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20/04/2011 - 10:29

Museu a céu aberto

Livro resgata a história e a importância do Jardim da Luz, o mais antigo parque público de São Paulo.

Construído a partir do horto botânico, um viveiro de mudas de plantas, de 1798, o Jardim da Luz foi o principal centro de convivência urbana até o final dos anos 1920, quando se iniciou sua decadência. No ano 2000, passou por uma grande restauração que devolveu ao local sua beleza arquitetônica e paisagística. O arquiteto e designer gráfico Ricardo Ohtake e o historiador Carlos Dias, dois dos principais responsáveis por essa reforma, escreveram Jardim da Luz – um museu a céu aberto, publicado pela Editora Senac São Paulo e Edições SESC SP.

O lançamento conta a trajetória do parque e seu valor, além de registrar os trabalhos, os conceitos e estudos do restauro promovido durante a gestão de Ohtake como secretário do Verde e Meio Ambiente de São Paulo (1998 a 2001). Ao documentar todo esse processo e a importância social do espaço para o lazer, os autores recompõem também a história da cidade de São Paulo. O título é uma referência à nova política introduzida para o Jardim da Luz, em 1998, segundo a qual o local foi considerado um museu a céu aberto, com edificações, paisagismo, fauna e flora, compondo um acervo permanente no coração da capital paulista.

O livro foi organizado como uma cronologia da trajetória do jardim, apresentando dados sobre o parque, o bairro da Luz, o crescimento urbano e cultural da cidade e a diversidade botânica do local, além de textos analíticos e reflexões de pesquisadores que abordaram a temática dos jardins públicos em seus trabalhos.

Para tornar a obra uma leitura agradável e leve, os autores optaram por um projeto gráfico pouco comum, mas surpreendente ao olhar do leitor. Ohtake criou uma linha do tempo, na qual são intercaladas imagens e informações históricas em cores: o vermelho destaca dados sobre o desenvolvimento do município e do bairro da Luz e o preto apresenta as informações sobre o jardim. As citações de autores e especialistas foram colocadas em boxes, que passeiam pelas páginas. Ao todo, estão reunidas 400 imagens, antigas e recentes. “A ideia é dar uma cara contemporânea, de forma que seja gostoso de ver. Os textos curtos mesclados às fotos permitem que se aprecie o livro aos pedaços”, afirma o arquiteto.

As origens do horto e sua evolução social e cultural - Com textos do historiador Carlos Dias, a obra mostra o nascimento do bairro da Luz e do jardim público. A escolha do local para a criação do horto foi influenciada pela tradição cultural centenária que a região da Luz carregava. “Segundo relatos dos jesuítas, a região se desenvolveu em torno de uma velha trilha indígena, o caminho do Guaré, na qual foi instalada a imagem de Nossa Senhora da Luz, um dos símbolos católicos mais antigos na cidade. Na área já eram realizadas procissões, paradas militares e corridas de cavalo”, aponta Dias.

São descritas em detalhes todas as mudanças pelas quais passou o local, como a transformação em jardim público, em 1825, e a história dos principais monumentos e construções arquitetônicas do parque, como o lago da cruz-de-malta, o coreto e a casa de chá. Ao falar desses aspectos, os autores contam também a relação do local com a população e como fonte de lazer, o que foi se perdendo com sua decadência, a partir de 1920. “Entre as atrações culturais promovidas lá, registraram-se apresentações de bandas, bailes, feiras e as primeiras exibições de inventos científicos na cidade, como a luz elétrica. Foi ainda alvo de manifestações políticas”, conta o historiador.

A arquitetura local e o restauro - Ao longo do livro, pode-se observar a importância arquitetônica do Jardim da Luz, sobretudo quando os autores detalham o restauro realizado, há 11 anos. O parque sobrepõe os estilos barroco e paysager, formando um conjunto eclético de gramados, canteiros, árvores centenárias, grutas e fontes, entre outros. Com o processo de degradação, quase todo o parque estava comprometido, muitas edificações poderiam ruir, longas raízes ameaçavam a flora e até as fundações.

No ano 2000, constatou-se que os reparos eram inevitáveis. Na época, ao lado de Carlos Dias, então seu chefe de gabinete, Ohtake, promoveu a maior restauração feita nos últimos 90 anos. “O mato invadia todos os espaços, não havia qualquer intervenção há pelo menos 50 anos”, afirma o arquiteto. A partir de um projeto do início do século XX, foram recuperados caminhos, calçamentos, canteiros, gradis, o coreto, a casa de chá, a cruz de malta e a gruta, e recomposto o piso original, entre outros. Com técnicas de arqueologia urbana, ressurgiram velhas atrações, foram encontrados um aquário centenário e as fundações de uma torre de 20 metros de altura, construída em 1874, chamada Canudo de João Deodoro, o primeiro arranha-céu da cidade.

Ao final da obra, há uma parte dedicada à fauna e à flora do parque. É possível ver uma grande diversidade de plantas, algumas com mais de 100 anos, como a jaqueira, o cipestre-do-japão e o cedro. Entre os animais que vivem no jardim estão bem-te-vi, sabiá e bicho-preguiça.

Sobre os autores - Carlos Dias é historiador e doutor pela Universidade de São Paulo (USP). diretor do Acervo Histórico da Assembleia Legislativa de São Paulo. Professor universitário da Facamp (Campinas). Foi assessor parlamentar na Secretaria de Estado de Cultura, de 1992-1995, e chefe de gabinete da Secretaria do Verde e Meio Ambiente do município de São Paulo. Presidiu o Comitê de Cultura da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), em 2002.

Ricardo Ohtake foi secretário de Estado da Cultura de São Paulo, dirigiu o Centro Cultural São Paulo, o Museu da Imagem e do Som (MIS) e a Cinemateca Brasileira. Formou-se em arquitetura pela FAU (USP) e trabalhou em importantes questões urbanas, mesmo quando foi secretário do Verde e Meio Ambiente do município de São Paulo. Atua também na área de design gráfico, desenvolvendo projetos de identidade visual e caracterização urbana, além de editar várias publicações de arte e cultura. É hoje diretor do Instituto Tomie Ohtake.

.[Jardim da Luz – um museu a céu aberto| Editoras: Senac São Paulo / Edições SESC SP| 240 Páginas | Preço: R$ 60].

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