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01/04/2011 - 13:30

O drama da especialização médica

Há muito tempo venho observando o movimento oscilatório que o Brasil vive na área educacional. Por vezes chego a ter vertigem, e acredito que nem mesmo as autoridades do Ministério da Educação – que são os que ditam as regras - saberiam explicar a atual situação. O aumento impulsivo do número de faculdades e universidades chega a deixar os nossos jovens confusos. Além da natural indecisão com a escolha profissional, agora eles também são abatidos com as inúmeras opções de instituições de ensino superior.

O panorama é assustador. Comparativamente, é como espalhar sementes com potencial germinativo em concreto armado. Estes jovens fazem o Enem – Exame Nacional do Ensino Médio - (não é preciso nem comentar da desorganização), vestibulares e enfrentam longos anos de graduação. Mas, e depois? Depois que formam, estes profissionais são literalmente jogados no mercado de trabalho, que, a cada dia, exige mais e mais especializações.

Outro dia parei para fazer uma análise estatística superficial. Consultando sites do Governo, procurei saber sobre a situação em que se encontram os estudantes que escolheram a medicina como profissão, um dos cursos mais caros e concorridos do país. Analisei primeiro o número de vagas oferecidas em todo território nacional. Se levarmos em consideração as regiões, podemos assim destacar: na região Norte são 802 vagas; Nordeste – 3.636; Centro-Oeste – 1.340 vagas; Sul – 1.756 vagas, e Sudeste – 9.674 vagas.

Esses números significam que todos os anos formam no Brasil cerca de 17.604 médicos por ano. Até aí não vemos problemas, já que os currículos foram ajustados para as faculdades formarem profissionais generalistas, que poderão exercer a medicina nos PSF’s – Programa Saúde da Família. Mas, a realidade não é só esta. Mais uma vez, procurando nas estatísticas, me deparei com algo realmente grave. Em todo o país são oferecidas apenas 6392 vagas de residência médica para todas as especialidades aprovadas pelo Conselho Nacional de Residência Médica (retirando os vencidos e cancelados). Em síntese, em 10 anos, serão mais de 112 mil médicos sem residência no Brasil.

Todo cidadão tem o direito de fazer uma especialização e manter-se atualizado. Mas o recém-formado em medicina hoje no Brasil não tem muitas opções. Apesar do enorme interesse em continuar estudando e se capacitar, resta a este profissional apenas o caminho do Programa Saúde da Família. Portanto, o que vemos, é a usual prática de encaminhamento de pacientes para outros serviços. Ou seja, mais uma vez a população é prejudicada.

Isto me faz lembra Paulo Freire: “O conhecimento não se estende do que se julga sabedor até aqueles que se julga não saberem; o conhecimento se constitui nas relações homem-mundo, relações de transformação, e se aperfeiçoa na problematização crítica destas relações.” (FREIRE, 2006: 36).

. Por: Raquel Virginia Rocha Vilela MsC. PhD, Sócia e diretora do ISMD (Instituto Superior de Medicina e Dermatologia) / Professora da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais / Professora adjunta da Michigan State University / Membro da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas

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