um culpado. É você?

A Rede Record foi condenada a pagar exorbitantes R$ 25 mil de indenização à testemunha de um assalto ocorrido em um shopping do Rio de Janeiro. Na reportagem do “Balanço Geral”, apresentado por Wagner Montes, a testemunha simplesmente foi mostrada como suspeita de ter cometido o roubo. Ela procurou a Justiça, ganhou em primeira instância e a sentença foi mantida em segunda instância pelos desembargadores da 10ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio. Segundo os desembargadores, houve falha na apuração da matéria. Ainda cabe recurso, mas, pela gravidade da situação, tudo indica que a Record perderá. Imagine você aparecer em rede nacional, na televisão - o maior veículo de comunicação do País - como bandido. Um pesadelo, né?

Quem foi o culpado por esse erro grotesco? Talvez o apurador que, como o nome do cargo sugere, é o responsável por apurar notícias. E apurar significa checar a veracidade dos fatos, ouvir todos os lados envolvidos na história e, tendo certeza absoluta de que tudo está correto, aí sim passar as informações para a chefia de reportagem, os editores e o repórter. A importância do trabalho é tanta que o apurador deveria assinar embaixo do que escreve e colocar a impressão digital. Mas é possível que a emissora tenha contribuído para que essa falha ocorresse. O erro pode ser analisado por três prismas.

O primeiro é que algumas emissoras de televisão e veículos impressos, por economia, costumam colocar estagiários para exercer a função de apurador. “Ei, você aí! Senta lá e apura!” O jovem universitário obedece. Mas coitado, não tem a manha, a experiência e a malícia para ocupar tal cargo. É apenas uma mão de obra barata que, como estagiário, está ali, lógico, para aprender e não para assumir grandes responsabilidades.

No segundo, temos que reconhecer que apuradores, como todos os profissionais, podem cometer falhas – por descuido ou descaso. Se os erros se repetirem frequentemente, não tem jeito mesmo: é demissão.

O terceiro prisma é a busca acirrada pela audiência, pelo furo de reportagem. Todos os jornalistas são cobrados, pelos patrões, por cavar notícias e divulgá-las em primeira mão. “O Ibope tá caindo, arruma alguma coisa! Liga para os bombeiros, para a polícia, se vira!” Sob forte estresse e na pressa, muitos apuradores feras acabam cometendo equívocos desastrosos.

Uma emissora de televisão, por exemplo, transmitiu ao vivo, inclusive para outros países, as chamas resultantes da provável queda, ao lado do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, de um avião da Companhia Aérea Pantanal. Na verdade, nenhum avião caíra. Tratava-se apenas de um incêndio em uma loja de colchões. Um vexame...

A notícia da morte da jovem Eloá, assassinada pelo namorado, foi dada, em edição extraordinária por um canal de TV aberta. Ela infelizmente morreu mesmo, mas bem mais tarde. Não foi um caso de vidência do apurador, foi a maldita correria para ser o primeiro a informar. Após alguns minutos, o telespectador ouviu que Eloá ainda estava viva. Ressuscitou?

Quando eu chefiava a ASCOM de uma Secretaria Estadual do Rio de Janeiro, um colunista publicou que, apesar da campanha contra a dengue realizada pelo Governo, uma pessoa do primeiro escalão contraíra a doença. Ninguém me telefonou para confirmar a notícia – que era falsa. Entrei em contato com a Redação, a nota foi desmentida no dia seguinte, mas não acreditaram na correção. Jornalistas de outros veículos continuaram nos procurando para saber como estava “o doente”. Quem quase ficou doente fomos nós...

Assim, enquanto os veículos de comunicação não entenderem que economizar em salários pode sair caro, que cobrar ao extremo induz ao erro e que o importante não é apenas dar o furo, mas também que ele seja verdadeiro, continuaremos ouvindo “desculpe a nossa falha” e lendo “erratas”.

Finalmente, a Rede Record recebeu uma multa de R$ 25 mil. Muito pouco para quem causou tantos transtornos a alguém.

. Por: Vera Lucas, jornalista graduada pela UFRJ em 1981 e pós-graduada em Docência Superior (Estácio de Sá/2.000). É professora universitária de Comunicação Social para graduação e pós-graduação e é autora dos livros “Introdução ao Jornalismo”, “O texto para a Mídia Eletrônica” e “Comunicação Comunitária”, publicados pela Faculdade CCAA Editora. Já trabalhou em diversas redações de revistas, jornais e TVs atuando como repórter, redatora, editora de texto e roteirista. Foi também chefe da ASCOM da Secretaria de Estado de Educação.

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